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domingo, 11 de abril de 2010

Budismo em crise?

Da Tailândia ao Camboja, e até no Tibet, avança a secularização.
Análises apontam as dificuldades

por Gerolamo Fazzini

"É sobre o comum respeito pelos seres humanos que nós, cristãos e budistas, devemos construir uma cultura da vida', [...] uma forma de reagir e vencer a cultura da morte", Mensagem do Cardeal Francis Arinze aos Budistas, pelo "Vesakh" de 2002 (Vesakh = a celebração da lua cheia de maio em que se comemora o nascimento, a iluminação e a morte de Buda)

O Budismo está atravessando, pelo menos em alguns países do Oriente, uma crise que tudo indica não ser passageira. Em alguns aspectos, a pressão da secularização se faz sentir na Ásia, não menos do que acontece com o cristianismo na Europa.

O jornal Bangkok Post, da Tailândia, escreve alarmado:

“Os velhos budistas reconheciam a crença na iluminação espiritual (nirvana) como fim último da prática religiosa; na existência de outros mundos que transcendem a vida presente; em uma fé simples, em um céu que espera os bons e em um reino infernal para os maus. Mas, as pessoas de hoje demonstram pouco interesse por tais crenças. O despertar supremo se tornou uma tarefa muito difícil – mais que isso, impossível – para a maioria dos praticantes.

Alguns sucessos tangíveis, geralmente materiais, no mundo de hoje, emergem como a única medida do próprio valor; quanto às noções de outros planos de existência além da morte, somente se pode sorrir”. A citação se refere a uma pesquisa que um especialista, Phra Phaisan Visalo, conduziu por oito anos, sobre a situação do budismo Theravada (no idioma Pali: “thera” anciãos + “vada” palavra, doutrina = “Doutrina dos Anciãos”), na Tailândia.


Segundo o estudioso, a crise atual é tão grave que dela depende a sobrevivência ou o desaparecimento da religião no futuro. Nos últimos anos, na Tailândia, expoentes budistas foram envolvidos em episódios nada edificantes e em casos obscuros. Eglises d´Asie, prestigiosa revista das “Missões estrangeiras de Paris”, dedicou diversas matérias à análise do fenômeno.

No Camboja, o Budismo praticado também é o Theravada, mas se divide em duas correntes:

- a Mohanikay, majoritária, e a Thammayut, considerada de importação estrangeira e mais próxima das elites intelectuais. É notório o ressurgimento das tradições passadas, com a restauração e construção de pagodes, como uma forma de exorcizar os fantasmas da época do Kmer Vermelho, que suprimiu radicalmente as religiões. Mas, quanto é real este renascimento do Budismo? Quem levanta esta questão é o renomado semanário Far Eastern Economic Review, que, numa recente pesquisa junto a estudiosos cambojanos, constatou a sua preocupação pela saúde espiritual do monaquismo local,
“cuja imagem foi manchada pelos fenômenos de suicídio coletivo, pedofilia, uso de drogas, episódios de violência e de violação do rigoroso código disciplinar”. A sensação é que o Budismo está sempre mais enfraquecido e vulnerável aos agentes externos.

Um jovem missionário do PIME, Pe. Alberto Caccaro, sustenta que a crise do Budismo cambojano “depende também da deficiente educação dos monges, da pobreza intelectual e da falta de ensinamentos capazes de transmitir aos jovens a enorme tradição espiritual budista. O aprendizado da doutrina é mecânico e atualmente está disseminada uma prática ritual considerada suficiente, mas que revela um nítido vazio de experiência religiosa: as pessoas oferecem dinheiro e comida aos monges em troca de orações. Mas, não importa se as pessoas entendem o que fazem e se o monge sabe o que está dizendo – interessa apenas o rito enquanto tal”. As jovens gerações tendem a manter distância do formalismo de uma religião inspirada freqüentemente no medo. E o abandono seria ainda maior se não fosse, justamente, pelo medo e pela devoção aos mortos, tradição que ainda resiste.

