COMUNIDADES
A seguir, um pouco da história das comunidades judaicas nos países árabes, desde suas origens até a quase extinção nos dias atuais. Clique no menu ao lado para ir direto a uma comunidade de seu interesse.
INTRODUÇÃO
Os judeus vivem no Oriente Médio, Norte da África e na região do Golfo há vários séculos. Houve uma presença ininterrupta de grandes comunidades judaicas no Oriente Médio desde os tempos remotos, mais de 2.500 anos antes do nascimento dos estados árabes modernos. Veja a época em que algumas delas surgiram:
Iraque - século 6 a .C.
Líbia - século 3 a .C.
Iêmen - século 3 a .C.
Líbano - século 1 a .C.
Síria - século 1 a .C.
Marrocos - século 1 d.C.
Argélia - séculos 1 e 2 d.C.
Tunísia – século 2 d.C.
Líbia - século 3 a .C.
Iêmen - século 3 a .C.
Líbano - século 1 a .C.
Síria - século 1 a .C.
Marrocos - século 1 d.C.
Argélia - séculos 1 e 2 d.C.
Tunísia – século 2 d.C.
Após a conquista da região pelos muçulmanos, sob o domínio islâmico os judeus passaram a ser considerados cidadãos de segunda classe, mas a eles eram permitidas, durante um determinado período, oportunidades religiosas, educacionais, profissionais e empresariais limitadas.
Isso mudou no século 20, quando ocorreu um padrão de perseguição consistente e difundido e violações em massa dos direitos humanos das minorias judaicas em países árabes. Decretos e legislações oficiais aprovados pelos regimes árabes negaram direitos humanos e civis aos judeus e às outras minorias; suas propriedades foram desapropriadas; eles foram privados de sua cidadania e de seu sustento. Os judeus eram frequentemente vítimas de assassinato, prisões e detenções arbitrárias, tortura e expulsões.
Com a declaração do Estado de Israel em 1948, o status dos judeus nos países árabes piorou drasticamente à medida que muitos países árabes declararam ou apoiaram guerra contra Israel. Os judeus foram, então, expulsos dos países onde residiam há anos e tornaram-se reféns políticos dominados do conflito árabe-israelense.
Os direitos e a segurança dos judeus residentes em países árabes passaram a ser atacados física e legalmente pelos governos e pela população de um modo geral. Na Síria, por causa das perseguições anti-judaicas em Alepo, em 1947, dos 10 mil judeus da cidade, 7 mil fugiram do terror. No Iraque, o “sionismo” tornou-se um crime capital. Mais de 70 judeus foram assassinados por bombas na região judaica do Cairo, no Egito. Após os franceses terem desocupado a Argélia, as autoridades emitiram uma variedade de decretos anti-judeus que induziram os quase 160 mil judeus a fugirem prontamente do país. Após a Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre o Plano de Partilha, em 1947, amotinadores muçulmanos deram início a perseguições sanguinárias em Áden e Iêmen que acabaram causando a morte de 82 judeus. Em diversos países os judeus foram expulsos ou tiveram sua cidadania revogada (como, por exemplo, na Líbia). Inúmeros judeus fugiram de 10 países árabes. Eles se tornaram refugiados em uma região predominantemente hostil aos judeus.
As restrições sancionadas pelo estado, freqüentemente associadas à violência e repressão, forçaram um deslocamento em massa dos judeus. Resultado: mais de 850 mil judeus foram expulsos das terras que eles e seus ancestrais viviam há várias gerações. Saiba mais sobre estas comunidades:
Bar Mitzvah de gêmeos, Cairo, Egito, 1930. | Histórico Os judeus vivem no Egito desde os tempos bíblicos. As tribos israelitas mudaram-se inicialmente para a terra de Goshen (extremo nordeste do delta do Nilo) durante o reinado do faraó egípcio Amenhotep IV (1375-1358 b.C.). Ao longo dos anos, os judeus buscaram abrigo e habitaram o Egito. Em 1897, havia mais de 25 mil judeus no Egito, a maior parte deles concentrada nas cidades do Cairo e Alexandria. Em 1937, a população alcançou 63.500 judeus. |
Na década de 1940, com o crescimento do nacionalismo egípcio e os esforços do movimento sionista para criar uma terra natal judaica adjunta a Israel, as atividades anti-judaicas começaram a surgir com mais intensidade. Em 1945, as agitações começaram – dez judeus foram mortos, 350 ficaram feridos e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início entre junho e novembro de 1948. Bombas foram postas no quartel judeu, matando mais de 70 judeus e ferindo cerca de 200. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em muitas outras mortes. Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confiscadas.
Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confiscar suas propriedades. A eles foi permitido levar do país apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproximadamente mil outros judeus foram presos ou mandados para campos de concentração. Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo Ministro de Assuntos Religiosos e lido em voz alta pelas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus são sionistas e inimigos do Estado”, e prometeu que todos seriam, em breve, expulsos (AP, 26 e 29 de novembro de 1956; New York World Telegram).
Em 1957, a população judaica no Egito ja tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, houve uma nova onda de perseguições, e a comunidade judaica caiu para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.
Os direitos dos judeus foram finalmente recuperados em 1979, depois que o presidente Anwar Sadat assinou o Acordo de Camp David com Israel. Somente então foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no mundo. Os quase 200 judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está agora praticamente extinta.
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
O primeiro Código de Nacionalidade foi promulgado pelo Egito em 26 de maio de 1926. Somente tinham direito à nacionalidade egípcia aqueles “pertencesse racialmente à maioria da população de um país cuja língua seja o árabe ou cuja religião seja a islâmica”. 2 Esta cláusula serviu como pretexto oficial para expulsar muitos judeus do Egito.
Em 9 de julho de 1947, uma emenda foi introduzida à Lei das Empresas Egípcias, tornando obrigatório a uma empresa que 75% dos empregados de setores administrativos e 90% dos empregados em geral fossem cidadãos egípcios. Isto resultou na demissão e na impossibilidade de conseguir novos empregos para muitos judeus, pois apenas 15% da população judaica possuía a cidadania egípcia. 3
Os judeus partiram em massa do Egito quando foi criada uma nova emenda, em 1956, retificando a Lei de Nacionalidade Egípcia de 1926. O Artigo 1 da lei de 22 de novembro de 1956 estipulava que os “sionistas” fossem proibidos de receber a cidadania egípcia. 4 O Artigo 18 da lei de 1956 reforçava ainda que “a nacionalidade egípcia poderia ser retirada, por ordem do Ministério de Relações Interiores, em caso de pessoas classificadas como sionistas”. Além disso, o termo "sionista” nunca foi definido, deixando então que as autoridades egípcias o interpretassem como bem entendessem.
As cláusulas nas leis de 1956 e 1958 permitiram que o governo retirasse a cidadania de qualquer judeu egípcio que estivesse ausente do território da RAU (República Árabe Unida) por mais de seis meses consecutivos. O que prova que estas cláusulas foram feitas para atingir exclusivamente os judeus é o fato de que as listas de pessoas desnaturalizadas, publicadas de tempos em tempos pelo Diário Oficial, continham apenas nomes judeus, apesar de muitos outros egípcios não-judeus terem se ausentado por mais de seis meses do território egípcio. 5
Discriminação econômica e estrangulamento (apenas alguns exemplos)
A lei nº 26 de 1952 obrigava todas as empresas a empregar percentagens pré-determinadas de “egípcios”. Um grande número de empregados judeus assalariados perdeu seus empregos, e não conseguiram outros, porque não pertenciam à categoria de judeus que possuía nacionalidade egípcia.
Entre 1 e 20 de novembro de 1956, registros oficiais revelam que, por uma série de ordens de confisco dadas pela Proclamação Militar nº 4, as propriedades de muitas centenas de judeus no Egito foi retirada de seus donos e entregue a administradores egípcios. A Proclamação nº 4 foi posta em prática quase que exclusivamente em judeus; e ainda que um pequeno número de coptas e muçulmanos tenham sido também prisioneiros de guerra, seus pertences nunca foram tomados. 7
Das listas publicadas contendo 486 pessoas e empresas cujas propriedades foram retiradas pela Proclamação Militar nº 4, pelo menos 95% dos nomes eram judeus. Os nomes de pessoas e empresas afetadas por esta medida representa o volume econômico substancial representado pelos judeus no Egito, as maiores e mais importantes empresas e seu sustento principal, por meio de contribuições voluntárias, de instituições judaicas religiosas, educacionais, sociais e de bem-estar social no Egito. 8
Além do confisco de propriedade e outros tratamentos discriminatórios, a Diretiva nº 189 criada sob a autoridade da Proclamação Militar nº 4, autorizava que o Diretor Geral da Agência de Confisco deduzisse, dos pertences de pessoas presas na guerra, 10% do valor total das propriedades confiscadas, alegando ser este para cobrir custos administrativos. A partir disso, sem nenhuma preocupação em relação à legalidade do confisco de propriedades, os judeus do Egito passaram a pagar taxas pela maquinaria ou por confisco e retenção impróprios. 9
Os judeus que deixavam o Egito eram sujeitos a privações e inconveniências adicionais. Uma regra foi estabelecida autorizando judeus que deixassem o Egito a levar com eles cheques de viagem ou outros documentos de troca no valor máximo de 100 libras esterlinas por pessoa. O Banco do Egito fornecia aos judeus que saíam do país instrumentos criados especificamente para contas egípcias na Inglaterra e França, quando as autoridades egípcias sabiam muito bem que tais contas eram bloqueadas em reciprocidade ao bloqueio egípcio de pertences ingleses e franceses, e que não eram livremente negociados fora do país. 10
Cerimonial de memória para Menahem Salah Daniel, líder da comunidade judaica de Bagdá. | Histórico O Iraque é a designação moderna para um país estabelecido com a antiga Babilônia, a Assíria e a parte sul da Turquia após a Primeira Guerra Mundial. O Iraque é também o lugar da mais antiga diáspora judaica, a de história contínua mais longa, de 721 b.C. a 1949 a .C., uma faixa de tempo de 2670 anos. |
Comerciantes judeus de Bagdá |
No século III, a Babilônia tornou-se o centro do conhecimento judaico, como é confirmado pela contribuição mais influente do conhecimento judaico à comunidade, o Talmude babilônico. Os judeus prosperaram no que era então a Babilônia por 1200 anos antes da Conquista Muçulmana em 634 d.C. Sob controle dos muçulmanos, a situação da comunidade judaica tornou-se instável. Alguns judeus possuíam altos cargos de governo ou prosperavam com o comércio e as trocas. Ao mesmo tempo, outros judeus eram submetidos a taxas especiais e restrições em suas atividades profissionais. Sob o controle britânico, que começou em 1927, os judeus iam bem economicamente, mas todo este progresso cessou quando o Iraque conquistou sua independência em 1932.
Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti, iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos armados assassinaram 180 judeus e feriram outros mil.
Insurreições adicionais de manifestações anti-judaicas ocorreram entre 1946 e 1949. Após o estabelecimento de Israel em 1948, o sionismo tornou-se um crime capital.
Judia iraquiana foge com seu filho | Em 1950, foi permitido que os judeus iraquianos deixassem o país em um ano caso desistissem de suas cidadanias. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram dadas aos judeus que permaneceram no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra e Nehemiah, outros 20 mil foram retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que chegou a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a seis mil depois de 1951. Em 1952, o governo do Iraque barrou os judeus de imigrarem. Com a ascensão de facções rivais Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquianos remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados a carregar cartões de idntidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após a Guerra dos Seis Dias em 1967, quando muitos dos três mil judeus restantes foram presos e demitidos de seus empregos. Por volta desta época, medidas mais repressoras foram tomadas: as propriedades dos judeus foram tomadas; as contas bancárias, congeladas; os judeus foram despedidos de cargos públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desligados. Os judeus foram colocados em prisão domiciliar por longos períodos de tempo, ou ficavam restritos a suas próprias cidades. |
As perseguições chegaram ao seu limite máximo no final de 1968. Grupos de judeus eram presos sob alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários judeus. Quatorze homens – sendo onze deles judeus – foram sentenciados à morte em julgamentos encenados e, em 27 de Janeiro de 1969, foram enforcados em praças públicas de Bagdá; outros morreram sob tortura (Judith Miller e Laurie Mylroie, “Saddam Hussein and the Crisis in the Gulf”, p. 34).
Em resposta à pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu que a maior parte dos judeus que restavam emigrassem no início da década de 1970, mesmo enquanto outras restrições eram mantidas. Em 1973, a maior parte dos judeus iraquianos restantes estavam velhos demais para saírem do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos, sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões (New York Times, 18 de fevereiro de 1973).
Hoje, aproximadamente 61 judeus permanecem ainda em Bagdá. O que fora um dia uma comunidade crescente de judeus no Iraque encontra-se hoje extinta (Associated Press, 28 de março de 1998).
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
A primeira fração de legislação posta em prática que violou os direitos dos judeus foi a emenda 12 de 1948 para o suplemento 13 de 1938 ao Código Penal de Bagdá. O Código Penal de Bagdá reforçava a cláusula relacionada ao comunismo, anarquia e imoralidade da seção 89A(1). A seção geralmente proíbe a publicação de qualquer coisa que incite a difusão do ódio, abusos de governo ou a integridade da população. Esta emenda, criada em 1948, adicionou o termo “sionismo” ao comunismo, anarquismo e imoralidade, cuja propagação constituía uma ofensa com pena de sete anos de prisão e/ou uma multa.
Em um artigo do jornal New York Times em 16 de maio de 1948, foi registrado que “No Iraque, não é permitido que nenhum judeu deixe o país a não ser que deixe £5,000 (cerca de 10 mil dólares) com o governo para garantir o seu retorno. Nenhum judeu estrangeiro pode entrar no Iraque, nem mesmo de passagem”.
A lei nº 1 de 1950, intitulada “Suplemento ao decreto cancelando a nacionalidade iraquiana”, privava de fato os judeus da nacionalidade iraquiana. A seção 1 estipulava que “o Conselho de Ministros pode cancelar a nacionalidade iraquiana dos judeus iraquianos que desejem por vontade própria deixar o Iraque...”. 14
A lei nº 5 de 1951, intitulada “Lei de supervisão e administração de propriedades de judeus que negligenciaram a nacionalidade iraquiana”, também os privava de suas propriedades. A seção 2(a) “congelou” as propriedades dos judeus. 15
Houve uma série de leis que subseqüentemente expandiram o confisco de pertences e propriedades de judeus que “negligenciaram a nacionalidade iraquiana”. Entre elas está a lei nº 12 de 1951 16 e a lei anexa nº 64 de 1967 (em relação à posse de ações em empresas comerciais), além da lei nº 10 de 1968 (em relação a restrições bancárias).
Bairro dos judeus em Trípoli | Histórico A comunidade judaica da Líbia remete suas origens ao século 3 a .C.Na época da ocupação italiana na Líbia em 1911, havia apenas 21 mil judeus no país, a maior parte em Tripoli. No final da década de 1930, leis anti-judaicas foram gradualmente reforçadas, e os judeus foram sujeitos a repressões terríveis. Ainda assim, em 1941, os judeus respondiam por um quarto da população de Trípoli e mantinham 44 sinagogas. |
Em 1942, os alemães ocuparam o quarto judeu e tornou tudo muito difícil para os judeus na Líbia, ainda que as condições não melhorassem após a liberação. Durante a ocupação britânica, o crescimento do nacionalismo árabe e do fervor anti-judaico foram as principais razões por trás de uma série de perseguições, a pior das quais, em novembro de 1945, resultou no massacre de 140 judeus em Tripoli e regiões próximas, e na destruição de cinco sinagogas (Howard Sachar, A History of Israel).
O estabelecimento do Estado de Israel levou muitos judeus a deixarem o país. Em junho de 1948, em protesto à descoberta do Estado judeu, manifestantes assassinaram outros 12 judeus e destruíram cerca de 280 lares judeus. Ainda que a emigração fosse ilegal, mais de 3 mil judeus conseguiram fugir para Israel. Quando os ingleses legalizaram a emigração em 1949, e nos anos que precederam a independência do Líbano em 1951, demonstrações hostis e manifestações contra os judeus causaram a partida de cerca de 30 mil judeus para o norte do país, e após a Líbia ter conquistado a independência e tornar-se membro da Liga Árabe em 1951 (Norman Stillman, The Jews of Arab Lands in Modern Times). Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos) * O Artigo 1 da Lei nº. 62 de março de 1957, decretava, entre outras coisas, que pessoas ou empresas foram proibidas de entrar direta ou indiretamente em contratos de qualquer natureza com organizações ou pessoas domiciliadas em Israel, com cidadãos israelenses ou seus representantes. A provisão desse artigo também permitiu que o Conselho de Ministros registrasse residentes na Líbia que fossem parentes de pessoas residentes em Israel. 17 | Família judia da Líbia |
·* A Lei de 31 de dezembro de 1958 foi um decreto emitido pelo Presidente do Conselho Executivo de Tripolitania, que ordenava a dissolução do Conselho da Comunidade Judaica e a designação de um comissário Muçulmano nomeado pelo Governo. 18
* Em 24 de maio de 1961, uma lei foi promulgada decretando que apenas cidadãos líbios poderiam possuir ou transferir propriedade real. Uma prova conclusiva da posse de cidadãos líbios era requerida para ser evidenciada por uma licença especial, confiantemente relatado de ter sido emitida para apenas seis Judeus em sua totalidade. 19
Estudantes de escola judaica de Trípoli | * O Decreto Real de 8 de agosto de 1962 decretou, entre outras coisas, que um líbio perdia sua nacionalidade se tivesse tido qualquer contato com Sionismo. A perda da nacionalidade Líbia, de acordo com essa provisão, se estendia para qualquer pessoa que tivesse visitado Israel depois da proclamação da independência líbia, e qualquer pessoa julgada por ter agido moral ou materialmente em favor dos interesses israelenses. O efeito retroativo dessa provisão permitiu que as autoridades privassem Judeus da nacionalidade Líbia à vontade. 20 |
* Com a primeira lei nº 14, de 7 de fevereiro de 1970, o Governo líbio estabeleceu que todas as propriedades pertencentes a "Israelitas" que deixaram o território líbio "para se estabelecer definitivamente no exterior" teriam que passar pela Custódia Geral. Apesar do preciso fraseio da lei ("Israelitas que deixaram o território líbio para se estabelecer definitivamente no exterior"), o Governo líbio começou a tomar posse de propriedades pertencentes a "judeus" sem se preocupar com o fato de que esses Judeus não poderiam ser considerados "israelitas" e não tinham "se estabelecido definitivamente no exterior". 21
* O governo decretou a lei de 21 de julho de 1970, que afirmava que queria "a restituição de certos recursos para o Estado". A "lei relativa à definição de certos recursos para o Estado" afirmou que a Custódia Geral administraria o valor líquido das propriedades de Judeus, bem como suas empresas e ações pertencentes a judeus. 22
Família celebrando o Seder de Pessach - Oran, 1930. | Histórico O assentamento judeu na Argélia dos dias de hoje pode ser traçado muito distante no passado. No século XIV, com a deterioração das condições na Espanha, muitos judeus espanhóis mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação francesa do país em 1830, os judeus gradualmente receberam a cidadania francesa. Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos) Em 1934, os muçulmanos, incitados por eventos ocorridos na Alemanha nazista, se agitaram em Constantina matando 25 judeus e ferindo muitos outros. Antes de 1962, havia 60 comunidades judaicas, cada uma mantendo seus próprios rabinos, sinagogas e instituições educacionais. Após a independência da Argélia em 1962, o governo argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos. Como resultado, quase 130 mil judeus argelinos imigraram para a França e, desde 1948, 25.681 judeus argelinos imigraram para Israel. |
A independência da Argélia com a França foi o evento-chave na expulsão da comunidade judaica. Como resultado do desejo da Argélia e dos argelinos de juntarem-se à onda de nacionalismo e pan-arabismo que varria o Norte da África, os judeus não mais se sentiam bem-vindos após a partida francesa. O Código de Nacionalidade Argelino de 1963 deixou isso bem claro, dando a cidadania argelina como direito apenas àqueles cujos pais e avôs paternos possuíssem algum status pessoal muçulmano na Argélia. 24 Em outras palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida por seu slogan “Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania, por isso fortificando sentimentos anti-judeus e anti-Israel no país. | Professores e Rabinos da Escola Etz Haim - Oran, 1927 |
Histórico
As primeiras evidências documentadas de judeus vivendo onde é hoje a Tunísia vêm de antes do ano 200.
Após a conquista árabe da Tunísia no século 7, os judeus viviam em condições satisfatórias apesar de algumas medidas discriminatórias como algumas taxas.
Em 1948, a comunidade de judeus tunísios chegava a 105 mil pessoas, com 65 mil vivendo somente em Tunis.
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
Depois que a Tunísia conquistou sua independência em 1956, uma série de decretos anti-judaicos do governo foram promulgados. Em 1958, o Conselho da comunidade judaica na Tunísia foi abolido pelo governo, e sinagogas, cemitérios e quartos judeus antigos foram destruídos sob alegação de “renovação urbana”.
Em condições similares a dos judeus na Argélia, a ascensão do nacionalismo tunísio levou a legislações anti-judaicas e, em 1961, fez com que um grande número de judeus deixasse o país. A situação de instabilidade crescente fez com que mais de 40 mil judeus tunísios imigrassem para Israel. Em1967, a população judaica no para 20 mil.
Durante a Guerra dos Seis Dias, os judeus foram atacados em agitações árabes, e várias sinagogas e lojas foram queimadas. O governo denunciou a violência e apelou à população judaica para que ficassem, mas, no entanto, não os proibiu de deixar o país. Logo depois, sete mil judeus emigraram para a França.
Mesmo em 1982 houve ataques a judeus em cidades como Zarzis e Ben Guardane. Hoje, cerca de 2 mil judeus permanecem na Tunísia.
Os judeus vivem na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é mesclada à história dos judeus na terra de Israel. A população judaica aumentou significativamente após a expulsão dos judeus da Espanha em 1942. Através das gerações, as principais comunidades judaicas foram encontradas em Damascus e Alepo.
Em 1943, a comunidade judaica na Síria tinha 30 mil membros. Esta população era em sua maioria distribuída entre Alepo, onde viviam 17 mil judeus, e Damasco, onde viviam 11 mil.
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços para estabelecer uma terra natal judaica, o governo restringiu a emigração para Israel, e propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições anti-judaicas começaram a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 dos 10 mil judeus que ali viviam fugirem por medo. O governo então congelou as contas bancárias judaicas e confiscou suas propriedades.
Logo após a descoberta de Israel, como registrado no jornal New York Times em 16 de maio de 1948: “Uma política de discriminação econômica na Síria está sendo posta em prática contra os judeus. ‘Virtualmente, todos’ os cidadãos judeus civis empregados pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi ‘praticamente abolida’. Postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos judeus.”
Em 1949, os bancos foram instruídos a congelar as contas dos judeus e confiscar todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estrangulamento político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixassem a Síria, 10 mil dos quais emigraram para os EUA e outros 5 mil para Israel.
Família iemenita estudando hebraico | Histórico Os judeus do Iêmen têm várias lendas relacionadas com a sua chegada ao país, sendo a mais conhecida aquela que diz que eles chegaram antes da destruição do Primeiro Templo ( 587 a .C). A primeira evidência histórica da presença de judeus no Iêmen data do século III. Os judeus começaram a deixar o Iêmen por volta de 1880, quando aproximadamente 2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas foi após a Primeira Guerra Mundial, quando o Iêmen se tornou independente, que o sentimento anti-Judeu no país tornou a imigração uma necessidade. Leis anti-semitas, que tinham ficado esquecidas por anos foram trazidas à tona (por exemplo, os judeus não podiam mais andar nas calçadas ou andar a cavalo). Em um tribunal, as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano. |
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
Em 1922, o governo do Iêmen re-introduziu uma antiga lei Islâmica que exigia que órfãos judeus menores do que 12 anos fossem convertidos ao Islamismo. Quando um Judeu decidia emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um total de 17 mil Judeus Iemenitas deixaram o país e foram para a Palestina.
Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor e aqueles que deixassem o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves aconteceram em 1947 depois que as Nações Unidas decidiram pela partição. Muitos Judeus foram mortos e o bairro Judeu foi completamente incendiado. Apenas em Setembro de 1948 que as autoridades britânicas em Áden permitiram que os refugiados fossem para Israel.
Em 1947, após a decisão pela partição, revoltosos Muçulmanos deram início a uma sangrenta perseguição em Áden que matou 82 Judeus e destruiu centenas de casas Judias. A comunidade Judaica em Áden, que contava com 8 mil Judeus em 1948, foi forçada a fugir. Até 1959 mais de 3 mil já haviam chegado em Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos e Inglaterra. Atualmente não há Judeus remanescentes em Áden. Na mesma época da fundação de Israel, a comunidade Judaica no Iêmen estava economicamente paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada vez mais perigosa levou a emigração de toda a comunidade Judaica Iemenita – quase 50 mil Judeus – entre Junho de 1949 e Setembro de 1950, na chamada operação "tapete mágico". Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma Guerra civil trouxe um final abrupto ao êxodo Judaico. Esse é mais um exemplo do deslocamento de toda uma comunidade Judaica de suas raízes ancestrais em países árabes. É estimado que aproximadamente mil Judeus vivam atualmente no Iêmen. Eles são mantidos como reféns, em péssimas condições e não lhes é permitido deixar o país. | Judeus do Iêmen fogem do país |
Menino celebrando seu Bar Mitzva à caminho da sinagoga com seus familiares e amigos, Fez, 1940. | Histórico Os judeus apareceram pela primeira vez em Marrocos há mais de dois milênios, viajando em parceria com negociantes fenícios. A primeira colonização dos judeus ocorreu em 568 a .C. quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém. Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos) Por volta de 1948, essa antiga comunidade judaica, a maior na África do Norte, contava 265 mil. Em junho de 1948, após a constituição do Estado de Israel, manifestações sanguinárias em Oujda e Djerada mataram 44 judeus e deixaram outros feridos.Naquele mesmo ano, um boicote econômico não oficial foi incitado contra os judeus marroquinos. A imigração para Israel iniciou com a iniciativa de pequenos grupos que chegaram na época da Independência de Israel. Entretanto, a maior imigração, que trouxe mais de 250 mil judeus marroquinos para Israel, foi induzida por medidas anti-judaicas executadas em resposta a constituição do Estado de Israel. Em 4 de junho de 1949, manifestações apareceram ao norte de Marrocos matando e ferindo dezenas de judeus.Logo após, os judeus começaram a deixar Marrocos. | ||
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Os judeus vivem no Líbano desde os tempos antigos. O Rei Herodes, O Grande, no século I, manteve a comunidade judaica em Beirute.
Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se amplamente devido à imigração da Grécia, Turquia e depois da Síria e do Iraque.
Decretos discriminatórios e violações dos direitos humanos (apenas alguns exemplos)
Houve momentos de manifestação e incitamento durante a constituição do estado de Israel como foi comunicado no New York Times em 16 de maio de 1948:
“No Líbano, judeus têm sido forçados a contribuir financeiramente para a luta contra a resolução da partição das Nações Unidas na Palestina. Atos de violência contra judeus são revelados abertamente pela imprensa, que acusam judeus de ‘envenenarem poços’ etc.”
Em meados dos anos 1950, aproximadamente sete mil judeus viviam em Beirute. Comparada aos países islâmicos, as regras árabe-cristãs que caracterizam a estrutura política do país conduziam uma política de relativa tolerância em relação à população judaica. Todavia, por estarem tão próximos do “estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e decidiram emigrar em 1967, fugindo para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.
Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A guerra civil muçulmano-cristã destruiu o quarto judeu em danificando muitos lares, negócios e sinagogas judaicas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de emigrar. Hoje, um número estimado de 150 judeus permanecem no Líbano.
