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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ainda sobre o cavalo campeiro, seus criadores e apreciadores

Senhores Contadores...
Muitos são os acontecimentos que fizeram a história do lugar e das pessoas que lá vivem; o que elas são e o que representam.  E entre essas pessoas, algumas contam passagens vividas, com muita peculiaridade e entre um caso e outro, relatado sempre com muito enredo e de modo a fazer com que o ouvinte se sinta no ambiente do acontecimento e independente do tempo onde ele se passou, estão as passagens contadas pelo “um dos últimos tropeiros vivos de Curitibanos”, senhor Ivady Almeida.
Com oitenta e cinco anos – festejado em grande estilo recentemente – conta que seu bisavô, Coronel Henrique Paes de Almeida, vindo de Sorocaba, começou a criar cavalos na região e esses já existiam soltos nos campos e espalhados pelas coxilhas. Filho, neto e bisneto de tropeiros, seu Ivady  relata com os olhos distantes e a percorrer a paisagem a sua frente, que aos quatro anos de idade ajudou a conduzir uma tropa de gado por dez quilômetros e ao final do trabalho, teve de voltar sozinho para casa, já noite escura. Cresceu e como na época não havia carros, o meio de transporte eram os cavalos e o Campeiro, por ser um cavalo marchador oferecendo conforto e segurança para a montaria, passou então a ser o meio de transporte mais usado na região.
Interessado cada vez mais pelos cavalos, seu Ivady – assim como outros tantos criadores – passou a freqüentar as exposições pelo Brasil, tendo sido acompanhado na maioria delas, pelo amigo e companheiro, senhor Osny Machado Coninck. Juntos, levavam seus melhores animais para serem mostrados nas feiras pelo país, buscando  comparações capazes de auxiliar nos estudos e análises de formação do Cavalo Campeiro da região do planalto serrano. Durante muito tempo andaram garimpando informações e especificações que tornasse possível o enquadramento do cavalo em uma raça, quando por fim apareceu em cena um delegado do Ministério da Agricultura. Ao olhar para o cavalo, perguntou qual era a raça do animal...
Interessado, providenciou uma delegação composta por analistas credenciados pelo Ministério da Agricultura que partiram para Curitibanos. Após criteriosos estudos de padrões, perfil e características de modo geral, foi homologado o direito de registro e para tal, o veterinário Dirceu Costa, também de Curitibanos, foi enviado para cursos técnicos com a finalidade de proceder no registro da raça do Cavalo Campeiro, o marchador das Araucárias.
 
Senhores Ivady Almeida e Osny Machado Coninck
Fazenda da Lagoa em Campos Novos

 
Senhor Ivady Almeida - Cavalgada da Semana Farroupilha - Curitibanos

 
Veterinário Dirceu Costa e um de seus garanhões.
Uma das características da raça é o tríplice apoio.
Dirceu Costa é bisneto de açorianos e filho do senhor Lauro Costa, um outro tropeiro e apaixonado por cavalos.

Seu bisavô quando aqui chegou, passou a exercer a profissão de pescador em São José da Terra Firme. Na época a tuberculose não tinha cura e muitos imigrantes contraíram a doença nos navios vindos da Europa para o Brasil ou em embarcações de pesca pelo litoral catarinense e temendo contágio, arrebanhou a família e subiu a serra, pois tinha ouvido dizer que o clima do planalto serrano, evitava e curava essa enfermidade.
Seu avô comprou na região um primeiro pedaço de terra e seguiu comprando e agregando uma terra a outra formando assim uma grande gleba. Tendo o tipo físico característico dos açorianos, de pouca estatura e um tanto encorpado, precisava de animais que lhe garantisse um determinado conforto durante as longas horas montado no lombo de cavalos, pelas trilhas dos tropeiros e foi então que optou pelo “Pelo Duro”, antigo nome do cavalo campeiro, dado em virtude da pelagem espessa que cresce nos animais que vivem soltos nos campos e decorrente da exposição ao frio. Quando os Ipês Amarelos florescem, é sinal de que o inverno está acabando e nessa época então, é que os pelos que protegeram os cavalos durante os dias frios do inverno, começam a cair e na região, dizem que o cavalo está a “pelinchar”.
 
Senhor Miguel Ortiz, companheiro de trabalho do Senhor Ivady Almeida. Égua Vaidosa vestida para a invernada campeira das terras altas - Fazenda do Carmo – Curitibanos
No litoral de Santa Catarina, a chegada dos imigrantes açorianos influenciou diretamente no desenvolvimento da região e esses portugueses que para cá vieram, também deixaram sua contribuição na região do planalto serrano – ainda que em menor escala -  e mais especificamente onde hoje se encontra as cidades de Lages, Curitibanos, Campos Novos, São Joaquim e outras. Muitas são as famílias que possuem descendência portuguesa e essas pessoas quando chegaram na região, encontraram tudo por ser desbravado e  ainda muito selvagem, tanto quanto era na época, o próprio cavalo Campeiro.