A situação não está melhor no Tibet, onde a colonização, conduzida por Pequim, trouxe a eliminação de muitos templos, com risco do enfraquecimento da prática religiosa. Há algum tempo, as autoridades chinesas, que agora controlam a ex-província rebelde, entenderam que o arco de espiritualidade e mistério, que circunda aquilo que resta de uma tradição espiritual riquíssima, pode se tornar um negócio. Daí a idéia de incentivar a chegada de turistas ocidentais, felizes por visitar lugares míticos, imortalizados por filmes oportunistas, mais que por entender a raiz autêntica de uma disciplina espiritual de fundamentos antiquíssimos.

O mesmo se pode verificar em Mianmar, que foi sede do IV Congresso Mundial Budista, em dezembro de 2004. A junta militar no poder não tem preocupação com o bem-estar espiritual do povo, que na sua maioria é fiel aos ensinamentos de Buda, mas se empenha em atrair turistas estrangeiros com o fascínio dos pagodes de tetos dourados, estátuas e monges envoltos nas suas inconfundíveis túnicas alaranjadas. É preciso outro argumento para que o Budismo resgate o seu carisma espiritual original. É o que desejam os que buscam, de coração, um autêntico diálogo inter-religioso.

Budismo e Cristianismo em diálogo

O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, órgão da Cúria Romana, tem promovido encontros entre estudiosos, católicos e budistas, de diversos países do mundo, visando aprofundar temas fundamentais entre as duas religiões.

O I.º Colóquio Budista-Cristão ocorreu em 1995, no mosteiro budista Fo Guang Shan, na cidade de Kahosiung, Taiwan, tendo como tema “Budismo e Cristianismo: convergências e divergências”. Esse encontro, realizado pouco depois da publicação do livro “Cruzando o limiar da Esperança” (1994 – autor: João Paulo II), auxiliou a superar algumas dissensões levantadas entre budistas diante algumas afirmações do papa nesta obra.

O II.º Colóquio, realizado no mosteiro beneditino Asirvanam, em Bangalore, Índia, no ano de 1998, abordando o tema “Palavra e Silêncio na tradição budista e na tradição cristã”, assinalou um importante passo adiante na consciência, na compreensão e na comunicação recíprocas. De 29 de setembro a 4 de outubro de 2002, a organização de leigos budistas Rissho-kosei-kai acolheu em Tóquio, Japão, os participantes

O III.º Colóquio, contando inclusive com a presença do arcebispo dom Michael L. Fitzgerald, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e do cardeal Francis Arinze, Prefeito da Congregação da Disciplina dos Sacramentos e do Culto Divino. O tema deste encontro, “O Sangha no Budismo e a Igreja no Cristianismo”, quis salientar o núcleo essencial que dá identidade e força de associação às duas tradições religiosas.

O Sangha, para os budistas, é a comunidade de todos os seguidores dos ensinamentos de Buda, o mestre supremo que descobriu e percorreu o caminho que conduz à libertação. A Igreja, para os cristãos, é o povo de Deus, o sacramento da salvação, o corpo de Jesus – em outras palavras, a Igreja é o ponto de convergência de toda a humanidade, chamada a participar da plenitude da vida divina, compartilhando os dons da cultura e das tradições religiosas próprias de cada povo. O plano salvífico de Deus exige a unidade de todos os seus filhos, mesmo na diversidade, através de um amor recíproco que supera oposições e divisões.

As duas visões evidenciaram um espaço comum, em que os seguidores de Buda e os discípulos de Cristo podem se reconhecer e se encontrar:

- ambos são chamados, por força de sua pertença religiosa, à renúncia de si mesmo, a uma vida de compaixão e de bondade, de amor e de serviço, do qual ninguém, nem mesmo o inimigo, pode ser excluído. No mundo atual, em que divisões, preconceitos, nacionalismos e discriminações étnicas causam tantos sofrimentos e prejuízos à humanidade, é essencial despertar a consciência de pertença a uma única família humana, para que todos se sintam encorajados a um empenho comum contra a guerra, contra o terrorismo, em busca da paz. O documento final do III.º Colóquio exorta o aprofundamento da cultura do diálogo para que as pessoas de todas as religiões alcancem o conhecimento e o respeito recíproco.

Fontes: AVVENIRE e Ad Gentes

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