Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Sistema da Natureza

"Os homens agarram-se à sua religião como os selvagens à aguardente."Fonte - O Sistema da Natureza
"Cada homem quer um Deus só para si."Fonte - Sistema da Natureza
"Quando nos quisermos ocupar utilmente da felicidade dos homens devemos começar por transformar os deuses do Céu."Fonte - Sistema da Natureza


Página inicial de O Sistema da Natureza.

O Sistema da Natureza ou as Leis do Mundo Moral e Físico (em francês: Système de la Nature ou Des Loix du Monde Physique et du Monde Moral) é uma obra de filosofia escrita por Paul Henri Thiry, o Barão d'Holbach (1723-1789). Foi publicada originalmente sob o nome de Jean-Baptiste de Mirabaud, um membro falecido da Academia Francesa de Ciências. D'Holbach escreveu e publicou este livro - possivelmente com o auxílio deDiderot[1] - de forma anônima em 1770, descrevendo o universo nos termos dos princípios do materialismo filosófico: a mente é identificada com océrebro, não há nenhuma "alma" sem um corpo vivo, o mundo é governado por leis deterministas estritas, o livre arbítrio é uma ilusão,[2] não há causas finais e tudo o que acontece se coloca porque deve inexoravelmente acontecer. Mais notoriamente, o trabalho nega explicitamente a existência de Deus, argumentando que a crença em um ser superior é o produto do medo, da falta de compreensão e do antropomorfismo.



Apesar de não ter sido um cientista, d'Holbach foi cientificamente alfabetizado e tentou desenvolver sua filosofia de acordo com os fatos conhecidos da natureza e do conhecimento científico da época, citando, por exemplo, provas das experiências de John Needham sobre como que a vida poderia se desenvolver de forma autônoma, sem a intervenção de uma divindade. Faz uma distinção fundamental entre a mitologia como uma forma mais ou menos benigna de trazer a lei e ordenar o pensamento sobre a natureza da sociedade e seus poderes para as massas e a teologia. A teologia, quando se separa da mitologia aumenta o poder da natureza acima da natureza em si e, portanto, aliena os dois ("natureza", isto é, tudo o que existe de fato, de seu poder, agora personificado em um ser fora da natureza), é pelo contrário uma perniciosa força, sem paralelo, nos assuntos humanos.[3]


O livro foi considerado extremamente radical em sua época e a lista de pessoas que escrevem refutações do trabalho foi longa. A Igreja Católica Romana teve seu pré-eminente teólogo Nicolas Sylvestre Bergier escrevendo uma refutação intitulada Examen du matérialisme ("Exame do materialismo"). Voltaire, também, aproveitou para refutar a filosofia do Système no artigo "Dieu" em seu Dictionnaire philosophique, enquantoFrederico, o Grande também elaborou uma resposta para a obra. Seus princípios se resumem em outra obra mais popular de d'Holbach, Bon Sens, ou idées naturelles opposees aux idées surnaturelles.[4]

Referências

Ver Virgil V. Topazio, "Diderot's Supposed Contribution to D'Holbach's Works", em Publications of the Modern Language Association of America, LXIX, 1, 1954, pp. 173-188.
System of Nature Vol. 1, Cap. XI "É o sistema do livre-arbítrio do homem": "Apesar das idéias gratuitas que o homem formou a si mesmo em seu pretenso livre-arbítrio; em desafio das ilusões deste suposto sentido íntimo, que, contrariamente à sua experiência, convence-lo que ele é o mestre de sua vontade, - todas as suas instituições são realmente fundadas na necessidade: nesta, como em uma variedade de outras ocasiões, a prática joga de lado a especulação."
System of Nature, Ch. I. Essentially a condensed form of what is also stated by Robert Richardson's preface which he condenses from his translation of Ch. I.
Open Library (pdf in French). Amsterdam, 1772

Fonte: WIKIPEDIA

-=-=-=-=



Barão d'Holbach, um defensor do ateísmo no século XVIII.
A fonte da infelicidade do homem é a sua ignorância da Natureza. A pertinácia com que ele se agarra a opiniões cegas absorvidas em sua infância, que se entrelaçam com sua existência, o preconceito consequente que deforma sua mente, que impede sua expansão, que o torna o escravo da ficção, parece condená-lo ao erro contínuo. d'Holbach em O Sistema da Natureza[44]
-=-=-=-=