Fonte: ESTADO DE SP
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Fonte: ESTADO DE SP
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Foto Ilustrativa
Judy Feld Carr, a canadense catedrática em musicologia que montou uma rede clandestina para resgatar judeus na Síria, esteve em setembro, em São Paulo, a convite do Fundo Comunitário e do Instituto Morashá de Cultura. | |||||
Até o final da década de 1990, pouco se ouvira falar nessa valente mulher mesmo nas esferas judaicas, pois, em seu trabalho, o anonimato era de vital importância para sua segurança e para a vida dos judeus que pretendia resgatar. E mesmo entre os que conseguiu fazer sair clandestinamente da Síria, poucos sabiam seu nome; a maioria a conhecia como "a mulher do Canadá" ou, simplesmente, "Mrs. Judy". A história de sua vida e, principalmente, de seu empenho em ajudar judeus sírios se tornaram famosos com a publicação, em 1999, do livro The Ransomed of G'd: The Remarkable Story of One Woman's Role in the Rescue of Syrian Jews, de autoria do historiador Harold Troper. Como na ocasião Judy ainda estava envolvida no resgate, muitos detalhes tiveram que ser mantidos em sigilo. Foi apenas em 2001, depois de ter retirado da Síria a última família judia, que chegou a Nova York menos de uma hora antes que os aviões fossem arremessados contra as torres do World Trade Center, naquele trágico 11 de setembro, que os detalhes de sua história puderam ser revelados. O livro de Harold Troper conta uma epopéia que envolveu grandes somas de dinheiro, ameaças, perigos e riscos inimagináveis, mas, acima de tudo, a corajosa determinação de uma mulher que dedicou praticamente três décadas de vida a auxiliar uma comunidade judaica tão distante da sua. Pessoal e diretamente, esteve envolvida no resgate de 3.228 judeus, que vivem atualmente nos Estados Unidos, no México e em Israel, entre vários outros países. Em reconhecimento por seu trabalho, Judy Feld-Carr recebeu inúmeras láureas, entre as quais, a Ordem do Canadá, o Prêmio Simon Wiesenthal para a Tolerância, a Honra ao Mérito pela Defesa da Justiça e Direitos Humanos da Universidade de Haifa, além do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Lauraentian. Uma placa colocada pela comunidade judaica Síria, no Brooklyn (Nova York), relembra a sua coragem: "Judy Feld-Carr, aquela que acordou enquanto ainda era noite e despertou o mundo para o nosso destino, na Síria. Graças a seus esforços, vidas foram salvas, famílias foram preservadas e amigos se reencontraram. Ela salvou mundos inteiros e será abençoada pelas gerações futuras". O pano de fundo Quando a Partilha da Palestina foi aprovada pelas Nações Unidas, em novembro de 1947, em toda a Síria e em todo o mundo árabe, ocorreram violentos distúrbios contra os judeus. Apesar da proibição de deixar a Síria, a intensificação da perseguição provocou um verdadeiro êxodo dos judeus sírios que atingiu seu pico em 1948, após a independência de Israel. Os que ficaram para trás passaram a sofrer todo tipo de discriminação. Os judeus não podiam ter posse de nada e suas contas bancárias foram congeladas. Suas carteiras de identidades portavam, e ainda portam, hoje, o carimbo Mussaw, judeu; toda a correspondência era aberta e as poucas linhas telefônicas que lhes eram concedidas estavam sob "grampo".As instituições religiosas e de assistência social, assim como as escolas judaicas, ficaram sob o controle das autoridades muçulmanas. Só tinham permissão de viver nos bairros judaicos em Damasco, Alepo e Qamishli e, se tivessem que ir a algum lugar, a mais de 3 km de distância de sua residência, precisavam de permissão do governo. A temida polícia secreta síria, conhecida como Muhabarat, treinada pelo nazista Aloïs Brünner, criou um departamento especial para cuidar dos chamados "assuntos judaicos" e seus agentes passaram a vigiar os judeus. Impedidos de sair do país, alguns perderam a vida tentando escapar; se capturados, eram trancados em prisões e torturados. Quando comerciantes judeus recebiam autorização para viajar ao exterior, tinham que pagar impostos exorbitantes e seus familiares eram mantidos como reféns, no país - como garantia até seu retorno. Em 1971, quando Assad subiu ao poder, havia por volta de 5 mil judeus presos na Síria. Ao longo de sua história pós-criação de Israel, a comunidade vivenciou poucos períodos menos hostis. Pressões externas levaram o governo a permitir aos judeus viajar para o exterior, o que equivalia a uma clara oportunidade de "escapar". O ano de 1992 foi um marco, quando mais de dois mil judeus conseguiram seu intento, mas novamente, as portas se fecharam para a comunidade judaica da Síria. O início da luta Foi nesse contexto que a vida de Judy Feld-Carr começou a se entrelaçar com a de judeus na Síria. Quando Morashá a questionou sobre a razão que a levou a esse caminho, ela diz não ter apenas uma resposta, mas um conjunto. Nascida em Montreal, passou a maior parte de sua infância em Sudbury, na Província de Ontário. "Na verdade, tive uma vida muito tranqüila", conta. "Cresci em uma cidade onde havia apenas 30 famílias judias. O fato de pertencer a um grupo minoritário, em uma cidade pequena, fez com que eu percebesse, desde cedo, o significado de ser diferente. Costumo dizer que D'us age por caminhos estranhos". Judy cresceu ouvindo os pais e a avó contarem sobre as atrocidades engendradas pelos nazistas na Europa.Fundamental para a compreensão dos aspectos humanos da Shoá foi a convivência com uma vizinha, Sophie, cuja filha fora assassinada ainda criança em Auschwitz. "Minha vida foi profundamente influenciada por ela", relembra Judy, "Sophie me abraçava e chorava, lembrando da filha que perdera. Durante um de nossos encontros ela me fez prometer que, como judia, eu faria tudo o que fosse possível para garantir que jamais algo semelhante ao Holocausto voltasse a se repetir". Judy lembra que muitas vezes teve pesadelos tentando imaginar o que faria se o destino a colocasse à prova. Anos mais tarde foi, realmente, "testada". Levava uma vida organizada, calma, tanto em sua profissão de professora