Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Livro sobre Dom Helder “psicografado”

Conversa com Marcelo Barros sobre seu Prefácio a um livro espírita de Dom Hélder “psicografado” por Carlos Pereira.
Nestes dias participei aqui em S. Luís – MA, de um Seminário sobre Justiça e Paz assessorado pelo monge beneditino e renomado teólogo e escritor Marcelo Barros.
Aproveitei a ocasião do atraso do início da Palestra dele, sentei com o Marcelo Barros e perguntei-lhe se ele reconheceu mesmo o estilo de D. Helder no livro “psicografado” dele (D. Hélder), como foi veiculado pela imprensa. Marcelo negou que tivesse dito isso e diz que os espíritas o usaram deslealmente.
Um artigo sobre o assunto, contra minha vontade, saiu no nosso
Jornal Rumos, edição n° 222 (clica e vê).
Este artigo suscitou em vários leitores do Jornal Rumos reações de estupor e de preocupação:
- Como é que um jornal católico, de Padres casados sérios, publica um artigo destes que pode induzir muita gente em erro?
O argumento do Editor e de alguns colegas da cúpula do MFPC que ele consultou, foi que se Marcelo Barros e Inácio Strieder, teólogos sérios, avalizavam tal livro, como é que nós o iríamos vetar?

Eu argumentei que isso, com certeza, iria suscitar muita estranheza, sobretudo em nossos leitores Leigos pois o espiritismo é cheio de ambiguidades e os espíritas muito insinuantes e proselitistas. E a linha teológia do Jornal Rumos costuma ser aberta, mas sólida.

