Apesar
do respeito à tese de que Ratones
seria termo aplicado pelos espanhóis,
tendo por base a semelhança das Ilhas a grandes ratos, inclino-me pela
hipótese de que o nome tenha derivado da circunstância de que as margens e o
vale do Rio Ratones, assim como as ilhas,
fossem habitados por grande quantidade de cotias (ou cutias, como preferem outros), cujo aspecto é o de um grande rato e,
quando os navegadores, no afã de cortar madeira para lenha e para o reparo de
suas embarcações, bem como para prover-se de cítricos (laranja, bergamota e
limão) e de água, deram pela presença de tais animais, passaram a se referir ao
lugar por Ratones (ratos, em espanhol). A cotia é um mamífero roedor da família
dos dasiproctídeos, gênero Dasyprocta III, com sete espécies em
território brasileiro. (AURÉLIO). O animal é descrito na obra de JOSÉ ROBERTO
TORERO e MARCUS AURELIUS PIMENTA intitulada Terra Papagali, como (...) semelhante ao lebrão, mas com a cabeça como a da ratazana. Vejamos o que acontecia na
Ilha, por volta de 1526, quando aqui chegou a expedição de Sebastião Caboto: (...) Bom gentio (...) - os carijós – têm mantimentos
e frutas, galinhas, e muita caça de veados, porcos, pacas, cotias (...) (Citação de um trecho em português
arcaico, por nós atualizado, feita pelo historiador catarinense AUJOR ÁVILA DA
LUZ, na obra organizada por CARLOS HUMBERTO CORREA, intitulada Santa
Catarina, quatro séculos de História, XVI ao XIX - Editora Insular/Fpolis-SC/2000, p. 23). Um
relato do alemão OTO VON KOTZEBUE (citado pelo historiador AUJOR ÁVILA DA LUZ –
obra acima, p. 118) volta a se referir à abundância do animal na Ilha: No
reino animal, chamaram atenção os papagaios, os tucanos, os macucos, os
beija-flores, as revoadas de urubus, as tartarugas, os macacos, as cotias e os tatus (...). A cutia é citada, várias vezes, por
RENATO IGNÁCIO DA SILVA - Amazônia/Paraíso e Inferno - Biblioteca do Exército Editora e Quatro Artes
Editora/ 1970. Numa delas, informa o escritor que o animal (...) é um extraordinário
espalhador de sementes, a castanha é por ela alastrada, numa grande área da
Amazônia. E completa: Quando a cutia se entoca, o melhor meio de
fazê-la sair do esconderijo é levar uma palha acesa até o ponto onde ela se
acha. Possui carne tenra e muito apreciada (pág. 161).
BARTOLOMÉ DE LAS CASAS - Historia de Las Indias - Fondo de Cultura Economica/México/1995, vol. II,
p. 512, falando sobre as hutías
(equivalente espanhol de cutia) encontradas na América, ao tempo de Cristóvão
Colombo, escreveu: (...) en esta isla las hutías, que era uma
especie de caza; la hechura era, y em especial la cola, como de ratones (...)
- LUCAS ALEXANDRE BOITEUX (Capitão de Mar e
Guerra), em Santa Catarina no século XVI
(edição da Imprensa Oficial/Fpolis-SC/1951), após referir-se à visita de ALVAR
NUÑES CABEZA DE VACA, em 1541, informa: (...)
Desde esse tempo aparece também a denominação Ratones, dada às pequenas ilhas da baía do norte que, de certa
distância, apresentam o aspecto de dois roedores. (...) (p. 50). O mesmo
historiador, na obra denominada Pequena
História Catharinense (Oficinas a Eletricidade da Imp.
Oficial/Florianópolis- SC/1920, p. 74, n° 150 - fortificações), informa: (...) Pela resolução de 05 de agosto de 1738 o governo da metrópole determinou
que o Sargento-mór de batalha (brigadeiro) José da Silva Paes passasse à citada
ilha e nella levantasse fortificação capaz à sua defesa.(...) Em seguida (1740)
iniciou o forte São José, na Ponta Grossa e o de Santo Antonio, na ilha Raton Grande na baía norte (...).
Documentos que seguem reproduzidos, nos dão conta de que Ratones já se
chamou Rattones, Várzea de Ratones e Vargem de Ratones.
- O hábito de os portugueses darem nomes aos acidentes geográficos
segundo a fartura de uma certa espécie no local, pode ser vislumbrado no trecho
que segue: (...)A terra he mui fermosa, muitos ribeiros
d’água e muitas ervas e frores, como as de Portugal. Achamos duas onças mui
grandes, e nos tornamos para as naos sem vermos gente. (...) Estas ilhas – a
que puz nome – das Onças -, tomei o sol nellas em 34 graos e meo (...) (português
da época).
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