Essa conversa de que os europeus e norte-americanos, entre outros, estão na Líbia para ajudar os rebeldes a livrar o povo do "ditador" Kadhafi e restaurar a democrcia é, como diria um manezinho da Ilha, com a sua franqueza e rudeza características, "mais velha que a posição de cagar".
Só um ingênuo acreditaria nos falaciosos argumentos das potências e seus asseclas da mídia tradicional. Não que os dirigentes orientais sejam "santos", mas, em outros tempos, quando atendiam às demandas das empresas ocidentais por vultosos lucros, não eram rotulados como "ditadores".No Brasil, com Getúlio, acontceu o mesmo: quando criou empresas estatais (inclusive a PETROBRÁS) e contrarirou os interesses das multinacionais, passou a ser rotulado como totalitarista, ditador, etc...e acabou morto.
Derrubaram o Sadam, do Iraque e o mataram porque se opunha, historicamente aos interesses das empresas (principalmente do petróleo) ocidentais na região e o mesmo estão fazendo com o governante Líbio, da Síria e qualquer outro que se oponha aos seus ganhos.
Essa corja de empresários gananciosos e seus aliados colocados nas gestões dos países que sediam as empresas multinacionais pensam que todos os outros cidadãos do mundo são otários. Pois sim!
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Revisão de imprensa
"Líbia: Fim das operações aéreas".
Herrmann
Por trás do entendimento revelado pelos participantes na conferência de Paris sobre a “nova Líbia” desenrola-se uma guerra clandestina entre França, Itália e Reino Unido pela exploração dos recursos daquele país, tal como referem os jornais franceses, italianos e britânicos.
Seis meses após o início das hostilidades contra o regime de Mouammar Kadhafi, Nicolas Sarkozy e David Cameron convidaram para Paris os representantes de sessenta países e ONG e os do Conselho Nacional de Transição da Líbia para marcar o fim das operações militares e definir a transição política e a reconstrução da “nova Líbia”. Em pano de fundo, a avidez pelo maná do petróleo líbio.
O Libération fala de uma “prova de fogo vitoriosa na Líbia, que aproxima novamente a França de um novo mundo árabe” e de uma “blitzkrieg diplomática reforçada por uma audaciosa aposta militar”. Uma aposta com a qual “as empresas petrolíferas francesas vão poder lucrar bastante”, acrescenta. “Em todo o caso é o que ficou escrito, preto no branco, num documento a que o Libération teve acesso. Um texto assinado pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), a autoridade de transição criada pelos rebeldes líbios. De facto, foi público e notório que os países mais envolvidos com os insurrectos seriam mais considerados pelo CNT quando chegasse a ocasião, nomeadamente em questão de contratos petrolíferos de vulto. Mas o documento prova claramente que os acordos oficiais tinham sido feitos há vários meses”.
De facto, explica o diário, desde o dia 3 de abril, 17 dias depois de ter sido aprovada a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, o CNT assina uma carta dirigida ao emir do Qatar, que serviu de intermediário entre a França e o CNT, na qual determina que o acordo sobre o petróleo com a França, em troca do reconhecimento do CNT como representante legítimo da Líbia, atribui 35% do total do petróleo bruto aos franceses.
Itália teme ser obrigada a abandonar a Líbia
O triunfo diplomático francês e o seu corolário energético inquietam fortemente a Itália. Admitida posteriormente na coligação entre Paris e Londres, a antiga potência colonial receia estar agora excluída da partilha do “bolo” líbio. Que acontece então à Itália, “que foi o primeiro parceiro económico da Líbia e que estava ligada a ela por um tratado de amizade assinado à custa de uma má aliança?” pergunta La Stampa. “Uma Itália que fica hoje em segundo lugar, com o ENI [a autoridade nacional de hidrocarbonetos] que, futuramente, irá disputar aos franceses e aos ingleses os novos contratos sobre energia?” A Itália, nota o jornal, “seduz o CNT para salvar contratos”.
“Esta guerra na Líbia foi sugerida essencialmente por Paris e, a seguir, por Londres. Nicolas Sarkozy irá tentar, assim, colher os frutos do seu envolvimento, com uma participação na reconstrução económica. A presença de Itália na Líbia irá ser inevitavelmente redimensionada”, observa Marta Dassù, no La Stampa. Esta politóloga italiana recorda a hostilidade histórica dos habitantes da Cyrenaica – a região onde se iniciou a rebelião – para com os italianos, facto que limita a iniciativa diplomática destes.
“A Itália tinha pois muito a perder com a guerra na Líbia. E, no entanto, não perdeu nada. A [recente] visita do patrão da ENI a Benghazi confirma encontrar-se em condições de salvaguardar os seus próprios acordos energéticos.” Quanto aos europeus, “depois das divisões em relação à guerra, o interesse é promoverem um acordo entre os sucessores de Kadhafi. A ideia de uma copropriedade franco-britânica já fracassou anteriormente no Mediterrâneo. Voltará a fracassar se os europeus, na Líbia, se limitarem a disputar um ‘bolo’. O interesse de europeus e líbios, no seu conjunto, é não rejeitarem Kadhafi. A seguir, os negócios vão aparecer para quem estiver em condições de os fazer. É a única concorrência aceitável entre as democracias do Velho Continente”.
Inúmeras oportunidades para o Ocidente
Do lado britânico, não há dúvidas quanto às questões do pós-guerra. Como sublinha o The Independent, ”os participantes vão estar presentes para ver que benefícios podem ter”. E “quanto à recolha do lixo, ao fornecimento de água e ao encaminhamento do petróleo para os portos deste país rico em hidrocarbonetos, quem assegura os contratos?
Para os ocidentais, são inúmeras as oportunidades de se envolverem, razão que leva líbios e árabes a desconfiarem das respetivas intenções ‘humanitárias’”.
É por isso, e para evitar ”que uma situação política precária não descambe numa luta de enriquecimento pessoal”, que o Financial Times sugere “um sistema de contra-poderes credível no setor energético” e “um amplo acordo constitucional que permita aos líbios governarem-se como povo livre”.
Alemanha
Berlim continua à espreita
O êxito das operações militares na Líbia deixa a Alemanha, que não as apoiou, numa situação delicada, no momento de discutir a reconstrução e os respetivos contratos. É, sobretudo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, que está na berlinda, como refere o Süddeutsche Zeitung: depois do êxito militar da NATO, atribuiu a queda do regime de Kadhafi ao embargo internacional a Tripoli, apoiado pela Alemanha, mais do que aos ataques e à insurreição armada. Guido Westerwelle mudou de opinião, por pressão da chanceler Angela Merkel, mas, nota o diário da Baviera, “é desprezado por todos os políticos, independentemente da opinião que tenham sobre a intervenção da NATO na Líbia. Depois da queda de Khadafi, tudo se modificou: toda a gente mostra ‘respeito’ pela NATO. O alívio provocado pela queda de Khadafi facilita o apoio dado a uma guerra cujo objetivo nunca foi a saída do ditador”.
Fonte: PRESSEUROP
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