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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Voltando ao cavalo Campeiro e sua história

Cavalo Campeiro


            As raças nativas são constituídas por animais que por um longo período passaram por uma seleção natural em um determinado ambiente. Essa seleção conduz a adaptação do animal ao meio.
            O cavalo campeiro descende dos primeiros animais trazidos pelos espanhóis para a América do Sul, quando da tentativa de fundar uma povoação que seria depois Buenos Aires.
            Existem afirmações que o cavalo no Planalto Catarinense chegou por volta de 1541, quando Álvaro Nunes “Cabeza de Vaca”, seguiu por terra do litoral de Santa Catarina até Assunção no Paraguai, levando 46 cavalos e um pequeno rebanho de vacas, sendo alguns animais extraviados no percurso. A afirmativa é aceita, porém, sabemos que os espanhóis saíram da Espanha com 100 animais destinados ao serviço e reprodução na América e chegaram a Buenos Aires com apenas 72. O primeiro contato com solo americano foi na ilha de Santa Catarina, onde é provável que tenham deixado alguns animais para utilização no serviço de abastecimento dos navios no porto.
Por volta de 1729, passou pelo Planalto Catarinense o “abridor das estradas das tropas”, Francisco de Souza e Faria. Ele também extraviou cavalos e éguas pelos matos cerrados e cobertos de araucária.
            O mesmo aconteceu quando da passagem de Cristóvão Pereira de Abreu, primeiro tropeiro entre o Sul e o centro do País, entre os anos de 1733 ou 1734. No entanto Souza Faria e Pereira de Abreu afirmaram ter encontrado grande quantidade de animais no planalto, talvez descendentes dos cavalos de “Cabeza de Vaca”, deixados há quase 200 anos.
            Os animais ao longo do tempo foram se reproduzindo em estado selvagem formando grandes manadas. Começaram a ser pegos para doma em 1766, com a chegada dos colonizadores para a fundação de Lages e depois em 1773, com a fundação da Fazenda de Curitibanos. Os animais, de porte médio a pequeno, pela consangüinidade ocorrida ao longo dos anos, mostraram-se dóceis, embora muito resistentes, adaptados ao clima e terrenos acidentados.
            O cavalo crioulo, já com certa seleção a partir de sua importação da Argentina, se espalhou por paises vizinhos e chegou ao Brasil pelo Rio Grande do Sul. Era um animal mais encorpado, de trote ideal para a “lida campeira” nas planícies da fronteira, enquanto que nos campos serranos o cavalo preferido era o cavalo campeiro.
            O pesquisador Carlos Solera, em seu livro Historias e Bruacas, destaca que: “o gaúcho e principalmente o cavalo crioulo estavam mais para a planície do Pampa, enquanto que o tropeiro e seu cavalo estavam mais para os campos ondulados e acidentados dos caminhos da serra”.
            As características dos campeiros chamaram a atenção de José Maria de Arruda, que começou a selecionar os animais da raça. O que era tido como defeito no crioulo, a marcha, transformou-se em virtude nos animais do fazendeiro de Lages. Os marchadores Catarinenses chamavam a atenção, alem da postura no andar, pela resistência e docilidade, e se tornaram o preferido das mulheres e autoridades para as grandes jornadas.
            O fazendeiro José Maria fez algumas cruzas, com Puro Sangue Inglês, visando aumentar a velocidade e com Árabe, a fim de melhorar a resistência e garbosidade. Primando sempre pela marcha elegante e destreza na lida com o gado.
            José Maria de Arruda Filho, no livro “Coisas do Passado” (Lages 1964) cita o comentário do Dr. Lauro Ramos Cezar: “Esses cavalos que o senhor possui, com tipo e andar característicos, são em minha opinião, a maior realização pastoril de Lages”. E destaca: “Dr. Walmor Ribeiro quando apeou do cavalo Madrigal, de marcha trotada, que lhe emprestamos para uma excursão de três léguas até ao mangueirão, falou: “estou como se não houvesse montado nunca imaginei que existia um animal tão bom assim”. Segundo o mesmo, animais o autor cansou de percorrer oito léguas em 4 horas sem forçá-los.
            Em 1952, o pecuarista e então prefeito de Curitibanos, Lauro Antonio da Costa, adquiriu um garanhão do plantel de José Maria Arruda. O animal foi recebido junto com uma carta que, cedida pelo veterinário Dirceu Costa seu filho, é reproduzida em parte a seguir:
            “Pelo seu capataz, conforme tínhamos combinado, seguiu o cavalo As de Ouro, de seis anos de idade e que tem a seguinte filiação: avós Mascate e Patativa, pais Madrigal e Patativa 11ª. Os últimos e a primeira foram os melhores que já criei, pois fazem sem grande esforço seis léguas em menos de três horas”.
            Lauro Costa em 1948 adquiriu do mesmo José Maria mais um reprodutor, chamado Vermelhinho e algumas matrizes, filhas do mesmo cavalo. Com mais o reprodutor Ás de Ouro, deu início a uma criação de marchadores em sua propriedade. Esses animais conhecidos como Crioulo Marchador, Raça Velha, Pelo Duro, ou Peludo, ficaram conhecidos na região como “Cavalos do Lauro Costa”. Assim, quando alguém tinha um cavalo muito bom dizia com orgulho: “esse é da raça dos cavalos do Lauro Costa.”.  

