O Vaticano negou na segunda-feira, em meio à maior crise no pontificado
de Bento 16, notícias de que cardeais seriam suspeitos em uma
investigação sobre o vazamento de documentos, num caso que já levou à
prisão do mordomo do papa.
De acordo com a imprensa italiana, o mordomo Paolo Gabriele era apenas
um "leva-e-traz" numa disputa de poderes na Santa Sé. O escândalo
estourou na semana passada, quando o chefe do banco do Vaticano foi
repentinamente demitido, o mordomo foi detido por acusações de furto de
documentos, e foi publicado um livro apontando conspirações entre os
cardeais.
Os documentos vazados para os jornalistas denunciam corrupção no vasto
relacionamento financeiro entre a Igreja e empresas italianas.
Embora negando a veracidade dos relatos, o porta-voz do Vaticano, padre
Federico Lombardi, disse numa entrevista coletiva que "isso é
naturalmente algo que pode afetar a Igreja, e testar a confiança nela e
na Santa Sé".
Lombardi negou que "qualquer cardeal, italiano ou não, seja suspeito".
Ele acrescentou que o papa está sendo informado do assunto, e que
"continua no seu caminho de serenidade, na sua posição de fé e moral que
está acima da refrega".
Carlo Fusco, advogado do mordomo, disse que ele está "muito sereno e tranquilo", e que pretende colaborar com as investigações.
BODE EXPIATÓRIO
Uma fonte anônima e responsável pelo vazamento de alguns documentos
disse ao jornal italiano "La Reppublica" que o mordomo está sendo usado
como bode expiatório, porque a Igreja não ousa implicar os cardeais
responsáveis pelos vazamentos.
"Há vazadores entre os cardeais, mas o Secretariado de Estado não podia
dizer isso, então prenderam o servidor, Paolo, que estava só entregando
as cartas em nome de outros".
Ao "La Stampa", o responsável por um dos vazamentos afirmou que o
objetivo das denúncias é ajudar o papa a erradicar a corrupção.
O Secretariado de Estado, órgão administrativo do Vaticano, é comandado
pelo cardeal Tarcisio Bertone, poderoso braço-direito do papa, e o
escândalo parece envolver uma disputa de poder entre seus aliados e
inimigos, evocando as conspirações renascentistas na Santa Sé.
Fonte: FOLHA DE SP
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