catedrática em musicologia, como pessoalmente - casada com Ronald Carr, tinham de 3 filhos e uma família feliz. Jamais pensou em se tornar "agente secreta", não fora treinada para isso e nem recrutada por qualquer agência governamental para essa missão. Uma série de circunstâncias foram-se apresentando e ela acabou por se envolver. Seu primeiro marido, Ronald Feld, era um ativista engajado. À pergunta de Morashá sobre a razão para o casal escolher justamente os judeus da Síria e não de outro país árabe, respondeu: "Não os escolhemos por nenhum motivo específico. Não era muito fácil conciliar meu papel de mãe, profissional e ativista política envolvida em uma rede internacional de intrigas. Mas a causa me pareceu justa e o trabalho tinha que ser feito!" Tudo começou em 1972, quando o casal tomou conhecimento do caso de 12 jovens judeus que haviam morrido ao tentar escapar da Síria. Uma reportagem sobre o caso revelara que os guardas sírios de fronteira haviam assistido, sem nada fazer, enquanto os judeus voavam pelos ares, um a um, por não saber que corriam, na fuga, em terreno minado. Indignados, o casal e alguns amigos decidiram que urgia fazer-se algo mais sério. Na época, não havia nenhum grupo canadense lutando em prol dos judeus sírios, uma comunidade isolada do mundo. Após várias tentativas e com a ajuda de um tradutor, Ronald consegue falar com uma telefonista síria e pede para se comunicar com uma escola judaica. Apesar de acabar falando com um informante da Muhabarat, os Felds obtêm o nome de um judeu em Damasco, o rabino Ibrahim Hamra. "Era a primeira, em muito tempo, e foi a única ligação telefônica feita à Síria, proveniente de uma comunidade judaica", recorda Judy, emocionada. No mesmo dia, os Felds enviaram um telegrama ao rabino, iniciando o contato. Era o ponto de partida de um fluxo constante de caixas com livros religiosos, entre Toronto e Damasco, além de cartas e telegramas, todos codificados. Era Judy que decodificava as mensagens. Para transmitir informações muitas vezes eram usadas citações bíblicas. Por exemplo, logo após a realização de um sangrento pogrom, Judy recebeu um telegrama com a seguinte alusão bíblica: "Rachel está chorando por seus filhos", indicando que havia crianças feridas. Em 1973, aos 43 anos, Ronald faleceu subitamente, vítima de um ataque cardíaco. Dias antes, recebera ameaças por suas atividades clandestinas. Nem a morte inesperada de seu marido, nem as ameaças afastaram Judy de seu caminho e ela decide continuar com a missão. A sinagoga que freqüentava, em Montreal, criou o Fundo "Ronald Feld para Judeus nos Países Árabes". Viúva, com filhos de 3, 8 e 11 anos de idade, Judy se dividia entre três empregos. Em 1974, a ativista pleiteou junto ao Departamento de Relações Exteriores do Canadá permissão de se encontrar com os judeus da Síria para melhor avaliar suas condições. O pedido foi oficialmente recusado, com base no argumento da ONU de que as informações sobre maus-tratos aos judeus na Síria eram "inflamatórias". Judy resolve, então, estruturar uma campanha para sensibilizar os políticos e a mídia à causa que abraçara. Percebe, também, que o caminho a percorrer passava necessariamente por contatos nas esferas políticas, pela rota do suborno e do contrabando de pessoas para fora da Síria. Até então, a "operação" se limitara ao envio de livros religiosos e telegramas para Damasco, Alepo e, posteriormente, Qamishli. Em 1977 Judy ganhou um novo aliado - seu segundo marido, Donald Carr, um respeitado advogado e líder comunitário. Ela tinha apenas 33 anos quando sua missão entra em nova fase: retirar os judeus das prisões sírias e, a seguir, do país. Na verdade, Judy jamais pensou em, ela mesma, resgatar os judeus sírios. Mas, pouco antes de seu casamento com Donald, tomou conhecimento de que um senhor de idade, Toufik Srour, acabara de ser o primeiro judeu sírio, em 20 anos, a deixar o país pela via legal. Para sair teve que subornar a Muhabarat, pagando US$ 9.500 por um visto de turista para os Estados Unidos. De lá pretendia chegar ao Canadá, onde vivia sua filha, Esther. Um fato chamou a atenção de Judy. Antes que o homem deixasse a Síria, sua filha recebeu um telegrama com o seguinte pedido: "Mande-me imediatamente US$ 2.000 para acelerar a emissão do visto". Esther prontamente enviou o dinheiro. Mas, quando Toufik chegou ao Canadá, ela lhe perguntou sobre o telegrama, ao que ele respondeu que jamais o enviara. Era um sinal claro de que alguém na polícia secreta síria estava tentando verificar se havia pessoas, fora de lá, dispostas a pagar suborno pela liberdade dos judeus. Pouco depois, Hannah Cohen contatou Judy para falar sobre seu irmão, o rabino Dahab, que ainda vivia na Síria. Quatro de seus filhos haviam conseguido fugir do país, mas depois de cada uma das fugas o rabino era preso e torturado. A violência a que fora submetido era tanta que seu rins pararam de funcionar. Judy, logo inicia uma campanha para obter sua liberdade temporária para tratamento médico. Para arrecadar recursos, ela profere palestras, até que obteve o valor necessário para pagar o resgate e retirar o rabino da Síria. O médico que o examinou, assim que chegou, afirmou que jamais vira um corpo tão maltratado. Infelizmente, o rabino Dahan não resistiu; no entanto, antes de falecer, recebeu de Judy a promessa de que tiraria sua filha Olga da Síria. Judy decide falsificar os documento do rabino Dahan como se ainda estivesse vivo, pedindo às autoridades que sua filha pudesse ir ao Canadá para cuidar do pai. O preço foi estipulado por intermediários e, Olga conseguiu sair da Síria rumo a Toronto. Era a "Mrs. Judy" em ação... Ela já sabia, pois, que os judeus poderiam ser "comprados". Agora, o próximo passo era saber quem os sírios queriam vender, a que preço e quem tinha autoridade para fechar o acordo. "Por mais duro que seja admitir, nós estávamos comprando pessoas e o valor dependia de uma série de circunstâncias e dos indivíduos envolvidos no "labirinto do poder", em Damasco. Quem salvar, um adulto, uma criança? Pais ansiavam por ver seus filhos fora