Todo governo, para ser legítimo, só pode ser fundamentado no livre consentimento da sociedade, sem o qual ele não passa de uma violência, uma usurpação, uma pilhagem. […] O governo não tira seu poder senão da sociedade, e, tendo sido estabelecido apenas para o seu bem, é evidente que ela pode revogar esse poder quando o seu interesse o exige, modificar a forma do seu governo e ampliar ou limitar o poder que ela confia aos seus chefes, sobre os quais conserva sempre uma autoridade suprema, pela lei imutável da natureza que quer que a parte esteja subordinada ao todo.
Assim, os soberanos são os ministros da sociedade, seus intérpretes, os depositários de uma porção mais ou menos grande do seu poder, e não os seus senhores absolutos nem os proprietários das nações. Por um pacto, seja expresso ou tácito, esses soberanos se comprometem a zelar pela manutenção e a se ocupar do bem-estar da sociedade. É somente sob essas condições que essa sociedade consente em obedecer. Nenhuma sociedade sobre a Terra pôde ou quis conferir irrevogavelmente aos seus chefes o direito de lhe causar dano. […] Os chefes que causam dano à sociedade perdem o direito de comandá-la.
Por falta de conhecerem essas verdades, ou de aplicá-las, as nações tornaram-se infelizes e não contêm senão um vil amontoado de escravos, separados uns dos outros e isolados da sociedade que não lhes proporciona nenhum bem. Por uma consequência da imprudência dessas nações ou da astúcia e da violência daqueles a quem elas haviam confiado o poder de fazer as leis e de pô-las em execução, os soberanos tornaram-se os senhores absolutos das sociedades. Desconhecendo a verdadeira fonte do seu poder, pretenderam tê-lo recebido do céu, não ter de prestar contas senão a ele de suas ações e não dever nada à sociedade - em poucas palavras, serem deuses sobre a Terra e governá-la arbitrariamente como os deuses do empíreo.
Desde então, a política se corrompeu e não passou de um banditismo. As nações foram aviltadas e não ousaram resistir às vontades de seus chefes; as leis nada mais foram do que a expressão de seus caprichos. O interesse público foi sacrificado a seus interesses privados; a força da sociedade foi voltada contra ela mesma. Seus membros a abandonaram para se ligar aos seus opressores… Por fim, um hábito estúpido e maquinal fez que gostassem das suas correntes.
Para prevenir esses abusos é necessário, portanto, que a sociedade limite o poder que confia aos seus chefes e reserve para si uma porção suficiente desse poder para impedir que eles lhe causem dano. É preciso que, prudentemente, ela divida as forças que, reunidas, infalivelmente a oprimirão. Além disso, a mais simples reflexão fará que ela sinta que o fardo da administração é demasiado grande para ser levado por um único homem - e que a extensão de seu poder o tornará sempre perverso. Enfim, a experiência de todas as eras convencerá as nações de que o homem é sempre tentado a abusar do poder, que o soberano deve estar submetido à lei, e não a lei ao soberano.


