O Conselho Nacional dos Evangélicos da França tomou distância da teologia nascida nas correntes pentecostais norte-americanas que coloca em um mesmo plano a salvação cristã e a riqueza material. Um documento oficial, concebido como instrumento destinado às Igrejas evangélicas, foi adotado no fim de maio.
Para a tele-evangelista norte-americana Gloria Copeland, a equação evangélica é inequívoca: "Dê 10 dólares e você receberá 1.000. Dê 1.000 dólares e você receberá 100 mil... O trecho de Marcos, capítulo 10, versículo 30, é um grande negócio". A afirmação está em God's Will is Prosperity [A vontade de Deus é prosperidade], o trecho de Marcos é aquele em que Cristo afirma que quem dá irá receber o cêntuplo.
De uma forma igualmente peremptória em God's Laws of Success [Leis de sucesso divinas], outro tele-evangelista norte-americano, Robert Tilton, assegura que "o sucesso está disponível aqui e agora... Depende de você recebê-lo. Se você não conseguir, a culpa é sua e não de Deus".
Essas duas pregações são emblemáticas da "teologia da prosperidade", que floresceu há 50 anos nos ambientes pentecostais dos Estados Unidos. Na França, ela também seduz não só algumas Igrejas surgidas entre os imigrantes, mas também se encontram referências aqui e acolá nos sermões.
O Cnef (Conselho Nacional dos Evangélicos da França), que pretende ser um órgão de regulamentação doutrinal no mundo evangélico francês, considerou necessário distanciar-se oficialmente de tal atitude e dar referências esclarecedoras aos seus membros.
No dia 22 de maio, um estudo de 30 páginas, elaborado por uma comissão de teólogos, foi aprovado por unanimidade por todas as correntes representadas no Conselho: pietistas ortodoxos, batistas, mas também pentecostais e carismáticos pentecostais.
Todos concordam em dizer que a teologia da prosperidade apresenta uma concepção "errônea" da fé, que "distorce" a mensagem evangélica absolutizando certas promessas de bênção da Bíblia e, assim, apresentando perigos reais.
Primeiro erro: a teologia da prosperidade coloca no mesmo plano a salvação e a prosperidade física (saúde) e material (riqueza), enquanto a salvação cristã, que é o "coração" do evangelho "refere-se principalmente à relação com Deus e à reconciliação com ele por meio de Cristo", explica Thierry Huser, pastor da Igreja Batista, um dos elementos-base do texto.
Pior ainda, essa teologia "instrumentaliza" Deus, colocando-o a serviço da prosperidade do fiel: de fato, segundo seus defensores, o fiel deve acreditar que tudo, incluindo a riqueza, lhe foi conquistado por Cristo. Portanto, lhe bastaria manifestar a sua fé na promessa do Evangelho doando dinheiro para obter a recompensa...
Mas, nessa lógica, "a ênfase unilateral sobre a palavra de Deus, cuja eficácia reside na sua força de afirmação, pode levar a ter 'fé na fé', ao invés de ter 'fé em Deus'", declara o documento, que denuncia uma visão do mundo "próxima do pensamento mágico". "Não se deixa a Deus a liberdade de nos responder diferentemente", completa Thierry Huser. "Deixa-se de lado toda a pedagogia de Deus na nossa vida, que às vezes quer nos dar ensinamentos a partir de situações difíceis".
Nesse sentido, se os teólogos da prosperidade chegam às "aspirações profundas" de "pessoas cuja realidade cotidiana é o sofrimento e a miséria", elas são, ao contrário, "marcadas pelo hedonismo da nossa sociedade, que rejeita os limites e o sofrimento", acrescenta Thierry Huser. "Nas nossas Igrejas, acreditamos em um Deus que intervém na nossa vida e pode dar sinais milagrosos da sua ação, mas não é preciso sistematizá-los".
Particularmente perigoso, esse "sistema de sentido único" também é "fonte de profunda desilusão", porque apresenta "falsas promessas". Pior, é muito culpabilizante para o cristão: se ele não é ouvido, é criticado porque a sua fé não é suficientemente forte...
"Os profetas da prosperidade protegem-se, assim, de todo questionamento das suas promessas. Ao contrário, todo o peso do eventual insucesso recai sobre o fiel, que esperou, rezou, doou", deplora o texto do Cnef.
Por fim, um último erro e não menos importante é que os advogados da prosperidade ocultam as recorrentes admoestações de Jesus "contra o amor ao dinheiro e contra a idolatria do sucesso material".
Esse documento não é o primeiro do gênero: ele vem depois da declaração de Lausanne III, aprovada em 2010 por 4.200 lideranças evangélicas do mundo inteiro, em que um parágrafo abordava a teologia da prosperidade.
Para a tele-evangelista norte-americana Gloria Copeland, a equação evangélica é inequívoca: "Dê 10 dólares e você receberá 1.000. Dê 1.000 dólares e você receberá 100 mil... O trecho de Marcos, capítulo 10, versículo 30, é um grande negócio". A afirmação está em God's Will is Prosperity [A vontade de Deus é prosperidade], o trecho de Marcos é aquele em que Cristo afirma que quem dá irá receber o cêntuplo.
