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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Saúde - Melhoria real ou imaginária?

Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Daniel Castellano / Gazeta do Povo /
Especial

Melhoria real ou imaginária?

Prescrever tratamento placebo, com medicamentos que não têm indicação para cura, mas que deixam o paciente mais confiante, está cada vez mais comum entre os médicos estrangeiros. No Brasil, a prática é vista com ressalvas
Publicado em 14/12/2011 | Dâmaris Thomazini

Receitar um tratamento placebo (usando medicamentos que não possuem indicações específicas para curar uma doença e que fazem o paciente se sentir mais confiante) pode beirar a loucura, mas não para vários médicos estrangeiros e até para alguns profissionais brasileiros. Uma pesquisa publicada no British Medical Journal mostrou que, nos Estados Unidos, pelo menos 50% dos médicos prescrevem estes tratamentos a seus pacientes. E isso não acontece só lá. Um índice similar foi verificado em outros países, como Dina­marca, Israel, Suécia, Reino Unido e Nova Zelândia.
Consciência
Efeito também ocorre se paciente sabe que é placebo
Um estudo da Escola de Medicina de Harvard, de autoria de Ted Kaptchuk, publicado em dezembro de 2010, analisou a reação de 80 pacientes com síndrome do intestino irritável à prescrição de placebos feita da forma considerada mais ética: eles foram informados que usariam pílulas sem ingredientes ativos.
Assim, um grupo não recebeu tratamento e o outro foi medicado duas vezes ao dia com drogas descritas como “comprimidos de açúcar” e a palavra “placebo” impressa no recipiente dos remédios. Os resultados não poderiam ser mais surpreendentes: 59% dos pacientes que usaram a substância inerte relataram alívio nos sintomas da síndrome – caracterizada por dores abdominais – contra 35% do grupo não tratado.
“Nossos resultados desafiam a ideia convencional de que o efeito placebo necessita do desconhecimento do paciente para acontecer”, disse o pesquisador à Associação Americana de Psicologia (APA, em inglês).
Nocebo
Tratamento com resultados ruins
O efeito placebo também tem o seu reverso: o efeito colateral a substâncias inertes ou a tratamentos aos quais um paciente sente rejeição ou temor caracteriza o chamado efeito nocebo. De acordo com o artigo “Novos dados sobre o efeito nocebo”, da Harvard Health Publications, enquanto o efeito placebo libera endorfinas que aliviam a dor, o nocebo ativa receptores que estimulam a produção de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol, afetando a percepção de incômodos.
“Se existe uma expectativa negativa por parte do paciente, a tendência é que o tratamento não corra bem. As consequên­cias seriam o aparecimento de queixas, efeitos colaterais e o abandono do acompanhamento médico”, diz o psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria Cláudio Meneghello Martins.
O efeito nocebo traz à tona até mesmo maus momentos do passado. “Experiências negativas ou efeitos colaterais ocorridos anteriormente podem se repetir diante de visões, sons ou outros sinais associados a um tratamento. Este ‘condicionamento’ ajuda a explicar por que cerca de uma a cada três pessoas sente náusea e até mesmo vomita ao entrar no local onde fez quimioterapia”, diz o artigo da universidade americana.
Bê-á-bá
Para ler com seu filho
Placebo
é um termo técnico utilizado em pesquisas clínicas que comparam a ação de uma substância ativa com outra inerte – o medicamento placebo.
Tratamento placebo
é usado na medicina, fora da pesquisa, quando um médico receita uma droga ciente de que ela não possui ação farmacológica contra uma doença específica.
Efeito placebo
é o resultado esperado quando se faz um tratamento placebo. Sob o efeito placebo o paciente se sente mais confiante e até a apresenta melhoras em seus sintomas.
Aspas
“Há uma expectativa do sistema nervoso em relação ao efeito das medicações: ele pode anular, reverter ou ampliar as ações farmacológicas, o que faz com que até substâncias inertes provoquem efeitos que não dependem delas.”
Cláudio Meneghello Martins, psiquiatra e secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) na região Sul.
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“Não aceitamos que em um estudo, um grupo receba uma droga ativa e o outro fique sem tratamento.”
Margareth Priel, especialista em neurociência da Universidade Federal de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Ética em Pesquisas (Conep)
