Minicarro Romi-Isetta completa 55 anos e ainda guarda segredos
Repórter teve acesso aos projetos do 1º automóvel feito em série no Brasil.
E experimentou o compacto por ruas do interior de São Paulo.
Desenhado pelo italiano projetista de aviões Ermenegildo Pretti, a Romi-Isetta traz diversos conceitos adotados na aviação. A porta (única e que abre para frente, arrastando a coluna de direção e o volante) é inspirada nos aviões cargueiros, e não nas portas de geladeiras, como alguns acreditam. A ampla área envidraçada também imita o estilo adotado nos aviões de guerra. Já as linhas arredondadas traduzem as formas de uma gota de chuva.
O G1 passeou com uma Romi-Isetta equipada com motor BMW (Foto: Lucas Furlan Ribeiro/Fundação Romi)
Entre 1956 e 1958, a Romi-Isetta utilizou motor Iso de dois cilindros (dois tempos) a gasolina que gerava 9,5 cv. A partir de 1959, o bloco passou a ser um BMW de quatro tempos de 13 cv. A transmissão, em ambos os casos, era manual de quatro marchas. A velocidade máxima é de 85 km/h e o consumo fica em 25 km/l. De acordo com Eugênio Chiti, filho de Carlos Chiti, um dos responsáveis por trazer o modelo para o Brasil, as pessoas acham que o propulsor é igual aos das lambretas. "Esse motor é diferente. Ele é mais robusto, já que foi feito para um carro", explica.
Durante rápido passeio como carona em um exemplar pelas ruas de Santa Bárbara d'Oeste (SP), a Romi-Isetta mostrou-se ligeira e rápida nas respostas, afinal, são apenas 350 kg. O motor é pouco barulhento - andamos na versão quatro tempos (BMW) -, mas longe de incomodar. A suspensão, por sua vez, é rígida demais, fundamental para a boa estabilidade de um veículo de medidas tão reduzidas.
Romi-Isetta pesa apenas 350 kg e tem câmbio de 4 marchas (Foto: Lucas Furlan Ribeiro/Fundação Romi)
Pequeno ícone
Entre os anos de 1956 e 1961 foram fabricadas cerca de 3 mil unidades do carrinho em um galpão de 25 mil m² das Indústrias Romi, em Santa Bárbara. A Romi-Isetta era para apenas dois ocupantes (alguns falam em três) e tinha como objetivo atender às necessidades da população europeia, que buscava se reerguer após a Segunda Guerra Mundial. Pequeno e com um motor que fazia até 25 km/l de combustível, ele era tudo o que italianos, franceses, espanhóis e alemães podiam comprar além das bicicletas e das motonetas.
Unidades da Romi-Isetta desfilam no estádio do Pacaembu (Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
"Tudo começou com meu pai (Carlos Chiti) que, lendo uma revista italiana, encontrou um artigo falando sobre o Iso-Isetta, feito pela italiana Iso”, revela Eugênio, empresário que ainda atua junto à Romi. “Ele percebeu que era um carro que poderia ser feito no Brasil, já que a produção era rápida e de baixo custo. Ele então apresentou a ideia para o senhor Romi, que prontamente aceitou”.
Giovanni Budroni, ex-funcionário que trabalhou na linha de montagem da Romi-Isetta, e Eugênio Chiti, filho de Carlos Chiti, um dos responsáveis por trazer o carro ao Brasil (Foto: Lucas Furlan Ribeiro/Fundação Romi)
Foram importadas duas unidades do modelo – ambas na cor branca – para que fossem estudadas detalhadamente. “A população de Santa Bárbara conheceu com um ano de antecedência aquele que viria a ser o primeiro carro fabricado no Brasil”, exalta o historiador Antonio Carlos Angolini, de 65 anos. Domenico Stragliotto, piloto de testes italiano, foi enviado pela Iso para ajudar no desenvolvimento.
