O amiguinho do Papa será defenestrado?
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19/4/2012 17:00,
Por Rui Martins, de Genebra
Já não há mais supresa – os franceses votarão domingo contra o atual presidente Nicolas Sarkozy
e confirmarão esse voto, no segundo turno, no começo de maio. A
diferença mostrada pelas sondagens de opinião pública é muito grande
para poder ser suplantada pelos eleitores de Sarkozy.
O baixinho hiperativo não conseguiu ganhar a confiança dos franceses
nestes cinco anos, ao contrário, mesmo eleitores de direita dizem não
suportar mais seu irriquieto presidente. Embora, na França, os
presidentes costumem ser reeleitos, isso não acontecerá com Sarkozy.
O vencedor e próximo presidente francês será o ex-dirigente do
Partido Socialista, François Hollande, ex-marido da candidata derrotada
faz cinco anos, a também socialista Segolène Royal. Além da diferença de
programa político entre Sarkozy e Hollande, existe uma enorme diferença
de personalidade – Hollande não é hiperativo e tem tudo de um francês
comum, com sorrisos e gestos controlados de um homem normal.
Parece que os francês aspiram justamente isso – um presidente normal,
mesmo um tanto devagar, mais próximo do comum dos mortais, pois isso
acaba inspirando mais confiança e segurança. Dizem que, depois da
revolta estudantil de maio 68, os franceses elegeram Georges Pompidou,
por ter cara de senhor bonachão e tranquilo.
Politicamente Hollande não é também nenhum revolucionário; é um
socialdemocrata típico, sem grande arrojos, consciente dos limites de um
político na cena nacional, sujeito na maioria das vezes às pressões da
máquina do capital e das grandes empresas multinacionais, sem se
esquecer as limitações impostas pela União Européia atualmente dominada
por uma maioria neoliberal.
Quem quer sonhar com um mundo sem as especulações financeiras, sem a
força e vantagens dos bancos e sem os jogos nas bolsas de valores,
responsáveis pela liquidação econômica da Grécia, Portugal, Irlanda e
Espanha, como se uma revolução ainda fosse possível, votará domingo no
candidato da esquerda unida, Jean-Luc Mélenchon, cuja plataforma
considerada anacrônica, consegue entusiasmar centenas de milhares de
pessoas nos comícios e irá garantir 15% dos votos.
É ainda possível se mudar o rumo do mundo ocidental neoliberal,
baseado num capitalismo faminto de mais lucros e insensível às multidões
de desempregados na Europa ?
Mélenchon, certo ou errado, sonhador, visionário ou irrealista,
garante podermos chegar a um mundo mais justo e menos desigual, livre
dos tentáculos dos grande conglomerados, onde os operários podem ter
salários maiores e sem o endividamento colossal dos países. Quem ainda
acredita ser possível se mudar o mundo, num utópico novo formato
econômico, votará Mélenchon, mas, no segundo turno, terá de cair na
realidade, votar Hollande, aceitar algo menos ambicioso para se evitar a
reeleição de Sarkozy.
O presidente francês deixará saudades na imprensa people pelo seu
gosto do luxo, por sua vida romanesca, pela incrível capacidade de
refazer suas próprias propostas e pela sua megalomania. Ninguém
esquecerá o presidente na fossa, abandonado pela esposa Cecília,
apaixonada por um publicitário, nem de seu rápido amor e casamento com a
cantora Carla.
De suas promessas é melhor esquecer, a França com seus sobressaltos
pouco mudou depois de seus cinco anos de presidência, que Sarkozy bem
gostaria terem sido de reinado.
Publicado originalmente no site Direto da Redação.
Publicado originalmente no site Direto da Redação.
Rui Martins, jornalista, escritor, correspondente em Genebra.
Fonte: CORREIO DO BRASIL

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