do país e enfrentavam uma separação dolorosa para que eles pudessem ter uma chance, fora da Síria". Não há dúvida de que a polícia secreta Síria, a Muhabarat, sabia das atividades de Judy, mas não a detiveram - muito provavelmente porque não tinham interesse em acabar com aquele ingresso adicional". Juntos, Judy e Donald e um grupo de ativistas trabalharam intensamente. Ela viajou ao redor do mundo para manter negociações secretas, sempre com o auxílio de intermediários. "Eu tinha que viver duas vidas - uma marcada por intrigas internacionais; e outra, na qual eu era mãe e tinha um dia-a-dia normal". Os riscos eram enormes, tanto para ela quanto para as famílias que tentava resgatar. Na verdade, ressalta, foi um verdadeiro milagre que eu ainda esteja viva e que nenhum dos 3.288 judeus que conseguimos de lá tirar jamais tenham sido presos". Uma das últimas missões que coordenou foi o resgate do valioso Keter de Damasco, um manuscrito hebraico do século 14, atualmente na Biblioteca Nacional de Jerusalém. Judy Feld-Carr sempre acreditou que a força de um único judeu pode mudar o mundo. Hoje, após ter enfrentado obstáculos, vencido barreiras e salvado milhares de vida, sua mensagem para os judeus de São Paulo e do mundo é a famosa frase de Theodor Herzl: "Se você desejar, não será um sonho"... Fonte: http://www.morasha.com.br -=-=-=-=-= Judeus Restauram Sinagogas na SíriaJudeus restauram sinagogas em Damasco enquanto a Síria procura melhorar a sua imagem Por Massoud A. Derhally Albert Cameo, líder do que resta da comunidade judaica na Síria, diz que está tentando cumprir a obrigação da sua herança religiosa. Aos 70 anos de idade ele está organizando a restauração de uma sinagoga chamada de Al-Raqi que foi construída durante o Império Otomano há cerca de 400 anos no antigo bairro judaico de Damasco, capital da Síria. O projeto que começou em dezembro será concluído este mês como parte de um plano para a restauração de 10 sinagogas com o apoio do presidente sírio, Bashar al-Assad, e o financiamento de judeus sírios. "Assad considera a reconstrução da Damasco judaica como um modo de preservar a laicidade da Síria" afirmou Josh Landis, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Oklahoma. "Este é um esforço por parte do regime para mostrar a sua seriedade e um ramo de oliveira para a comunidade judaica nos Estados Unidos, que tem procurado cortejar". Embora a Síria ainda esteja oficialmente em guerra com Israel, o país está tentando mostrar-se como um estado mais tolerante para ajudar a melhorar a sua imagem internacional. Cerca de 200 judeus na Síria estão procurando espelhar as ações de seus correligionários no Líbano, onde os trabalhos de restauração da Sinagoga Maghen Abraham em Beirute tiveram início em julho de 2009. As negociações de paz indiretas entre a Síria e Israel e mediadas pela Turquia, foram interrompidas em dezembro de 2008 quando Israel começou sua ofensiva militar na Faixa de Gaza que tinha o propósito de impedir militantes islâmicos de dispararem milhares de foguetes contra o sul de Israel. A rodada anterior tinha parado em 2000 quando os dois países não chegaram a um acordo sobre o retorno das Colinas de Golam, que Israel ocupou na Guerra dos Seis Dias em 1967. Comunidade Síria nos EUA A maior comunidade sírio-judaica, estimada em 75.000 pessoas, está centrada no Brooklyn em Nova York e em Nova Jersey. A emigração remonta à Revolução dos Jovens Turcos em 1908 "quando os judeus temiam que os seus filhos fossem convocados para o exército turco otomano" conforme comenta Sara Reguer, autora do "Os Judeus do Oriente Médio e Norte da África nos Tempos Modernos". Joey Allaham de 35 anos, um judeu sírio que vive em Nova York, ainda considera a Síria como a sua terra natal. Em dezembro ele ajudou a marcar uma reunião entre Assad e Malcolm Hoenlein que é o vice-presidente executivo da Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations (Conferência de Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas), uma organização que agrupa diversos grupos judaicos para a promoção de laços entre a Síria e a comunidade judaica americana. Durante a visita Allaham e Hoenlein visitaram a sinagoga Franji em frente ao Hotel Talisman em Bab Touma, na parte antiga da capital síria. A sinagoga, também conhecida como Ilfrange, recebeu este nome por causa dos judeus que vieram da Espanha e foi construída há 400 anos. "O presidente Assad teve a gentileza de nos apoiar" Allaham contou em uma entrevista. "Nós vamos providenciar os fundos necessários". Os judeus sírios formam uma comunidade que remonta ao Império Romano, com 30.000 pessoas em 1947 e eram árabes com origem local ou sefaraditas que fugiram para a Síria depois da expulsão dos judeus da Espanha em 1492, e que residiam nas cidades de Aleppo, Damasco e Qamishli, mas cujo número diminuiu por causa da emigração para os EUA, Europa Ocidental e América do Sul no início de 1900. A "grande saída" dos judeus sírios ocorreu logo após a criação do Estado de Israel em 1948, quando ocorreram distúrbios em Alepo na Síria, que como conseqüência trouxe a proibição dos judeus deixarem o país, porque estavam indo para Israel. A diminuição da população Os judeus restantes foram autorizados a deixarem a Síria em 1990 quando as relações com os EUA descongelaram e Washington procurou o apoio do país para expulsar o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein do Kuwait, relatou Landis. "Atualmente os judeus sírios vivem em Israel, na Turquia, Europa Ocidental e nos Estados Unidos, mas sentem uma afinidade positiva em relação a sua pátria" afirmou por email Tom Dine, que já ocupou a direção do American Israel Public Affairs Committee. "A reconciliação já deveria ter acontecido". Ao contrário dos seus três irmãos que vivem no México, Cameo diz que não tem desejo de deixar a Síria. "Moralmente eu não posso sair do meu país e nem os seus locais de culto religioso" disse Cameo da sua casa em Damasco. "Tenho o dever de preservar o nosso patrimônio". (Fonte: Notícias da Rua Judaica) |
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