Linha de montagem do Romi-Isetta era em Santa Bárbara d'Oeste (SP) (Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
Fabricação
A intenção da Romi não era produzir todos os componentes do supercompacto, mas encontrar, dentro do possível, parceiros para a produção de determinadas peças e desenvolver a indústria local. A Tecnogeral, uma empresa que na época fazia móveis de aço, tinha o ferramental para fazer as carrocerias. Elas eram feitas e pintadas em São Paulo e seguiam para Santa Bárbara apenas para serem acopladas ao chassis na linha de montagem. Como a indústria brasileira não tinha a capacidade de produzir os motores em alumínio que a Iso fabricava, os propulsores, assim como o câmbio de quatro marchas, eram importados da Itália.
Uma das ações promocionais da Romi-Isetta
aconteceram nas pisyas de competição
(Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
aconteceram nas pisyas de competição
(Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
Primeira Romi-Isetta começa a funcionar
“Às 11h30 do dia 30 de junho de 1956 foi dada a partida do primeiro Romi-Isetta na linha de montagem", conta Angolini. "E sabe o motivo pelo qual não foi ligado um dia antes? Pois 29 de junho era feriado e aniversário do comendador Emílio Romi.”
O lançamento oficial aconteceu dia 5 de setembro de 1956, em São Paulo. Naquela oportunidade, 16 unidades saíram de uma concessionária da marca na rua Marquês de Itu, na região central, e circularam pelas principais ruas e avenidas da capital. O governador Jânio Quadros recebeu a carreata e disse: “Honra a nossa indústria, honra São Paulo e honra os brasileiros um carro como esse”, de acordo com informações da Fundação Romi.
Romi-Isetta teve aproximadamente 3.000 unidades
fabricadas (Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
fabricadas (Foto: Arquivo/Cedoc Fundação Romi)
Em 1957, as indústrias Romi já estudavam a possibilidade de uma parceria para alavancar a produção e a venda do Romi-Iseta. A Iso já havia negado uma parceria por falta de recursos financeiros. Quem acenava positivamente era a BMW, empresa que após a guerra também fabricava o Romi-Isetta , já que seus carros grandes e caros não cabiam no bolso do europeu.
Segundo Eugênio, as primeiras conversas com os alemães foram promissoras. “A BMW iniciou as negociações para produzir o carro aqui no Brasil. A Romi chegou a comprar um terreno na cidade (50 mil m²) para construir uma linha de montagem que transformaria o Romi-Isetta em um carro de grande escala”, detalha o filho de Carlos Chiti.
“Uma nova crise na Europa, porém, fez a BMW recuar e desistir das operações. E no local onde seria erguida a nova unidade fabril foi construída a Fundação Romi”, completa.
Caso a parceria fosse concretizada, além de elevar a produção para algo em torno de 5 mil carros por ano, a Romi teria novos modelos: a picape Romi-Isetta, para 250 kg de carga útil; picape Romi-600, para cargas de até 600 kg; furgão Romi-600, também para cargas de 600 kg; e Romi-BMW 600, com espaço para quatro passageiros, com duas portas e com velocidade máxima de 95 km/h.
Em 1959, quando a Romi-Isetta estava no auge, a Romi passou a utilizar os motores da BMW. Neste período - não é possível precisar exatamente o ano -, a empresa precisava tomar uma decisão importante: continuar a produção ou descontinuar o modelo. Uma coisa, no entanto, estava clara: seguir sozinha não era possível.
Sem a parceria desejada, o caminho natural foi encerrar as atividades. “Como todo produto, a Romi-Isetta teve seu período de declínio. E sua fabricação foi programada para se encerrar em 1961”, revela Eugênio, que admite que devido a produção quase que artesanal fez o Romi-Isetta “deixar de ser um Tata Nano para se transformar em um Smart”.
Curiosidades
O que poucos sabem, é que em setembro de 1959 a francesa Citroën chegou a negociar com a Romi uma joint venture para produzir o Romi-Isetta. A união chegou a ser noticiada no semanário da cidade, o "Jornal D’Oeste" com a seguinte manchete: “Grande Indústria em nossa cidade”. “O interessante é que o jornal já anunciava a seleção de trabalhadores”, lembra o historiador. Há registros que a Land Rover também cogitou uma parceria com a Romi.
Muitos ficam em dúvida se é 'a' Romi-Isetta ou 'o' Romi-Isetta. Considerando que se trata de um automóvel, o correto é dizer 'o' Romi-Isetta. Mas o tempo e a história fizeram com que o carro passasse a se chamar 'a' Romi-Isetta.
Fonte: G1
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