Levantamento do Inpe e SOS Mata Atlântica mostra que taxa de perda da vegetação teve leve queda de 2010 a 2011, mas a presença de nuvens pode ter mascarado valor real
Giovana Girardi
A taxa de desmatamento da Mata Atlântica voltou a
apresentar uma leve queda entre 2010 e 2011, em relação à perda de
cobertura florestal que havia ocorrido no biênio anterior (2008 a 2010),
mas os dados levantam a bandeira vermelha de que o bioma mais devastado
do Brasil continua sendo ameaçado.
Jose Patricio/AE
Arrendamento para plantação de cana em fazenda de MG colaborou para a derrubada de árvores
Essa é a interpretação feita pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que divulgaram nesta terça, 29,
o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.
Olhando apenas a estatística, a devastação praticamente ficou
estável. No biênio 2008- 2010, o desmate tinha sido de 31.195 hectares -
cerca de 15.500 por ano. Entre 2010-2011 (período de um ano) foi de
13.312 ha ou 133 km². Mas houve aumento significativo na Bahia e em
Minas, líderes no ranking do desmate (mais informações nesta página). E
justamente esses Estados estiveram muito cobertos por nuvens durante a
observação pelo satélite (cerca de 60% de visualização).
"Não posso afirmar que parou ou diminuiu o desmatamento porque grande
parte de Bahia e de Minas não foi avaliada. Certamente se eu tivesse
imagens - como esses são os Estados mais críticos - teríamos observado
mais desmatamento ali", explica Marcia Hirota, coordenadora do Atlas
pela SOS Mata Atlântica.
Além disso, no levantamento anterior haviam sido mapeados 16 dos 17
Estados originalmente cobertos pela Mata Atlântica e neste foram somente
dez. Em Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do
Norte, a análise foi impossibilitada pela ocorrência de nuvens. Piauí
não foi avaliado em nenhuma ocasião. "Vimos queda em termos absolutos,
mas se tivesse todas as informações, provavelmente esse total seria
maior."
Segunda Márcia, a ameaça na Bahia e em Minas, onde o problema já
tinha sido identificado no levantamento anterior, são os fornos de
carvão. O alvo são sobretudo as regiões com as chamadas "matas secas",
um tipo de vegetação que lembra a do Cerrado e por isso às vezes é
confundida com ele. Mas pela lei da Mata Atlântica, de 2006, não é.
Entre os municípios campeões de desmate, três estão em Minas (Águas
Vermelhas, Jequitinhonha e Ponto dos Volantes, 1º, 3º e 5º,
respectivamente), formando o que especialistas chamaram de "triângulo do
desmatamento". Lá, a pressão é dos fornos.
Para a equipe, apesar de o total de desmate parecer pequeno, os dados
são significativos porque restam 7,9% de Mata Atlântica no País, quando
analisados os fragmentos com mais de 100 hectares - tamanho considerado
representativo para a conservação da biodiversidade.
Código Florestal. Mario Mantovani, diretor de
Políticas da Mata Atlântica, alerta que o dado também é significativo
diante da mudança do Código Florestal. Apesar de a lei da Mata Atlântica
prevalecer sobre o Código, garantindo a proteção ao bioma, ele reduz a
necessidade de recomposição de mata ciliar que tenha sido desmatada. Na
avaliação dos especialistas, para a Mata Atlântica, a recuperação é até
mais importante, visto que a maior parte já está destruída.
Isso põe em risco, segundo eles, o fornecimento de água das grandes cidades, como São Paulo.
Fonte: ESTADO DE SP
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ATUALIZAÇÃO:
Santa Catarina foi o quarto estado que mais desmatou em 2011
Em relação aos dois anos anteriores, o desmatamento continua estável no Brasil
Nos últimos 25 anos, a Mata Atlântica perdeu 1,7 milhão de hectares
Foto:
Daniel Conzi / Agencia RBS
Em 2011, o bioma Mata Atlântica perdeu 13,3 mil hectares de área, ou 133
km², no Brasil, o que corresponde a 19 mil campos de futebol,
aproximadamente. Santa Catarina foi o quarto estado brasileiro que mais
desmatou. Foram perdidos, aqui, 568 hectares de mata, o equivalente a
5,7 km². Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Instituto
Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe). De acordo com a coordenação do
estudo, o ritmo de desmatamento continua estável, em relação aos dois
anos anteriores.
Minas Gerais liderou o desmatamento, com 6.339 hectares. A Bahia
ficou na segunda posição, com desflorestamento de 4,7 mil hectares. Na
sequência, vêm Mato Grosso do Sul (588 hectares), Santa Catarina (568
hectares), Espírito Santo (364 hectares), São Paulo (216 hectares), Rio
Grande do Sul (111 hectares), Rio de Janeiro (92 hectares), Paraná (71
hectares) e Goiás (33 hectares).
O ritmo de desmatamento é inferior ao registrado no levantamento
Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica anterior, que
analisou dois anos até 2010, quando o bioma perdeu, ao todo, 31,2 mil
hectares.
— Embora tenha tido uma leve queda, provavelmente o
índice apresentado hoje seria maior se não tivéssemos problemas com
nuvens. O (ritmo de) desmatamento continua estável, o que é preocupante —
disse a coordenadora do Atlas pelo SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota,
em referência a Minas Gerais e Bahia, que encabeçam o ranking dos que
mais desmataram no período.
Os estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo foram avaliados
parcialmente no estudo, por causa da cobertura de nuvens que prejudicou a
captação de imagens por satélite. O estudo analisou dez dos 17 Estados
que possuem o bioma, que representam 93% da área total de Mata
Atlântica.
Em relação aos municípios, os pesquisadores alertam para a região que
chamam de "triângulo do desmatamento", entre Bahia e Minas Gerais. No
ranking dos municípios, cidades dos dois estados ficam no topo.
Nos últimos 25 anos, a Mata Atlântica perdeu 1,7 milhão de hectares,
ou 17,3 km², ficando reduzida a 7,9% de sua área original, se
considerados os remanescentes florestais em fragmentos acima de 100
hectares, representativos para a conservação de biodiversidade.
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