Cavalo Campeiro
           
Com o tempo outros criadores em Curitibanos começaram a interessar-se pelos animais de marcha, até que um grupo de aficionados pelo marchador reuniu-se em 1976. Com a finalidade de defender o que consideravam um “patrimônio genético”, fundaram a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Campeiro (Abraccc) e através da Associação Agropecuária, criaram o cadastro dos marchadores da região.
            Em 1985, com apoio da secretaria de agricultura do estado de Santa Catarina, a raça foi oficialmente reconhecida pelo Ministério da Agricultura, após detalhada investigação genealógica feita pelos técnicos do ministério, Henrique Brickman e Noelio Costa, acompanhados pelo representante da entidade em Lages, Aluisio Marcondes.
           Para controle, foi criado o Livro de Registro “Herd Book” e instituído o serviço de Registro Genealógico Oficial da raça, com criadores de Curitibanos, Campos Novos, Lages, São Joaquim e Urupema, em Santa Catarina; Jacarezinho no Paraná e Campo Grande no Mato Grosso do Sul.
            A primeira diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Campeiro era constituída por:
            – Ivens Arruda Ortigari – Presidente;
            – Francisco Leonildo D. Moraes – 1º vice-presidente;
            – Dirceu Costa – 2º vice-presidente;
            – Ivadi C. de Almeida – 1º secretário;
            – Afonso de Almeida Costa 2º secretário;
            – Rubens Rosa – 1º tesoureiro;
            – José Fontana – 2º tesoureiro.
            – Suplentes: Luiz Marcos Cruz, Hernani Manoel Lemos Farias, Getúlio Vargas de Moraes, Edmundo Xavier Mendes, Eutalino R. de Almeida, Juvenal J. Rodrigues e Ivandel Adonis Macedo.
            Ainda hoje os cavalos descendentes dos animais de José Maria, de Lages, e de Lauro Costa, de Curitibanos, espalhados por várias partes do Brasil, são reconhecidos como marchadores de tríplice apoio, isto é: estão sempre com três patas no chão diminuindo o impacto com o solo e o balanço da marcha, proporcionado mais comodidade ao cavaleiro.

Cavalo Campeiro
           
Este é o animal que no passado foi o preferido das mulheres e das autoridades nos deslocamentos a grande distância, transportou padres, bispos, deputados, senadores, governadores e porque não dizer o Presidente da República, se referindo ao catarinense e serrano, Nereu Ramos, que com certeza andou em um campeiro, conhecido como o “Marchados das Araucárias”.   

Bibliografia:

- Coisas do Passado: José Maria Arruda Filho – Lages, 1964.
- Historias e Bruacas: Carlos Solera – Editora Progressiba– Curitiba, 2006.

Informações:
            www.scielo.br

Arquivo do Sr. Lauro Antonio da Costa
Veterinário Dirceu Costa – Diretor de Registro da Raça
Matéria gentilmente cedida pelo Historiador e Secretário de Turismo de Curitibanos – Santa Catarina: Aldair Goeten de Moraes.

3 comentários:

Anônimo disse...
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