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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sozinha, ela evitou o pior

Entre 1958 e 1962, os Laboratórios Chemie-Grünenthal, da Alemanha, lançaram no mercado um remédio chamado Contergan. O medicamento foi apresentado como o mais eficiente calmante. As bulas informavam que o melhor de tudo é que não tinha nenhum efeito colateral. Comercializado em mais de cinquenta países, com oitenta nomes diferentes, era receitado sobretudo a crianças e a mulheres grávidas. Nessas últimas, o fármaco tinha uma vantagem adicional: evitava os vômitos e as náuseas da gravidez.

Nos EUA, porém, o remédio não entrou. A responsável por recusá-lo – e o pedido de comercialização voltou cinco vezes à sua mesa! - foi a doutora Frances Kelsey, doutora em farmacologia pela Universidade de Chicago. Ela trabalhava no poderoso FDA, sigla de Food & Drug and Administration (Administração de Comida e Droga). O FDA é um departamento que faz o controle de alimentos, cosméticos, remédios, equipamentos médicos, produtos derivados do sangue humano etc. Qualquer desses itens é minuciosamente estudado, examinado e testado antes de ter sua comercialização aprovada.
A doutora Frances Kelsey foi condecorada pelo então presidente John Kennedy por ter livrado os EUA do Contergan. Hoje, aos 96 anos, aposentada desde 2005, depois de trabalhar 45 anos no FDA, poucos lembram do que essa mulher fez. E tinha apenas 26 anos quando descobriu em suas pesquisas para a cura da malária que algumas substâncias farmacêuticas eram capazes de vencer a barreira da placenta. Citar o Contergan é mais ou menos como anunciar a presença de Ariclenes Venâncio Martins. Ninguém ligará esse nome a Lima Duarte, a menos que ao lado da informação esteja a foto do ator. Com esse fármaco dá-se a mesma coisa. Ele se tornou conhecido no mundo inteiro pelo nome de sua substância, a talidomida. Passados alguns anos do lançamento do Contergan, apareceram na Alemanha doze casos de crianças nascidas com focomelia. Designa uma deformação congênita, que consiste no encurtamento dos membros do feto, tornando-os semelhantes ao de uma foca. Mãos e pés rudimentares se prendem ao tronco de forma irregular. Defeitos adicionais são o lábio leporino, deformações em olhos e ouvidos etc.
Casos semelhantes e em número crescente passaram a ser reportados em muitos outros países. Um médico australiano descobriu que todas as mulheres que tinham tido bebês com focomelia haviam tomado o medicamento. Ele escreveu um artigo de alerta, mas não pôde publicá-lo. Foi censurado sob alegações de que a metodologia não era correta. Não se pode tapar o Sol com a peneira. A empresa que produzia a talidomida retirou-a do mercado em todos os países. Hoje a talidomida é receitada apenas para lepra e alguns tipos de câncer. Milhões de pessoas foram protegidas pela decisão corajosa da doutora Frances Kelsey. Muitas mulheres cuidam de providências tão delicadas quanto essa em todo o mundo. No Brasil, elas são mães, cozinheiras, tias, avós, enfermeiras, médicas, juízas, babás, promotoras, advogadas, ministras e uma delas é presidente da República.





Fonte:  Jornal do Brasil - Deonísio da Silva - Escritor e professor

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