Considerada um modelo de sucesso
a ser copiado por governantes latino-americanos e uma das principais
empresas da região, a Petrobras terá de enfrentar desafios internos se
quiser continuar a crescer nos próximos anos. A opinião é de
especialistas ouvidos pela BBC.
Na lista dos problemas domésticos citados pelos
analistas, estão desde as perdas registradas recentemente pela
petrolífera até o aumento da interferência política por parte do
governo.
Maior empresa brasileira, a
Petrobras tem sofrido com a queda no valor de suas ações a tal ponto de
ter perdido neste mês o posto de maior empresa latino-americana em valor
de mercado para a petrolífera colombiana Ecopetrol, segundo informou a
consultoria Economática.
Para analistas, a variação negativa no preço dos
papéis da companhia reflete um pessimismo do mercado sobre a atual
condução do modelo de negócios da estatal brasileira.
Segundo eles, os custos operacionais aumentaram
quando a empresa decidiu não repassar ao consumidor a alta no preço dos
combustíveis, resultado da apreciação do dólar no exterior, seguindo uma
política do governo de controle da inflação.
Além disso, na opinião dos especialistas, a
companhia teria sofrido outro baque com a recente desvalorização do
câmbio, uma vez que suas dívidas na moeda americana acabaram aumentando.
Como resultado, nos três primeiros meses deste
ano, o lucro da Petrobras caiu 16% em relação a igual período do ano
anterior, segundo o balanço divulgado pela companhia.
Pré-sal
Especialistas dizem que o maior desafio da
estatal será cumprir as metas estabelecidas, entre as quais dobrar a
capacidade de produção até 2020, para 6 milhões de barris por dia.
Para isso, dizem, a empresa conta com o início
da exploração comercial na camada pré-sal, localizada a mais de 6 mil
metros de profundidade e a 300 quilômetros da costa brasileira.
Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro
Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), foi a partir do descobrimento das
reservas que, paradoxalmente, os grandes problemas e desafios da
Petrobras surgiram.
"A partir de 2007, com o anúncio do pré-sal, o
modelo não foi mais exportável", disse. "A Petrobras passou a ser uma
empresa que se voltou novamente para o mercado interno e o próprio
Estado brasileiro se tornou mais intervencionista", acrescentou.
Anunciadas com pompa pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, as grandes reservas do pré-sal são estimadas em,
pelo menos, 50 bilhões de barris de petróleo, o que poderia elevar o
Brasil à condição de um dos cinco maiores produtores de petróleo do
mundo na próxima década.
Por outro lado, há um longo caminho até explorá-lo comercialmente, afirmam os especialistas ouvidos pela BBC.
Além da barreira geológica, composta por grossas
camadas de rocha e sal, serão necessários vultosos investimentos para
retirar o petróleo do fundo do mar.
Para atingir tal objetivo, a Petrobras realizou
em 2010 uma venda de ações de US$ 67 bilhões (R$ 134 bilhões),
considerada na ocasião a maior ampliação de capital da história.
Liderança
Embora ainda tenha imensos desafios pela frente,
a Petrobras continua bem avaliada por alguns analistas e governantes
latino-americanos, ora por sua importância ora por sua trajetória de
sucesso quando comparada a outras empresas estatais da região.
Além disso, com a descoberta do pré-sal, as perspectivas sobre o desempenho da petrolífera tendem a ser mais otimistas.
O êxito da estatal brasileira foi um dos
recursos utilizados pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner,
para nacionalizar, no mês passado, a petrolífera YPF, então sob o
controle da espanhola Repsol.
Mais recentemente, a candidata à Presidência do
México Josefina Vázquez, do governista Partido de Ação Nacional (PAN),
lembrou que a Petrobras é um "modelo muito inspirador" para a
petrolífera mexicana Pemex.
"(A Petrobras) tem sido um exemplo muito
importante de como uma empresa deficitária (...), vulnerável e
debilitada se tornou uma instituição sólida", disse dias atrás.
Segundo Tony Volpon, analista do banco de
investimento Nomura Securities, "como qualquer empresa petrolífera
estatal, a Petrobras alinha suas metas com as necessidades do
desenvolvimento do país", disse à BBC.
"Mas isso não é necessariamente destrutivo do
ponto de vista do valor acionário", acrescentou. "Em geral, acredito que
a Petrobras continua sendo uma companhia bem administrada e líder em
seu segmento, além de permanecer na dianteira ao construir uma cadeia de
produção e distribuição em torno das reservas do pré-sal", afirmou.
Histórico
Criada em 1953 como um monopólio estatal durante
o governo de Getúlio Vargas, a Petrobras atravessou ao longo de sua
história períodos de altos e baixos, assim como importantes
transformações.
Um das principais mudanças ocorreu com a lei de
1997, promulgada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que
acabou com o monopólio da estatal afim de atrair investimentos privados
para o mercado de hidrocarbonetos no Brasil.
O fim do monopólio representou uma virada
histórica para a companhia, que conseguiu se internacionalizar e ser
alçada ao topo da lista das empresas latino-americanas.
"Essa lei transformou a Petrobras num caso de sucesso", disse Adriano Pires.
Ainda que sempre tenha se mantido sob controle
estatal, a Petrobras abriu seu capital ao mercado e se expandiu.
Atualmente, suas ações são negociadas nas Bolsas de São Paulo e Nova
York e a empresa está presente em 24 países de cinco continentes.
Fonte: BBC
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