As contas foram feitas com base no saldo da carteira de crédito para compra de veículos apresentado no Relatório de Crédito do BC
Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Bancos e financeiras já perderam R$ 10,1 bilhões com o calote do consumidor no pagamento de financiamentos de veículos novos e usados até março, calcula o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central (BC), Carlos Thadeu de Freitas.
As contas foram feitas com base no saldo da carteira de crédito concedido para compra de veículos e apresentado no Relatório de Crédito do BC, que somou R$ 177 bilhões em março deste ano, e na fatia de financiamentos com prestações atrasadas acima de 90 dias, que atingiu 5,67% no período. Normalmente, essa cifra é lançada como provisões nos balanços dos bancos e parte dela é recuperada por meio de renegociações de dívidas, mas com descontos.
Foi exatamente para reverter o aumento do calote de veículos e ajudar a desovar o estoque de carros zero-quilômetro estacionados no pátio das montadoras que o governo baixou medidas para impulsionar o setor.
Entre elas estão a redução de Imposto sobre Produto Industrializados (IPI) dos carros, corte no preço de fábrica dos veículos zero e diminuição do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em geral, que atinge também as operações de crédito de automóveis novos e usados.
Na análise de Freitas, do ponto de vista macroeconômico, as medidas anunciadas vão surtir efeito limitado, isto é, com maior impacto no segmento de veículos porque o consumidor está muito endividado. Ele acredita que as elas ajudarão a regularizar os estoques elevados de carros. "O consumidor que planejava comprar um imóvel pode mudar de ideia e comprar um carro, diante dos descontos atraentes", exemplifica o economista.
Um dos obstáculos apontados por Freitas para que o pacote tenha impactos efetivos na aceleração do ritmo de atividade, mesmo que ocorra ampliação dos prazos de pagamento dos financiamentos como quer o governo, é o alto endividamento do consumidor. "Quase 23% da renda disponível está comprometida com pagamento de dívidas", diz ele. Além disso, o País vive hoje um período de fraco crescimento, no qual a renda da população não deve ser ampliada no ritmo registrado desde 2010.
Porém, segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, a redução de IPI, do preço de fábrica dos veículos, e do Imposto sobre Operações Financeiras é importante. Mas o efeito do alongamento dos prazos de pagamento dos financiamentos tem impacto mais efetivo na direção de levar o consumidor a fazer nos crediários. "O prazo de pagamento maior reduz o valor da prestação", destaca . Na pesquisa de abril da entidade, o prazo máximo para carros era de 60 meses e o mais frequente, de 40 meses.
Otimismo
"Estamos otimistas, as medidas vão promover uma reação no mercado", afirma o presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti. De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os estoques de veículos novos espalhados entre montadoras e concessionárias continuam elevados.
No fim de abril, equivaliam a 43 dias de vendas ou 366 mil veículos. As informações que a entidade tinha até segunda-feira, antes do anúncio das medidas, eram de que o mercado continuava em queda, sem reação.Fonte: ESTADO DE SP
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