Interatividade
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Entre os americanos, os medicamentos prescritos variam de comprimidos para dor de cabeça a vitaminas, além de antibióticos e sedativos. Os médicos receitam estes remédios em busca do chamado “efeito placebo”. Ou seja, eles estão atrás das consequências do uso da droga sobre a mente do paciente e não do resultado químico da utilização do medicamento no organismo.
E, por mais controverso que seja o uso deste método, esses médicos encontram respaldo científico no que estão fazendo. Estudos internacionais sugerem que 60% a 90% das drogas prescritas pelos médicos dependem do efeito placebo para serem efetivas, o que significa que a cura também está na cabeça do paciente.
“Há uma expectativa do sistema nervoso em relação ao efeito das medicações: ele pode anular, reverter ou ampliar as ações farmacológicas de certos medicamentos, o que faz com que até substâncias inertes [o placebo puro] provoquem efeitos”, explica o psiquiatra e secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria na Região Sul, Cláudio Meneghello Martins.
Embora não se tenha conhecimento para explicar cientificamente como e por que acontece o efeito placebo, sabe-se que o estímulo gerado pelo uso de um remédio pode alterar a percepção cerebral da dor e causar impactos físicos e emocionais. “As hipóteses giram em torno de uma alteração nos neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina”, diz Martins. Essas três substâncias são responsáveis pelas nossas variações de humor, disposição e energia.
“O paciente tem a sensação de que alguém realmente se interessou pelo seu problema. Nesses casos, o tratamento placebo dá um apoio psicológico fantástico e faz com que a pessoa se sinta melhor e mais segura”, esclarece o presidente do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, o urologista Renato Tâmbara. “Mas essa prática não deve ser usada indiscriminadamente”, adverte.
Neste ponto, a discussão sobre esta prática expõe seu ponto frágil, já que no tratamento placebo a droga é receitada sem que o paciente saiba que, na verdade, ela não possui ação efetiva contra o seu mal. “Se o profissional perceber que não há necessidade do uso de medicações, ele não deve receitar nada. Esse tipo de conduta não possui amparo ético: não se pode enganar o paciente”, critica o cardiologista, especialista em bioética, membro do Conselho Federal de Medicina e um dos revisores da última versão do código de ética médica brasileiro, José Eduardo de Siqueira.
Brasil proíbe o uso em pesquisas quando há alternativas
A comparação da eficácia de novos medicamentos com uma substância inerte, o placebo puro, é restrita no Brasil. Este recurso é autorizado somente quando uma doença ainda não possui tratamentos descobertos contra ela – segundo os médicos, uma situação cada vez mais rara.
“Não aceitamos que, em um estudo, um grupo receba uma droga ativa e o outro fique sem tratamento. Isso contribuiria para a piora de pessoas que já estão em situação vulnerável. Se um paciente tem uma doença com tendência à progressão, ele tem direito a um tratamento efetivo durante uma pesquisa”, afirma a especialista em neurociência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Comissão Nacional de Ética em Pesquisas (Conep), Margareth Priel.
Esta posição brasileira, porém, entra em rota de colisão com a Declaração de Helsinque, que autoriza a comparação de medicamentos novos com substâncias inertes, mesmo que já existam tratamentos estabelecidos. Esta declaração é responsável por normatizar universalmente a ética em pesquisas com seres humanos.
“Esse foi o único ponto da declaração que o Brasil não aceitou. A última revisão do nosso código de ética médica incluiu o artigo 106, que proíbe o profissional de manter qualquer vínculo com pesquisas médicas que usem placebos em seus experimentos quando já houver um tratamento eficaz em uso”, explica o especialista em bioética, José Eduardo Siqueira.
A explicação para esta relutância é simples. Segundo os médicos, utilizar o placebo seria mais vantajoso para os laboratórios farmacêuticos, não para o paciente. “Não tem cabimento comparar uma droga com uma substância inerte, pois é claro que a substância ativa terá efeito mais benéfico do que o placebo”, diz Siqueira.

Fonte: GAZETA DO POVO (Curitiba)

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