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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nobel alemão vê relação entre consumo de carne bovina e câncer intestinal



Harald zur Hausen em seu laboratório em Heidelberg

Infectologista alemão Harald zur Hausen está pesquisando se vírus insensível ao calor causa câncer de cólon. Ele adverte que o consumo de carne vermelha é um dos fatores que favorecem o surgimento da doença.






O cientista Harald zur Hausen foi premiado com o Nobel de Medicina em 2008 por sua descoberta de que o vírus do papiloma humano (HPV, do inglês human papilomavirus) causa câncer cervical, a segunda forma mais frequente de câncer em mulheres.



A descoberta possibilitou o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer de colo de útero, oferecida gratuitamente na Alemanha para garotas entre 12 e 17 anos de idade. Agora, ele suspeita também que outros tipos de câncer possam ser provocados por vírus.



Em entrevista à Deutsche Welle, Zur Hausen afirma ainda ser improvável que se encontre uma cura para o câncer nos próximos 20 ou 30 anos, porém ele acredita que os pacientes irão viver mais e melhor. 



Deutsche Welle: Na sua opinião, que tipos de câncer poderiam ser causados por vírus?



Harald zur Hausen: Suspeito que o câncer intestinal e o câncer nos órgãos responsáveis pela produção do sangue possam ser desencadeados por infecções. Ao comparar dados, descobri que a incidência do câncer de cólon varia muito de país para país.



Por isso, não podem ser responsabilizados apenas – como se acreditava até agora – os agentes carcinógenos originados no processo de cozimento do alimento.



Por que não?



Essas substâncias químicas que podem causar câncer se originam do ato de cozer ou assar. Elas são produzidas independentemente do tipo de carne usada.



Não dispomos de provas da relação entre o consumo a longo prazo de peixe ou aves e o surgimento de câncer. Já para outro tipo de carne, há fortes evidências: está se observando que a propagação do câncer está ligada ao consumo de carne bovina. 



Como o senhor chegou a essa conclusão?



Nos países árabes, onde se consome preferencialmente a carne de ovelha e de cabrito, a incidência de câncer de cólon é baixa. Na Índia, onde não se come carne bovina, não há quase nenhum câncer de cólon.



E no Japão e na Coreia, onde a carne se transformou em prato popular apenas no século passado, está havendo um rápido crescimento no percentual de câncer de intestino. Isso não pode ser causado apenas pelas substâncias carcinógenas, já que elas também se originam no preparo de peixe e aves.



Por isso, podemos concluir que na carne bovina haja algum fator específico que ajude a causar câncer.



As células-tronco têm um importante papel na cura do câncer


Que fator o senhor acredita que seja?


Para um infectologista não é difícil supor que eventualmente seja um vírus insensível ao calor. Por exemplo, no preparo de um bife mal passado ou "no ponto" é atingida geralmente uma temperatura interna de só 30ºC a 50ºC – e isso, de longe, não é suficiente para desativar um vírus. No momento, estou me dedicando a respostas para essa pergunta, em uma pesquisa intensiva com a minha esposa.



O senhor acredita que algum dia seja encontrada a cura para o câncer?



Tenho certeza de que ao menos poderemos curar casos de câncer num âmbito maior do que hoje. Já demos grandes passos na prevenção e no tratamento da doença. Em casos de câncer de mama ou de leucemia, as chances de cura são relativamente boas.



Mas temos que admitir que alguns tipos de câncer, como o de pulmão e de pâncreas, ou tumores cerebrais específicos, significam para os pacientes praticamente uma sentença de morte.



Contra esses tipos de câncer infelizmente não podemos fazer muita coisa. Acho bastante improvável que possamos erradicar o câncer nos próximos 20 ou 30 anos. O que irá acontecer é que pacientes com câncer irão viver por mais tempo.



Que papel poderia desempenhar a terapia com células-tronco?



A pesquisa de células-tronco já desempenha hoje um papel no tratamento da leucemia. Também vejo boas possibilidades de tratamento de câncer em órgãos responsáveis pela produção do sangue. Tenho a sensação de que grande parte dos políticos na Alemanha não entende o grande potencial para a sociedade por atrás das pesquisas com células-tronco. Por isso estamos muito atrás dos Estados Unidos e do Japão, onde foram desenvolvidos muito mais métodos e novas ideias.



Por que isso acontece?



Tivemos na Alemanha um debate muito emocional, que alimentou muitos temores e desencorajou muitos cientistas de pesquisar com células-tronco. Isto foi, certamente, um erro. Mas hoje o clima já é mais liberal do que há cinco ou dez anos.



Autor: Judith Hartl (fc)

Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: DEUTSCHE WELLE

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