Domingo, 19/02/2012 - GAZETA DO POVO (Curitiba)
Divulgação
Celso Deucher, presidente do movimento,
com a bandeira do novo país ao fundo: 30 mil filiados em 800 cidades do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Separatismo
Após 20 anos, movimento “O Sul é o Meu País” volta a se organizar
Ideia da separação foi retomada no ano
passado. No mês que vem, “sulistas” fazem congresso para comemorar as
duas décadas da causa e ganhar novo fôlego
Publicado em 19/02/2012 | Sandro Moser
Separar
os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul de seu grande
inimigo: o Estado brasileiro. Essa é a polêmica luta do movimento “O Sul
é o Meu País”, que completa 20 anos em 2012 com a pretensão de voltar a
ganhar a discussão das ruas. Nos próximos dias 17 e 18 de março, os
sulistas que querem a separação do resto do país fazem um congresso na
Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis, para
celebrar as duas décadas de existência e ganhar novo fôlego.
Tratado
com ironia e procurando livrar-se do estigma de ser “racista” em
relação à população de outras regiões do Brasil, o movimento foi
retomado no ano passado após a realização de uma pesquisa que teria
indicado um grande apoio popular à causa separatista nas capitais do
Sul.
Sonho de independência
Uma nação com seleção e municípios fortesUm Estado do tamanho da França, que privilegia os municípios e tem uma grande seleção de futebol. Esse é o país vislumbrado pelos separatistas. Segundo o presidente do movimento “O Sul é o Meu País”, Celso Deucher, a organização não tem legitimidade para fazer conjecturas sobre a nova nação. A tarefa cabe ao Grupo de Estudos Sul Livre, formado por intelectuais simpáticos à causa e do qual ele é o secretário-geral.
Até agora, os debates indicam que o Estado sulista adotaria um modelo descentralizado de poder batizado de “Confederação Municipalista”. “A vida real acontece nos municípios. Estados e União são ficções”, diz Deucher.
A principal diferença em relação ao Estado brasileiro seria a
inversão da lógica da arrecadação tributária, diz ele. Os municípios
ficariam com 70% do arrecadado e a Confederação com o restante – apenas
para manter as Forças Armadas e um Parlamento ao estilo sueco, que só se
reúne quando surge a necessidade de convocação. “Não queremos criar uma
classe de burocratas sustentados pelos impostos, como acontece no
Brasil”, afirma Deucher.
Deucher também diz que, com o novo país, haveria ainda uma suposta capacidade maior de reação contra injustiças. De quebra, mesmo sem ser fã do futebol, ele vislumbra um país com uma ótima seleção. “Muitos dos melhores jogadores e técnicos do mundo são da nossa região” gaba-se Deucher. (SM)
O atual presidente do movimento, Celso Deucher, diz que o sonho
dos “sulistas” seria a realização de um plebiscito para a criação do
novo país, livre do “imperialismo centralizador“ e da “terrorismo
tributário” da federação brasileira – nas palavras dele. Participaria da
consulta toda a população do Sul do Brasil.
No caminho do movimento, porém, há uma cláusula pétrea da
Constituição Federal que diz que a República brasileira é “formada pela
união indissolúvel” dos estados e municípios – o que torna
inconstitucional qualquer intenção de criar um novo país.
Assim, por prudência, os adeptos do movimento evitam falar em
separatismo, preferindo a expressão “autonomia”. Como base legal da
luta, explica Deucher, está o direito à liberdade de expressão e o
princípio do Direito internacional da “autodeterminação dos povos”.
Ele ainda rebate a acusação de que o movimento é racista. “Isso
sempre é usado para nos desacreditar. É uma besteira. O Sul do Brasil é
uma das regiões mais múltiplas, com presença de várias etnias”, diz
Deucher. Ele afirma estar concluindo um livro sobre a presença negra no
Vale do Itajaí, em Santa Catarina – o que seria uma prova do caráter não
racista da causa.
Criado no Rio Grande do Sul, o movimento se diz herdeiro de outros
levantes separatistas sulinos – como a Revolução Farroupilha, no
século 19. Segundo seu presidente, o movimento tem hoje representação em
800 municípios dos três estados e cerca de 30 mil filiados. O alto
número de simpatizantes, no entanto, não se traduz em arrecadação
financeira. Segundo Deucher, a organização sobrevive de doações dos 26
diretores e de mensalidades de R$ 15 pagas por cerca de cem membros.
Críticas
Para o professor de História Carlos Antunes Filho, da UFPR, as
ideias separatistas no país são apoiadas em bases suspeitas. “É um
delírio baseado em segregação racial e intolerância que destoa da forma
coletiva e plural da construção da nação brasileira”, diz ele.
O
professor Herbert Toledo Martins, da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia, também desacredita a ideia. “Não é um movimento sério; não
tem representatividade política.”
Acostumado a críticas, Deucher rechaça as acusações de que o
movimento é delirante. “Pode ser um sonho; mas tem muita gente sonhando
junto”, diz ele, que é professor de História numa escola de Brusque
(SC), jornalista e marqueteiro político .
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