Mas fui voto vencido e o artigo saiu.
O trecho mais forte e comprometedor do artigo é o seguinte:
Recentemente foi lançado no mercado cultural um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois da morte, atribuído, justamente, ao Espírito Dom Helder Câmara, bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, desencarnado no dia 28 de agosto de 1999, em Recife (PE).
O livro psicografado pelo médium Carlos Pereira, da Sociedade Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte, causou muita surpresa no meio espírita e grande polêmica entre os católicos. O que causou mais espanto entre todos foi a participação de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, que durante nove anos foi secretário de Dom Helder Câmara, para a relação ecumênica com as igrejas cristãs e as outras religiões.
Marcelo Barros secretariou Dom Helder Câmara no período de 1966 a 1975 e tem 30 livros publicados. Ao prefaciar o livro Novas Utopias, do espírito Dom Helder, reconhecendo a autenticidade do comunicante, pela originalidade de suas ideias e, também, pela linguagem, é como se a Igreja Católica viesse a público reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao negar a veracidade do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos, e desse ao livro de Carlos Pereira , toda a fé necessária como o Imprimatur do Vaticano. É importante destacar, ainda, que os direitos autorais do livro foram divididos em partes iguais, na doação feita pelo médium, à Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao Instituto Dom Helder Câmara, de Recife, o que, aliás, foi aceito pela instituição católica, sem qualquer constrangimento.
No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo e teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável da historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados à Igreja Católica. Conforme eles mesmos disseram, essa obra talvez não seja uma produção direcionada aos espíritas, que já convivem com o fenômeno da comunicação, desde a codificação do Espiritismo; mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da militância católica, que é chamada a conhecer a verdade espiritual, porque “os tempos são chegados”, estes ensinamentos pertencem à natureza e, consequentemente, a todos os filhos de Deus.
A verdade espiritual não é propriedade dos espíritas ou de outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque, tenha chegado o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a existência espiritual, a vida depois da morte e a comunicação entre os dois mundos.
Depois segue a Entrevista a Dom Hélder…
Fiquei feliz com o desmentido do Marcelo Barros que me prometeu me enviar o Prefácio que ele escreveu para o dito livro, como estudioso e ativista de diálogo interreligioso.
Ele relutou em aceitar, mas cedeu à insistência do autor. Marcelo não me disse com todas as letras, mas me deu a impressão de que que não está feliz com essa colaboração do Prefácio. E me disse que várias pessoas da hierarquia o chamaram de ingênuo ao cair na arapuca dos espíritas que ficaram felicíssimos com a participação dele no livro e estão tirando disso ilações que Marcelo nunca autorizou.
Quanto ao teólogo Strieder, padre casado de Recife, Marcelo me disse que Strieder o defendeu contra quem o atacou em Recife.
Ele foi muito questionado por esse Prefácio, inclusive pela CNBB e por seus confrades beneditinos.
Mas nada melhor do que ouvir do próprio Marcelo Barros que falou desses assunto no seu blog em 15 de setembro.
Ver abaixo
                                                                                 João Tavares
________________________________________
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Prefácio a um livro espírita.
“Finalmente, a Igreja Católica reconheceu a verdade espírita da reencarnação”.
“Padre católico escreve prefácio para livro ditado pelo espírito de Dom Hélder Câmara”.
O que há de verdade nisso?
Há alguns anos, fui procurado pelo médium Carlos Pereira que me pediu que escrevesse o prefácio para um livro que o espírito de Dom Hélder lhe havia ditado. Respondi que não poderia por não compreender essa doutrina. Respeito-a, mas não faz parte da minha cultura. É como uma língua que eu não falo. Ele me mandou o livro para ler. Eu li e lhe respondi que estava de acordo com toda a mensagem do livro (sobre paz, justiça, não violência, etc), mas que não reconhecia naquelas páginas o estilo literário de Dom Hélder Câmara com quem trabalhei e convivi por anos. Carlos me respondeu que essa falha era problema do receptor e que pedia que eu escrevesse mesmo como católico e a partir do que penso. Como trabalho no diálogo intercultural e interreligioso, aceitei e fiz o prefácio. Nele, não me pronuncio sobre se o livro é psicografado ou não e menos ainda sobre reencarnação e outras crenças espíritas. Apenas peço que haja abertura para se acolher o outro como ele é e pensa.
É claro que quando dialogo, devo ser eu e não preciso deixar a minha identidade para assumir a do outro. Foi isso que fiz.
Infelizmente, pessoas de espírito proselitista andam espalhando coisas que não correspondem à verdade. Antes de tudo, não represento oficialmente a Igreja Católica e o fato de eu assinar o prefácio de um livro não compromete nisso toda a minha Igreja. Em segundo lugar, não é verdade que eu tenha em nenhum momento declarado que acredito na reencarnação ou na psicografia.
