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quarta-feira, 23 de março de 2011

Cardeal revela os temas da igreja no diálogo com os ateus


por Marco Politi, do jornal italiano Il Fatto Quotidiano


Católicos e ateus, crentes e agnósticos: face a face na Paris dos Iluministas para uma cúpula inédita promovida pelo cardeal Gianfranco Ravasi, ministro da Cultura do Vaticano. Parceiros do diálogo que ocorrerá entre os dias 24 e 25 de março são a Unesco, a Sorbonne, o Institut de France, o "parlamento dos sábios" que reúne as cinco grandes academias francesas. 
É uma nova página na história da Igreja, a tentativa de enfrentar o terceiro milênio deixando de considerar ateus e agnósticos como inimigos ou deficientes espirituais.






"Anticlericalismo e Clericalismo" devem ser superados, é a opinião do purpurado. Porque "fechar-se em seu próprio recinto é uma doença tanto para as religiões quanto para o mundo laico e para uma ciência que pretenda dar as respostas a todas as perguntas".

A iniciativa surgiu por impulso de Bento 16, que, em 2009, afirmou em Praga que deveria ser estimulado o encontro com os não crentes e indicou no Átrio dos Gentios do antigo Templo de Jerusalém o espaço onde os aderentes a outras religiões podiam se aproximar do Deus Desconhecido.


Entrevista

Cardeal Ravasi, vocês começam na França, o Anticristo das Luzes.

Sim, quis escolher Paris justamente porque é um estandarte de laicidade, mas devo dizer logo que encontrei um mundo laico interessado em um confronto verdadeiro sobre grandes temas.

Vontade de se converter?

Não é esse o objetivo. Não falamos de evangelização. O objetivo é o diálogo. O confronto entre dois Logoi, entre visões do mundo que se medem nas questões altas da existência. Quando me encontro diante de um ateu como Nietzsche ou o discurso marxista ou científico, eu escuto, respeito, avalio. As religiões e os sistemas ideológicos são leituras do real e do cosmos e é bom que se confrontem.



Superando a atitude clássica segundo a qual o não crente é um "pato manco"?


O crente e o ateu são, cada um, portadores de uma mensagem, que é "performativa", já que envolve a existência. Estou contente por ter como interlocutores em Paris personalidades como Julia Kristeva, semióloga e psicanalista agnóstica, ou o geneticista Axel Kahn.



Sobre o que pensarão?



Na Unesco, se discutirá entre crentes e laicos sobre o papel da cultura, mas também sobre as mulheres na sociedade moderna, sobre o empenho pela paz e a busca de sentido em um mundo que é ao mesmo tempo secularizado e religioso. Na Sorbonne, o tema é emblemático: Iluminismo, religiões, razão comum. No Institut de France, o debate será sobre economia, direito, arte.


Esperando encontrar pontos de encontro?


Não interessam encontros ou desencontros genéricos, nem entrar em acordo sobre uma vaga espiritualidade. E não se trata nem de um asséptico encontro de matemática. O que conta é colocar em confronto visões de vida alternativas, pensando, em última instância, sobre algumas questões capitais.



O senhor disse recentemente que a igreja deve aprender a derrubar seus próprios muros.



Muitas vezes, temos uma linguagem excessivamente conotada e excludente. Devemos reconhecer que existem visões diferentes da realidade e que, do mundo laico, nos são dirigidas questões profundas com relação às quais não podemos ser evasivos.



Quais questões o senhor considera como capitais?



As perguntas sobre o sentido da existência, sobre o além-vida, sobre a morte. E ainda a questão sobre a categoria de verdade.



Há algum tema sobre o qual se deveria refletir mais na civilização contemporânea?



O poder do mal. É preciso ser consciente dele. As atitudes subsequentes podem ser diferentes. Para Albert Camus, na ausência de Deus, a resposta final é o suicídio. Para George Bernanos, além de todas as dificuldades e fragilidades, a presença divina não abandona jamais o humano.

A Igreja está pronta para fazer as contas com a descristianização em curso no continente europeu?

As categorias estatísticas são insuficientes para medir o real. É preciso um método qualitativo para medir de dentro os comportamentos sociais e pessoais. Harvey Cox, que havia escrito A Cidade Secular, agora defende que estava equivocado. Assistimos a um retorno do sagrado e a uma nostalgia do religioso que, porém, não encontra uma resposta nas instituições religiosas. Isso se manifesta em várias expressões: movimentos, New Age, devocionalismo, espiritualismo.

Qual saída o senhor propõe?


O cristianismo deve voltar às suas grandes respostas, para curar o paladar da sociedade, deformado por uma secularização que busca espiritualidade de baixo perfil.

O senhor não acha que ainda há na Igreja muito medo da modernidade?

Eu alimento um respeito pela modernidade, mas reivindico a legitimidade de criticar uma modernidade superficial, inodora, incolor, nem imoral, mas, sim, amoral. Como diz Goethe no Fausto: esquecemo-nos do Grande Maligno, ficaram os Pequenos Sem-Vergonhas.

Com tradução é de Moisés Sbardelotto para o IHU.

Fonte: PAULOPES WEBLOG

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