A nova geração pesquisa a história desse tribunal corrupto
Entrevista com Anita Novinsky
Por Rodrigo Elias
5/10/2011
Pioneira na pesquisa sobre a perseguição aos cristãos-novos pela
Inquisição no Brasil, Anita Novinsky é referência nos estudos judaicos
no mundo luso-brasileiro. Autora de obras que permanecem essenciais na
abordagem do Santo Ofício, como Inquisição. Cristãos novos na Bahia (1970,
1ª edição), a professora livre-docente da Universidade de São Paulo foi
desbravadora dos arquivos portugueses sobre o assunto. Nesta breve
entrevista, ela avalia a atual produção brasileira e conclui que ainda
há muito para se descobrir.
REVISTA DE HISTÓRIA A Inquisição é um tema urgente no século XXI?
ANITA NOVINSKY A
Inquisição foi uma instituição repressiva, de extermínio, própria de um
regime político totalitário. Hoje o mundo sofre ameaças do
fundamentalismo, do fanatismo, e isso é preocupante para o futuro da
humanidade. Conhecendo o passado histórico, talvez os homens se
conscientizem dos perigos que corremos.
RH O que despertou o seu interesse pelo tema?
AN Muita gente
ignora a presença da Inquisição no Brasil durante 300 anos. Houve
prisões, confiscos, tortura e morte de brasileiros inocentes. Dois
professores da USP me incentivaram: João Cruz Costa, de Filosofia, e
Lourival Gomes Machado, de Sociologia. Os dois diziam que é impossível
escrever a História do Brasil sem estudar os cristãos-novos.
RH Percebe algum progresso nos estudos?
AN A nova geração
acordou para a necessidade de compreendermos que a História do Brasil
foi escrita ignorando a ação de um tribunal de terror, que atuou em
todos os níveis da vida brasileira – econômico, social, religioso e
cultural. Hoje, em todos os estados, estudantes pesquisam a história
desse tribunal corrupto e arbitrário. As novas pesquisas estão trazendo à
tona os interesses materiais dos inquisidores.
RH O que, de fato, ignoramos?
AN Tudo ainda está
por ser estudado na história da Inquisição no Brasil, que atuou do
Amazonas ao Rio Grande do Sul. Há estados ainda não pesquisados,
completamente virgens, como Alagoas. Interessam-nos as relações
econômico-financeiras internacionais, a vida clandestina, a resistência,
o contrabando, a religiosidade, os cristãos-novos na governança, as
blasfêmias de uma população heterodoxa.
RHComo a Inquisição afetou a colonização no Brasil?
AN Afetou, por
exemplo, a criatividade da população, ao proibir leituras, críticas,
estudos superiores e imprensa. A Inquisição foi responsável, de acordo
com o poeta português Antero de Quental, pela decadência dos povos
peninsulares.
RH O Santo Ofício uniu ou separou os cristãos-novos?
AN Os
cristãos-novos foram solidários com os que chegavam sem coisa alguma.
Recebiam os fugitivos, os desterrados, a quem davam terras para
trabalhar. Muitas vezes a população brasileira se recusou a compactuar
com os agentes da Inquisição, o que levou um governador a tomar medidas
severas. Durante toda a história colonial, os cristãos-novos mantiveram
uma visão do mundo bem diferente da dos cristãos-velhos.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário