Em
Chorographia do Brazil, de JOÃO FELIX PEREIRA (Imprensa de Lucas Evangelista
– Lisboa/Pt – 1854, p. 264/265, afirma-se que (...) em SC as matas abundão em excellentes madeiras de
construção, como o cedro, carvalho e paroba (peroba?), guaruba, óleo e grapecica, todos com
veias, que servem para a marcenaria e marchetaria; o páo de arco para a
tanoaria; os pinhos, que são em grande copia, para mastros de navios. Estas matas, aduziu o autor citado, estão ainda em parte em poder dos índios,
que andão nellas á caça dos tamanduás, parcas (pacas?), cabritos montezes (assim se chamavam os
veados), onças,
antas, porcos
montezes, coatis, macacos e outros animaes silvestres (...). (português da época)
Uma relação de madeiras encontradas na então Província de Santa
Catarina nos é fornecida pelo historiador MANOEL JOAQUIM D’ALMEIDA COELHO (major),
in Memória Histórica da Província de Santa Catarina - Typografia
Desterrense/Fpolis-SC/1856 (que pode ser encontrado na Boblioteca Pública de
Florianópolis - catálogado sob o nº SC/OR 981.64 C 673), pág. 58 e seguintes.
Eram tais madeiras (além das boas aguadas, das frutas
silvestres e da abundante fauna), nos
primórdios da história da Ilha de SC, os principais atrativos para que aqui
aportassem os barcos que vinham da Europa, necessitando de reparos, após a travessia
do Atlântico, muitas vezes penosa, debaixo de tempestades que provocavam quebra
de mastros e outros danos, eis que as embarcações, sem exceção, eram de madeira
e dependiam de ventos e velas.
Na obra Diário
da Navegação de PERO LOPES DE SOUZA/pela costa do Brazil até o Rio Uruguay (de 1530
a 1532) (...) – publicada
por VARNHAGEN – Typ. de D. L. dos Santos/RJ/1867, observa-se os inúmeros
acidentes e atribulações sofridas pelos navegadores de então, com suas
embarcações de madeira, por força dos rigores dos ventos e outros fatores
climáticos, ora em decorrência das calmarias:
- (...) andamos em calma sem ventar bafo de
vento (p. 10);
- (...) e o
mar andava tam grosso, que se nos ventara hum pouco de vento foramos de todo
perdidos (p. 12);
- (...) Indo assi correndo com gram mar deu a não
hûa guinada, e em preparando de ló nos arrebentou o mastro do traquete pelos
tamboretes, de que sentimos muita fortuna; (...) (p. 13);
- (...) e
em levando a amarra me desandou o
cabrestante e me ferio dous homes; e tornei a virar com muita força, e arrebentei
o cabre (...) (p. 19);
- (...) deu hûa
trovoada do norte com tanta força de vento, que se nam quebrara a verga
do traquete em três pedaços, de todo foramos soçobrados (...) (p. 22);
- (...) deu um raio no masto do traquete da
gavia, que mo fez em dous pedaços: quis Nossa Senhora que nos nam fez mais
nojo: trouxe tam gram fedor de enxofre, que nam havia homem que o suportasse
(...0 (p. 23);
- (...) Aqui estivemos tomando água e lenha, e
corregendo as nãos, que dos temporaes que nos dias passados nos deram, vinham
desaparelhadas (...) (p. 24);
- (...) era o mar tam grosso, e cada vez nos
investia por riba dos castellos (...) - (p. 26);
- (...) ventou com tanta força (o que ainda
nesta viagem o nam tínhamos assi visto ventar) que as nãos sem velas metiam no
bordo por debaxo do mar; era tamanha a escuridam e relampados (relâmpagos) , que era meo dia e parecia de noite (...) (p. 30);
- (...) No quarto da modorra nos deu hûa
trovoada seda de essudoeste, com mui grande vento que nam havia homem, que lhe
tivesse o rosto: a não capitaina (capitânia) foi de todo perdida, que lhe quebrou o cabre; e ia dar
sobre-la ilha, se o vento de supito nam saltara ao sul, que se fez á vela no
rolo do mar. Como nos deu o vento mandei largar outra anchora, que me teve até
pela menhãa (manhã) com mui gram
mar. (...) (p. 34);
- (...) Aqui
nesta ilha estivemos 44 dias: nelles nunca vimos o sol; de dia e de noite nos
choveo sempre com muitas trovoadas e relampados: nestes dias nos nam ventaram
outros ventos, senam desd’o sudoeste até o sul. Deram-nos tam grandes tromentas
(tormentas) destes ventos,
e tam rijos, como eu em outra nenhûa parte os vi ventar. Aqui perdemos muitas
anchoras, e nos quebraram muitos cabres (...) - (p. 36);
- (...) me
deu hum tam gram mar, e veo ter ao convez, e meteu-me dous quartéis para
dentro; entrou tanta água, que antre (entre) ambas
as cubertas me nadou o batel; assi arribamos alagados (...) (p. 38);
- (...)
Sesta-feira 2 dias de novembro veo a gente, que tinha mandado em busca de
Martim Afonso, e me disseram como a não capitaina dera á costa, por falta
d’amarras; e que Martim Afonso, com toda a gente, se salvaram todos a nado;
somente morreram 7 pessoas; 6 afogados e 1, que morreo de pasmo e que bargantim
dera também á costa (...) (p. 43); etc...(português da época).
É de se imaginar, com tantos problemas de quebra de
embarcações, a demanda por madeira para a recuperação e reconstrução das
mesmas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário