O assassinato de León Trotsky em 1940, na Cidade do México, onde
foi atacado com um pica-gelo na cabeça, foi organizado em uma farmácia
nos Estados Unidos, revela um novo livro do especialista em inteligência
E. B. Held.
O livro "Um guia da espionagem em Albuquerque e Santa
Fé", de Held - atualmente diretor de inteligência no Departamento de
Energia dos Estados Unidos -, parece confirmar anos de especulações
sobre a existência de um esconderijo de espiões em Santa Fé, pacata
cidade do estado americano do Novo México (sudoeste).
Em um livro
de memórias de 1994, "Tarefas Especiais", o espião da KGB - serviço
secreto da então União Soviética -, Pavel Antolievich Sudoplatov,
afirmou que uma farmácia de Santa Fé serviu de esconderijo dos
assassinos de Trotsky.
A
nova obra de Held indica que esses esconderijo se localizava na
Farmácia Zook, que pode ser vista em fotografias de arquivo, e foi
substituída nos anos 1990 por uma loja de sorvetes Haagen-Dazs.
Held, de 58 anos, começou a investigar a história depois de se aposentar da CIA, em 2002.
Seu
livro trata de outros casos de espionagem, mas o capítulo mais
controvertido descreve o assassino da KGB, Josef Grigulevich, nascido na
Lituânia e que emigrou ainda criança para a Argentina, onde seu pai
fundou uma cadeia de farmácia.
Foi recrutado pela polícia secreta
soviética quando era estudante em Paris e aprendeu a matar durante a
guerra civil espanhola (1936-1939).
Held especula que Grigulevich,
ao chegar em Santa Fé, com 27 anos, tenha se aproximado da família Zook
por também serem imigrantes lituanos. Ele era charmoso e se dizia
historiador da América Latina. Chegou a publicar 58 livros a respeito.
Uma
vez instalado em Santa Fé, Grigulevich viajou para a Cidade do México
para colocar em andamento dois planos paralelos para assassinar Trotsky,
um dos líderes da revolução de 1917 forçado ao exílio depois de
confrontar Joseph Stalin.
Um dos planos envolvia David Siqueiros,
pintor e fundador do Partido Comunista mexicano. O outro plano dizia
respeito a Ramón Mercader, um aristocrata espanhol.
Na madrugada
de 23 de maio de 1940, Siqueiros e cerca de 20 homens armados atacaram a
casa de Trotsky na capital mexicana. Dispararam com metralhadoras
contra o dormitório de Trotsky, onde dormia com sua esposa, mas ambos
escaparam ilesos.
De acordo com Held, Grigulevich enganou Sheldon
Harte, um americano jovem e idealista que atuava como secretário e
segurança de Trotsky, para que deixasse aberto um portão de acesso à
casa fortificada.
Harte, que podia identificar Grigulevich, depois foi sequestrado e executado.
Siqueiros
foi acusado de tentativa de assassinato, mas escapou para o Chile com
ajuda do poeta Pablo Neruda, então cônsul geral do Chile no México.
Em
30 de agosto de 1940, Mercader, fazendo-se passar por um empresário
canadense, atacou Trotsky com um picador de gelo. Ferido na cabeça, o
russo morreu no dia seguinte.
Mercader, que assegurava ter matado
Trotsky porque o revolucionário o proibiu de casar-se com sua
secretária, passou 20 anos na prisão. Uma vez libertado, viajou para a
União Soviética, onde foi condecorado como herói.
Grigulevich
refugiou-se em Santa Fé, onde viveu discretamente até 1941, quando se
separou de Katie Zook, filha do fundador da cadeia de Farmácias Zook.
Segundo
o autor, Zook nunca soube das atividades de Grigulevich nem de seu
verdadeiro nome. O agente soviético morreu em 1988 e ela, uma década
mais tarde.
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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