De uma forma igualmente peremptória em God's Laws of Success [Leis de sucesso divinas], outro tele-evangelista norte-americano, Robert Tilton, assegura que "o sucesso está disponível aqui e agora... Depende de você recebê-lo. Se você não conseguir, a culpa é sua e não de Deus".
Essas duas pregações são emblemáticas da "teologia da prosperidade", que floresceu há 50 anos nos ambientes pentecostais dos Estados Unidos. Na França, ela também seduz não só algumas Igrejas surgidas entre os imigrantes, mas também se encontram referências aqui e acolá nos sermões.
O Cnef (Conselho Nacional dos Evangélicos da França), que pretende ser um órgão de regulamentação doutrinal no mundo evangélico francês, considerou necessário distanciar-se oficialmente de tal atitude e dar referências esclarecedoras aos seus membros.
No dia 22 de maio, um estudo de 30 páginas, elaborado por uma comissão de teólogos, foi aprovado por unanimidade por todas as correntes representadas no Conselho: pietistas ortodoxos, batistas, mas também pentecostais e carismáticos pentecostais.
Todos concordam em dizer que a teologia da prosperidade apresenta uma concepção "errônea" da fé, que "distorce" a mensagem evangélica absolutizando certas promessas de bênção da Bíblia e, assim, apresentando perigos reais.
Primeiro erro: a teologia da prosperidade coloca no mesmo plano a salvação e a prosperidade física (saúde) e material (riqueza), enquanto a salvação cristã, que é o "coração" do evangelho "refere-se principalmente à relação com Deus e à reconciliação com ele por meio de Cristo", explica Thierry Huser, pastor da Igreja Batista, um dos elementos-base do texto.
Pior ainda, essa teologia "instrumentaliza" Deus, colocando-o a serviço da prosperidade do fiel: de fato, segundo seus defensores, o fiel deve acreditar que tudo, incluindo a riqueza, lhe foi conquistado por Cristo. Portanto, lhe bastaria manifestar a sua fé na promessa do Evangelho doando dinheiro para obter a recompensa...
Mas, nessa lógica, "a ênfase unilateral sobre a palavra de Deus, cuja eficácia reside na sua força de afirmação, pode levar a ter 'fé na fé', ao invés de ter 'fé em Deus'", declara o documento, que denuncia uma visão do mundo "próxima do pensamento mágico". "Não se deixa a Deus a liberdade de nos responder diferentemente", completa Thierry Huser. "Deixa-se de lado toda a pedagogia de Deus na nossa vida, que às vezes quer nos dar ensinamentos a partir de situações difíceis".
Nesse sentido, se os teólogos da prosperidade chegam às "aspirações profundas" de "pessoas cuja realidade cotidiana é o sofrimento e a miséria", elas são, ao contrário, "marcadas pelo hedonismo da nossa sociedade, que rejeita os limites e o sofrimento", acrescenta Thierry Huser. "Nas nossas Igrejas, acreditamos em um Deus que intervém na nossa vida e pode dar sinais milagrosos da sua ação, mas não é preciso sistematizá-los".
Particularmente perigoso, esse "sistema de sentido único" também é "fonte de profunda desilusão", porque apresenta "falsas promessas". Pior, é muito culpabilizante para o cristão: se ele não é ouvido, é criticado porque a sua fé não é suficientemente forte...
"Os profetas da prosperidade protegem-se, assim, de todo questionamento das suas promessas. Ao contrário, todo o peso do eventual insucesso recai sobre o fiel, que esperou, rezou, doou", deplora o texto do Cnef.
Por fim, um último erro e não menos importante é que os advogados da prosperidade ocultam as recorrentes admoestações de Jesus "contra o amor ao dinheiro e contra a idolatria do sucesso material".
Esse documento não é o primeiro do gênero: ele vem depois da declaração de Lausanne III, aprovada em 2010 por 4.200 lideranças evangélicas do mundo inteiro, em que um parágrafo abordava a teologia da prosperidade.
O compromisso de Lausanne, por sua vez, havia sido preparado por um texto do grupo de trabalho teológico de Lausanne 2008-2009, que, de um modo ainda mais firme e mais claro, deplorava que o evangelho da prosperidade, "ampliando as diversas causas espirituais e demoníacas da pobreza", passa quase despercebidas as suas causas econômicas e sociais.
"Este estudo do Cnef é muito importante, porque a teologia da prosperidade atinge aspirações profundas", observa o padre Michel Mallèvre, diretor do centro ecumênico Istina. "Mas, como contraponto, ele não propõe nenhuma resposta social, não convida a combater a pobreza, justamente em nome da vinda do Reino de Deus". Tal convite seria muito mais do que legítimo, segundo ele, já que há vários anos os evangélicos se lançaram, com o movimento Défi Michée (www.defimichee.fr), em uma campanha internacional de luta contra a pobreza.
Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz1zl80CcyW
"Este estudo do Cnef é muito importante, porque a teologia da prosperidade atinge aspirações profundas", observa o padre Michel Mallèvre, diretor do centro ecumênico Istina. "Mas, como contraponto, ele não propõe nenhuma resposta social, não convida a combater a pobreza, justamente em nome da vinda do Reino de Deus". Tal convite seria muito mais do que legítimo, segundo ele, já que há vários anos os evangélicos se lançaram, com o movimento Défi Michée (www.defimichee.fr), em uma campanha internacional de luta contra a pobreza.
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