José Cruz/Agência Brasil
Com a reabertura do Congresso, a bancada ruralista vai pressionar pela mudança da legislação ambiental
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Rui Daher
De São Paulo
De São Paulo
Será empossado hoje o novo Congresso Nacional. Quase 600
pessoas começarão seus pesados trabalhos para o período 2011/2015, do
que muitos desconfiam.
Entre senhores, senhoras e senhoritas, serão 513 na Câmara Federal e 81
no Senado legislando em nosso nome. Para isso escolhemos viver em um
regime democrático e votarmos.
Importantes temas aguardam relatórios, proposições, projetos,
decretos-lei, das lavra e responsabilidade de nossos representantes.
Não apenas no Brasil, mas em países de sistema similar ao nosso, os
legisladores, não importando seus partidos políticos, se agrupam
conforme interesses específicos.
Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP),
quatro evangélica, feminina e sindicalista. Interessa-nos a primeira,
de longe a maior: 141 deputados e 18 senadores.
Guardados os rótulos de direita e esquerda, quase 2/3 dos membros da
bancada ruralista, se na França, em 1789, sentar-se-iam no lado direito
da Assembleia Constituinte e apoiariam o Velho Regime.
Mas, feito está, e na levada do samba do compositor paulista Pedro
Caetano (1911 - 1992), resta-nos pluralizar seus versos e aguardar: "Com
esse(s) que eu vou sambar até cair no chão/Com esse(s) eu vou desabafar
na multidão/Se ninguém se animar/Eu vou quebrar meu tamborim/Mas se a
turma gostar vai ser pra mim".
O pior é que a quebra do tamborim pode não demorar muito. Percebe-se uma
pressa danada dos ruralistas em votar o Código Florestal, assim como
foi relatado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B - SP).
Enquanto governos e organizações mundiais, em todas as esferas, investem
em tecnologias que promovam a sustentabilidade da vida no planeta e
valorizam economicamente a biodiversidade, aqui, em nome de uma suposta
limitação da produção agrícola, procura-se detonar a legislação
ambiental.
O Código vigente é de 1965 com emendas em 1989 e 2001. Dizem-no rígido,
limitante e ameaçador para a atividade agrícola. Se o fosse, de lá para
cá, não teríamos mais do que triplicado a produção de grãos enquanto
mais do que dizimávamos nossas florestas.
Qual o motivo, então, para quererem flexibilizá-lo? Simples: Estado e
Sociedade Civil mais rígidos na cobrança do respeito às leis; e a
ansiada anistia para crimes já cometidos.
Incomodam-se os reformadores com as áreas de preservação permanente
(APP) e de reserva legal (RL). As primeiras protegem margens de cursos
d'água, nascentes e locais de acentuada declividade. As RL,
representadas num porcentual da propriedade de acordo com o bioma local,
exigem a manutenção de cobertura florestal por espécies nativas. Ambas
seriam reduzidas.
Espera-se resistência de quem sabe o quanto esse imediatismo irá
aniquilar o futuro do Brasil e de sua biodiversidade. Impossível não
haver gente assim no novo Congresso. Assim como há aqueles que ajudam a
agropecuária de formas mais insólitas.
No último domingo, a coluna "Painel", da "Folha de São Paulo", contou
que vários dos 41 suplentes de deputado federal, que assumiram o mandato
para as férias legislativas do mês de janeiro, usaram a verba de
custeio da atividade parlamentar.
Entre os documentos apresentados para justificar as despesas, constavam
notas fiscais de estabelecimentos como "Peixadinha Baiana", "Choperia
Martins & Pavan", "Restaurante Al Mare", "Boteco das Onze" e "Nega
Maluca Doceria".
Uma inequívoca contribuição ao crescimento da demanda por alimentos, ora, pois!
Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.
Fonte: TERRA
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