-=-=-=-=


O homem só é infeliz porque desconhece a natureza. Seu espírito está de tal modo infectado de preconceitos que seria possível acreditar que ele está condenado para sempre ao erro. [..] Ele quis, para sua infelicidade, transpor os limites de sua esfera; tentou lançar-se para além do mundo visível e, incessantemente, quedas cruéis e reiteradas o advertiram inutilmente da loucura de sua empreitada. Ele quis ser metafísico antes de ser físico. Ele desprezou as realidades para meditar sobre quimeras; negligenciou a experiência para se fartar com sistemas e conjecturas. Ele não ousou cultivar sua razão, contra a qual tiveram o cuidado de preveni-lo desde cedo. Pretendeu conhecer seu destino nas regiões imaginárias de uma outra vida, antes de pensar em se tornar feliz na morada em que vivia. Em poucas palavras, o homem desdenhou o estudo da natureza para correr atrás de fantasmas que, semelhantes a fogos-fátuos que o viajante encontra durante a noite, o assustaram, ofuscaram-no e fizeram que ele deixasse o caminho simples do verdadeiro, sem o qual não é possível alcançar a felicidade.
É, pois, importante procurar destruir os sortilégios que não servem senão para nos extraviar. É tempo de ir buscar na natureza os remédios contra os males que o entusiasmo nos causou: a razão, guiada pela experiência, devem, enfim, atacar na fonte os preconceitos dos quais o gênero humano foi por tanto tempo vítima. É tempo de essa razão, injustamente degradada, abandonar o tom pusilânime que a torna cúmplice da mentira e do delírio. A verdade é una; ela é necessária ao homem, e nunca pode lhe causar dano. Seu poder invencível se fará sentir cedo ou tarde. É preciso, portanto, descobri-la aos mortais. É preciso mostrar-lhes seus encantos, a fim de desviá-los do culto vergonhoso que eles prestam ao erro, que quase sempre usurpa suas homenagens sob a aparência da verdade. O brilho da verdade só pode ferir os inimigos do gênero humano, cujo poder subsiste apenas por causa da noite escura que eles espalham sobre os espíritos.
Não é a esses homens perversos que a verdade deve falar; sua voz não é ouvida senão pelos corações honestos, acostumados a pensar, bastante sensíveis para gemer pelas calamidades sem-número que a tirania religiosa e política fez a Terra sofrer, bastante esclarecidos para perceberem a cadeia imensa dos males que o erro infligiu, em todos os tempos, aos humanos consternados. É ao erro que se devem os grilhões opressivos que os tiranos e os sacerdotes forjam em toda parte para as nações; […] é ao erro que se devem esses terrores religiosos que fazem em toda parte os homens se consumirem no temor ou se degolarem por quimeras; é ao erro que se devem esses ódios inveterados, essas perseguições bárbaras, esses massacres contínuos, essas tragédias revoltantes das quais, sob pretexto dos interesses do céu, a terra tantas vezes se tornou o palco. Enfim, é aos erros consagrados pela religião que se devem a ignorância e a incerteza que o homem tem acerca dos seus deveres mais evidentes, dos seus direitos mais claros, das verdades mais demonstradas. Ele não passa, quase em toda parte, de um cativo degradado, desprovido de grandeza de alma, de razão e de virtude, a quem alguns carcereiros desumanos jamais permitem ver a luz.
Assim, a finalidade desta obra é reconduzir o homem à natureza, tornar a razão preciosa para ele, fazer que adore a virtude… Longe de querer romper para ele os laços sagrados da moral, pretende apertá-los e colocar a virtude sobre os altares que, até aqui, a impostura, o entusiasmo e o temor ergueram para alguns fantasmas perigosos.
* * * * *
“Os seres que são considerados como acima da natureza ou dela distintos serão sempre quimeras. […] Na falta de conhecer a natureza, o gênero humano produziu os deuses, que se tornaram os únicos objetos de suas esperanças e de seus temores. Os homens não perceberam que essa natureza, desprovida de bondade assim como de malícia, nada mais faz do que seguir algumas leis necessárias e imutáveis, produzindo e destruindo os seres, […] alterando-os sem cessar. Eles não viram que era na própria natureza e em suas próprias forças que o homem devia buscar suas necessidades, remédios contra seus sofrimentos e meios de tornar-se feliz; eles esperaram essas coisas de alguns seres imaginários que eles consideraram como os autores de seus prazeres e infortúnios. De onde se vê que é à ignorância da natureza que se devem essas potências desconhecidas – sob as quais o gênero humano por tanto tempo tremeu – e esses cultos supersticiosos que foram a fonte de todos os seus males.
É por falta de conhecer a sua própria natureza, sua própria tendência, suas necessidade e seus direitos que o homem em sociedade caiu da liberdade para a escravidão. Ele ignorou ou acreditou-se forçado a sufocar os desejos de seu coração e a sacrificar seu bem-estar aos caprichos de seus chefes. […] Submeteu-se sem reservas a homens como ele, que seus preconceitos o fizeram considerar como seres de uma ordem superior, como deuses sobre a Terra.
[…] Foi ainda por falta de estudar a natureza e suas leis que o homem se estagnou na ignorância. Sua preguiça preferiu deixar-se guiar pelo exemplo, pela rotina, pela autoridade, antes que pela experiência que requer atividade e pela razão que exige reflexão. Daí essa aversão que os homens demonstram por tudo aquilo que lhes parece afastar-se das regras às quais estão acostumados; daí seu respeito estúpido e escrupuloso pela antiguidade e pelas instituições mais insensatas de seus antepassados. Daí os temores que se apoderam deles quando lhes são propostas as mudanças mais vantajosas ou as tentativas mais prováveis. Eis porque vemos as nações definharem em uma vergonhosa letargia, gemerem sob abusos transmitidos de século para século… É por essa mesma inércia que as ciências úteis permanecem por tanto tempo entravadas pela autoridade: aqueles que professam essas ciências preferem seguir os caminhos que foram traçados para eles do que abrir caminhos novos. Eles preferem os delírios da sua imaginação e suas conjecturas gratuitas às experiências trabalhosas – as únicas que seriam capazes de arrancar da natureza os seus segredos.
Em poucas palavras, os homens, seja por preguiça, seja por temor, tendo renunciado ao testemunho dos seus sentidos, foram guiados em todas as suas ações e seus empreendimentos apenas pela imaginação, pelo entusiasmo, pelo hábito, pelo preconceito e, sobretudo, pela autoridade – que soube tirar proveito da sua ignorância para enganá-los. Sistemas imaginários tomaram o lugar da experiência, da reflexão e da razão: almas abaladas pelo terror e embriagadas pelo maravilhoso, ou embotadas pela preguiça e guidas pela credulidade que é produzida pela inexperiência, criaram para si algumas opiniões ridículas ou adotaram sem exame todas as quimeras com as quais quiseram alimentá-las.
Foi assim que o gênero humano permaneceu em uma longa infância, da qual se tem tanta dificuldade para tirá-lo. Ele não teve senão hipóteses pueris, das quais nunca ousou examinar os fundamentos e as provas. Acostumou-se a considerá-las como sagradas, das quais não lhe era permitido duvidar nem por um instante. Sua ignorância tornou-o crédulo… A força tirânica o manteve em suas noções, que se tornaram necessárias para subjugar a sociedade. Elevemo-nos, pois, acima da nuvem do preconceito!”

Paul Henri Thiry, o Barão de Holbach (1723-1789),
um dos mais importantes pensadores do Iluminismo,
no clássico O Sistema da Natureza (1770). Excertos retirados do Prefácio e Capítulo I.
Editora Martins Fontes. Tradução Regina Schöpke.  

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.