Dócil, resistente a cavalgadas de grandes distâncias e próprio para as lidas do campo, o Cavalo Campeiro é uma ferramenta de trabalho para muitos fazendeiros da região do planalto serrano, onde a linhagem manteve-se pura e livre de consangüinidade, cuidado esse que todos os criadores da raça fazem questão de adotar. Muitos seguem na tradição da criação dos cavalos que vem desde quando os avós e bisavós começaram a selecionar suas tropas e assim continuou sendo ao longo do tempo.
Em Florianópolis também há criadores do Cavalo Campeiro e o senhor Lauro Stéfani é um deles. Dono do Haras Floripa, localizado no sul da ilha de Santa Catarina, cria Campeiro a vinte e seis anos e optou pela raça, em razão da praticidade, resistência, conforto, rusticidade e beleza física. Seus animais são usados para o laser e para cavalgadas à beira mar, nos finais de semana e nas férias. Já na baixa temporada, é comum vê-lo organizar passeios mais longos para outras localidades, acompanhado dos seus familiares. Outra forma bastante usada pelo senhor Lauro, de divertir-se com seus cavalos, é juntar vários deles, colocando-os em um caminhão especial para o transporte de carga viva e com amigos, subir a serra para passar finais de semana, percorrendo trilhas e coxilhas.

Em Florianópolis é comum o serviço de aluguel de cavalos, que é oferecido pelos vários haras espalhados por toda a ilha e muitas são as pousadas que costumam divulgar passeios e cavalgadas aos hóspedes e turistas de modo geral.
 
Criador Lauro Stéfani – Haras Floripa  - Garanhão Ébano e o domador
Ageu Furtado - Florianópolis
Nas fazendas, o Campeiro representa papel de destaque. É de fácil  montaria, possuindo muita maciez no andar, com movimentação leve, obediência, inteligência e coragem. Na Fazenda Estância Velha, ele é utilizado para o trabalho diário pelo senhor Renato Almeida e seu filho José Geraldo Almeida. Já para os netos, os cavalos são utilizados para passeios, cavalgadas, provas de rédeas em rodeios regionais ou eventos semelhantes.
 
Senhor Renato Almeida – Fazenda Estância Velha - Curitibanos

 
Senhor José Geraldo Almeida – Fazenda Estância Velha – Curitibanos
A pureza da raça que por longos anos manteve-se na situação de isolamento, é hoje o mérito maior e um patrimônio a ser preservado. Esse é o fruto do esforço de seus criadores mais antigos e agora também dos novos que aos poucos vão se juntando ao grupo dos admiradores, através da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Campeiro – ABRACCC, com sede na cidade de Curitibanos.

A associação foi fundada em 1976 através de recursos próprios, tendo como objetivo maior, defender o padrão genético da raça do Cavalo Campeiro. Com o apoio da Secretaria de Agricultura do Estado de Santa Catarina, a raça foi oficializada no Ministério da Agricultura em 1985 e possui livro de registro genealógico oficial da raça, que é brasileira, do sul do país e da região do planalto serrano.
 
Angelina Ferraz e Pedro Paulo Ferraz, criadores da Fazenda Caxambú –
São José do Cerrito
Durante dias percorrendo estradas, de fazenda em fazenda, escutando estórias do passado, de vidas; entre risadas, boa comida, lindas paisagens e muita amizade – dessas que, embora firmadas recentemente, remontam uma existência, pois todos os sentimentos bons são assegurados pela integridade do caráter e da palavra – é possível notar que o grande orgulho de todos os criadores e independente do uso a que destinam suas tropas, é o Cavalo Campeiro.
Novos adeptos da causa, aos poucos vão se juntando aos veteranos, como é o caso de Angelina Ferraz e seu marido Pedro Paulo Ferraz, residentes em Curitibanos e com criação na Fazenda Caxambú, em São José do Cerrito. Eles também são colaboradores da ABRACCC, juntamente com a Veterinária Gláucia Almeida, o senhor Umerindo Fernandes de Oliveira, senhor Luis Marcos Cruz; senhoras Beatriz de Moraes e Camila Cerrati, para além de muitos outros...
 
Cavalo Campeiro -  Fazenda  Estância Velha, Fazenda da Lagoa,
Fazenda do Carmo e Fazenda Caxambú.
Os primeiros habitantes da região do planalto serrano de Santa Catarina, foram os índios da nação Jé, dos  Xoklens e Kaiganges. Os outros moradores foram os cavalos, conhecido hoje como Campeiro. Tanto uns como outros, são o elo entre o passado e o presente e que de um modo quase invisível, são parte da história e formação cultural do extremo sul do país. O respeito ao meio e as diferenças e semelhanças naturais existentes na composição estrutural que formou e forma cada povo em sua região, deve servir sempre como elemento capaz de agregar e unir.

O Estado de Santa Catarina faz parte de uma região diversificada, rica e formada por diferentes etnias e suas raízes permanecem vivas, tanto quanto estão vivos todos os seus muitos “filhos do tempo”.
Fonte: http://www.adiaspora.com/reportagens/araucaria2.html

Um comentário:

Anônimo disse...
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