O Diário Oficial da União publicou nesta segunda-feira 28 o
texto do novo Código Florestal brasileiro, com os 12 vetos da presidente
Dilma Rousseff à proposta elaborada pelo Congresso. Também foi
publicada nesta segunda a Medida Provisória 571/2012, que preenche as
brechas legais deixadas pelo veto e, em tese, recupera o formato do
texto elaborado pelo Senado, considerado bom pelo Planalto. Ao todo,
cinco artigos inteiros e sete parágrafos foram vetados. Engajados em uma
campanha para Dilma vetar totalmente o Código, os ambientalistas
consideraram a solução do Planalto uma “encenação”. Os ruralistas, por
sua vez, ficaram aliviados por temerem um veto total. No Congresso,
parlamentares dois dois lados tiveram reação mais moderada.
Para o diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, o
veto foi uma encenação para escapar de críticas na Rio+20, a conferência
sobre o desenvolvimento sustentável que o país sedia neste mês. “A
presidenta, ao contrário do que disseram seus ministros na sexta-feira
25, manteve os dispositivos de anistia aos desmatadores e reduziu a Área
de Proteção Permanente (APP)”, disse. “Além disso, a decisão de regular
via Medida Provisória não dá nenhuma garantia de que as alterações
serão mantidas”, completou. Na prática, o veto de Dilma e a apresentação
da MP reiniciam o debate. O veto pode ser derrubado pelos parlamentares
e a MP depende da aprovação do Congresso, que pode alterá-la ou
derrubá-la.
Segundo Marcio Astrini, coordenador de campanhas do Greenpeace, outra
ONG, a proposta não tem nenhuma linha que vise diminuir o desmatamento.
“O Código se preocupa com anistiar quem desmatou no passado e dar
crédito a quem desmatar no futuro”, afirma. Astrini justifica sua
posição com base nos artigos que passaram ilesos ao veto da presidente. O
coordenador do Greenpeace cita o artigo 4º do Código Florestal. Nele, o
tamanho das APPs nas margens dos rios será definido pela calha regular
do rio. Ou seja, pela variação entre a estação seca e de cheia – não
mais pela área máxima que o rio atingia. Além disso, o artigo 41º
permite que os gastos com a recuperação das áreas desmatadas sejam
deduzidos do Imposto de Renda e seja feito, em partes, com espécies
exóticas (plantas que pertencem a outro bioma). “Isso é um prêmio para o
desmatador”, ironiza Astrini.
Outro artigo não vetado, o 66º, permite que as compensações ocorram
em qualquer área desde que dentro do mesmo bioma. “Isso permite que se
desmate em uma área com mais infraestrutura e que se compense em terras
mais isoladas e baratas”, argumenta. Outro ponto polêmico, segundo
Astrini, é o fato dos estados definirem o tamanho e as condições da
recuperação da Reserva Legal desmatada. “Como podemos esperar que o
governo do Tocantins multe e exija que Irajá Abreu, deputado federal e
filho da senadora ruralista Kátia Abreu, recupere a área de Reserva
Legal desmatada em sua propriedade?”, questiona Astrini. O Greenpeace
também vê problemas no artigo 68 do Código. “Esse artigo prevê anistia
ao proprietário que desmatou antes de 1965, quando sequer existia lei
florestal no País. Isso permite que todos argumentem isso e onerem o
Estado nas investigações de cada caso”, diz.
Ruralistas temiam veto total
Para os ruralistas, o veto parcial de Dilma foi bem recebido, em
grande medida, porque este setor temia o veto total. Para o presidente
da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, o fato da
presidenta ter vetado apenas alguns artigos do texto redigido pelo
Congresso foi uma vitória. “Estávamos receosos de que o veto da
presidente fosse total porque a campanha a favor disso foi muito forte”,
conta. “Voltar à estaca zero depois de três anos de discussão seria uma
tragédia”. Segundo Ramalho da Silva, o debate democrático no
legislativo foi respeitado, assim como os interesses de um dos
principais setores da economia: o agropecuário. “Na minha opinião, a
presidente foi bem”, conclui Silva.
Na Congresso, as reação foram moderadas. O presidente da Frente
Parlamentar da Agropecuária, deputado Moreira Mendes (PSD-RO), evitou
criticar diretamente os vetos. Ele reconhece que o texto aprovado na
Câmara “saiu capenga” porque os deputados não podiam mais acrescentar
trechos ao que foi aprovado no Senado e quer uma nova discussão sobre
esse assunto. “As informações que temos é que a MP está mais ou menos no
mesmo caminho do projeto de lei que apresentamos logo após a aprovação
do Código Florestal”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Ao contrário do Greenpeace, o deputado Antônio Roberto (PV-MG), que
integra a Frente Ambientalista na Câmara, não vê os atos de Dilma como
facilitadores de uma anistia a quem desmatou irregularmente. “Essa é a
nossa grande luta. Não faz sentido anistiar criminosos ambientais”,
disse à Agência Brasil.
Ao que tudo indica, o debate sobre o Código Florestal deve continuar
quente no Congresso, mas, diante da reação de parlamentares ruralistas e
ambientalistas, ele deve ser guiado, e decidido, por posições menos
radicais.
Fonte: CARTA CAPITAL
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