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quinta-feira, 26 de abril de 2012

A juíza e o lanche: um rosto na multidão



Café PequenoPor Volnei Rosalen 


É injusto o julgamento público da juíza Luisa Gamba, designada para coordenar a sala de lanches do fórum federal. Não que a infeliz e inútil idéia de institucionalizar uma atividade tão comezinha como lanchar e tentar decretar o “convívio harmônico” não mereça reprimenda. Mas, mais vale o que não foi e não está sendo dito sobre o judiciário brasileiro. 
 No processo de burocratização do poder, a juíza é apenas um rosto na multidão. Juízes, já há um bom tempo, estão deixando de ser julgadores para ser “promovidos” a gerentes.
Boa parte do tempo se prestam ao desenvolvimento de tarefas estabelecidas institucionalmente como marcar férias de outros servidores ou realizar avaliações de desempenho que em nada tem servido para a melhoria do serviço judiciário.
Mais do que isso. O gerencialismo e o produtivismo tem transformado os juízes em verdadeiros gerentes de produção de mapas estatísticos sobre os quais são forçados a erigir suas promoções ou remoções.
O “novo paradigma”, que ilude uma boa parte da jovem magistratura, pressupõe que os juízes se apossem do poder através da incorporação cada vez maior de atividades burocráticas e da “gestão de pessoas e processos”.
Visão esta difundida sem qualquer parcimônia por instituições insuspeitas como o Banco Mundial. Sobra aos estagiários e assessores, como bem profetizou o desembargador Lênio Streck, apertar parafusos, sob o olhar atento do gerente.

Tal situação causa desconforto em boa parte da magistratura, que o acusa sob a forma de adoecimento cada vez mais frequente. 
Por outro lado, a escola do novo paradigma difunde com naturalidade a situação, transformando juízes em cúmplices e defensores de uma das maiores perversidades recentes do capitalismo em relação aos trabalhadores: a desregulamentação do trabalho através da flexibilização e precarização na forma de terceirizações e estágios que substituem o concurso público.

Diante de tal situação, coordenar a sala de lanche parece um pecado menor. Mas quem quer falar dos pecados maiores?
Volnei Rosalen – pós-graduado em Economia do Trabalho e Sindicalismo (Unicamp); Diretor do SINJUSC e do Centro de Estudos e Pesquisas em Trabalho Público e Sindicalismo.


Fonte: http://www.sinjusc.org.br

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