Vejam o prefácio que escrevi:
A luz que vem do outro
(Prefácio ao livro de Carlos Pereira)
Todo livro é um diálogo entre quem escreve e quem lê. Entretanto, este que, agora, você tem nas mãos é, certamente mais ainda uma proposta espiritual de diálogo porque o autor o apresenta como um livro psicografado. De acordo com ele, tem um autor espiritual que é Dom Helder Câmara e este o ditou ao irmão Carlos Pereira, que, no caso seria apenas um fiel intérprete e obediente escrivão destas páginas do Dom.
Prefaciar um livro é referendá-lo e aceitar ser para o autor como um paraninfo que o introduz em um novo círculo de relações. Normalmente quem faz o prefácio é sempre um autor mais famoso e consagrado que apresenta aos leitores um outro que precisa ser apresentado. Ao pensar que o autor deste livro é meu mestre e pastor Dom Helder Câmara, senti-me incapacitado de escrever um prefácio para esta obra. Entretanto, o irmão Carlos Pereira me pediu e ele deve saber o que está fazendo. Quando o mistério é grande demais, o jeito é deixar-se envolver por seu encanto e buscar espiritualmente a lição que Deus nos dá através do desconhecido.
A realidade tem sempre diversas faces e epifanias. O mesmo fato pode ser visto e interpretado, ao menos, por dois ou mais lados. O Judaísmo acredita que tudo na Bíblia, até a lei divina, é passível de interpretações divergentes. Conforme a tradição judaica, um dia, um discípulo perguntou a um santo rabino porque, no monte Sinai, para escrever sua lei, Deus precisou de duas tábuas de pedra e não só de uma única. O rabino respondeu:
- Para que se saiba que há, ao menos, duas interpretações válidas para cada lei.
Quem, em sua fé, aceita o fenômeno da psicografia, não procura provas nem busca semelhanças entre este escrito e as muitas obras que, no tempo em que estava conosco, o Dom nos deixou. Acolhe simplesmente e gratuitamente esta obra e aproveita as lições espirituais aqui contidas. Quem rejeita tal interpretação e não crê em psicografia pode, assim mesmo, ler este livro como herança espiritual de Dom Helder, pois se situa na mesma tradição da espiritualidade da paz, da não violência e da solidariedade que o Dom sempre nos ensinou.
Em 1994, Dom Helder escrevia a amigos da Itália, reunidos no movimentoMani Tese (“Mãos estendidas”): “Não estamos sós. Por isso, não aceito a resignação e o desespero. A fome será vencida. No final, haverá paz para todos. Neste universo, a última palavra nunca poderá ser a morte e sim a vida! Não poderá ser o ódio, mas o amor! Não poderá ser o desespero, mas a esperança. Nunca as mãos enrijecidas, fechadas no ódio. Mãos estendidas e unidas na solidariedade e no amor para com todos”.
Aqui, nestas páginas o estilo e o conteúdo mais expresso podem parecer diferentes do que Dom Helder escrevia, assim como os destinatários desta obra não são mais apenas os que o escutavam em sua peregrinação terrena. Dom Helder sempre insistiu que a unidade não só respeita as diferenças, mas pode delas nutrir-se. O amor pode transformar as diferenças em complementaridade. Para ele, o Diálogo é elemento intrínseco e essencial a toda religião e nos faz repensar nossa idéia de Deus e de espiritualidade. Por isso, ser solidário é o modo normal da pessoa viver no mundo e ser feliz, como dizia o monge Thomas Merton: “Nenhum ser humano é uma ilha”. É a base mais viável para construirmos sociedades firmadas sobre a defesa intransigente e permanente dos Direitos Humanos. Somos felizes por viver em um mundo, no qual estes caminhos nos são abertos.
Para mim que quero consagrar-me e doar a minha vida a esta causa do diálogo e da unidade entre os diferentes, este livro me toca porque, lendo além das linhas e entre-linhas, sinto como se a sabedoria aqui transcrita, não vem apenas de Dom Helder e menos ainda do Carlos Pereira. São inspirações do Espírito Divino, energia de paz, que “sopra onde quer, ouve-se a sua voz, mas não sabe para onde vai nem para onde vem” (Jo 3, 7ss). A mim, cristão, cada página, aqui transcrita por Carlos, sussurra um nome que me leva ao Infinito: Jesus de Nazaré. Mas, me leva também a outros nomes que são sinônimos de amor e de paz, nas mais diferentes religiões e diversas culturas: Confúcio, Buda, Maomé, Zumbi dos Palmares, Maíra. Que riqueza. Nenhum mortal pode amordaçar a ventania. O mistério é nossa Paz e os caminhos religiosos, se conseguem sê-lo, podem apenas ser nossas parábolas de amor. Como, no século IV, escreveu Agostinho: “Apontem-me alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Dêem-me alguém que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que quero dizer” [2].
Marcelo Barros
________________________________________
[1] – Marcelo Barros, natural de Camaragibe, é monge beneditino e teólogo. Durante nove anos (de 1966 a 1975) foi secretário de Dom Helder para a relação ecumênica com as Igrejas cristãs e as outras religiões. É escritor e tem 40 livros publicados.
[2] – AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João 26, 4. Cit. por Connaissance des Pères de l’Église32- dez. 1988, capa.


Fonte: ASSOCIAÇÃO RUMOS

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.