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terça-feira, 27 de abril de 2010

Tratamentos cerimoniosos (Hipérboles)

O pequeno texto que segue reproduzido, lembra-me o esforço que temos de fazer, para não dizer o que gostaríamos de afirmar, quanto temos que fazer certas petições, endereçadas a um magistrado que fez uma tremenda burrada ao despachar ou julgar o mérito de uma ação.
Mesmo que o juiz tenha feito uma enorme besteira, vimo-nos, em nome dos nossos clientes, na infeliz situação de ter que tratar o julgador como "Excelência", "Excelentíssimo", "Meritíssimo", "Ínclito", "Preclaro", ao ensejo da interposição do recurso tendente a modificar o decisum.
A mão no teclado torna-se reticente, resiste a escrever aquela bajulação, mas a mente, condicionada pelos comandos legais, faz com que seja digitada a maldita palavra mentirosamente elogiosa.
Ai, como dói ter que ceder à imposição absurda de tratamento respeitoso, solene, formal, para alguém a quem a gente está doido para rotular de incompetente! Talvez consigamos fazê-lo pelo fato de que não somos perfeitos e também fazemos nossas asneiras, na avaliação dos outros.
Em nome da urbanidade, que nos impõe a lei, vimo-nos privados de ser autênticos, verdadeiros, honestos, mesmo.
Alguém já me disse que o Direito é o reino da hipocrisia, muito próximo da política (no mau sentido), contra o que, de imediato, me insurgi, mas, à medida que o tempo passa, vejo-me tentado a dar crédito à afirmação em destaque.
Com a chegada da velhice, tenho criado coragem e ficado mais "curto e grosso", mais grosso que curto, admito, quando redijo as ações populares propostas em meu próprio nome. Tenho sido contundente, quando me convenço das teses defendidas, embora preocupado em não ser injusto, sempre.
Recebo verdadeiros coices de volta (desferidos pelos "colegas", falando em nome dos seus clientes, que me rotulam de grosso, bilioso e rastaquera, entre outros "elogios', mas não tenho como me sentir ofendido, pois foi assim mesmo que me posicionei: ácido, direto, ofensivo, procurando atingir os fígados dos adversários, buscando nocauteá-los desde o início.
Resolvi levar a sério a assertiva de que o Direito deve basear-se no princípio da primazia da realidade, postura que, quase sempre, é interpretada como ofensiva, porquanto as pessoas e instituições contra quem detono as ações não gostam de receber, "na lata", aquilo que considero verdades.
Há muita gente - principalmente os grandes - preocupada com a paz, a conciliação social, a tolerância e poucos têem a coragem de dizer o que efetivamente sentem, para não angariar desafetos, inimigos mesmo. Em tais circunstâncias, o aumento da hipocrisia será inevitável e a humanidade tenderá a cair de podre, desaparecendo a coragem, a ética, a honra, a dignidade.
Prevalecerão, cada vez mais, o teatro, a dissimulação, a ficção e a indecência.
O ser humano, hoje como nunca, pela multiplicação das religiões, que o ensinam a delirar e não a ter os pés no chão, tende a tornar-se cada vez menos realista e mais cínico, para o asar da nossa espécie.

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A PALAVRA E A MENTIRA


Dizia Talleyrand, astuto diplomata francês, que a palavra foi dada ao homem para mentir. Em vez do anexim: a falar é que a gente se entende, devíamos recitar outro, bem mais verdadeiro: a falar é que a gente se aldraba. Isto sabia-o Talleyrand duzentos anos antes de José Sócrates ter prometido não aumentar os impostos. E mesmo fora do mundilho político, factos quotidianos no-lo provam. Apresentam-nos uma pessoa cujo conhecimento não nos desperta o menor interesse — e logo exclamamos com sorriso de orelha a orelha: — Muito prazer! Ora, muito prazer o caraças...! Para falar verdade, teríamos que pronunciar: — Tomo nota do seu nome. Ou então, mais secamente: — Vamos a ver se V. Ex.ª não me sai um grande f. da p.! Isto sim, o que todos pensam — que da sacrossanta «pessoa humana» só há uma coisa a esperar: o pior possível. Contudo, o fenómeno não é exclusivamente português, antes participa da lei universal. Os franceses, por exemplo, exagerando ainda mais, dizem-se encantados (enchanté) na hora das apresentações. Encantados...! Um pobre lugar-comum, assim como lugares-comuns são quase todas as falas do homem político, sempre apostado no "bem comum", na Liberdade com maiúscula, e na defesa do governo do povo.
Hipérboles chamam os filólogos aos exageros de expressão. E o Padre António Vieira ensinou: «O fim por que a hipérbole se estende tanto fora dos limites do que pretende persuadir, é porque quer chegar à verdade por meio da mentira.» O pregador jesuíta é que sabia da poda.

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