MARIANA LENHARO
O consumo de bebidas energéticas disparou no Brasil nos últimos anos,
com um crescimento de 25% só de 2010 para 2011, segundo dados da
Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não
Alcoólicas (Abir), justamente num momento em que vêm à tona alertas
sobre o aumento de hospitalizações relacionadas ao produto em pelo menos
dois países. No Brasil, se a mistura da bebida com o álcool nas baladas
já preocupava os médicos, agora o problema está na associação do
produto a estilos de vida saudáveis.
Quem abusa desses compostos em busca de pique extra para aguentar uma
agenda cheia demais pode colocar a saúde em risco. O médico Fábio
Sândoli de Brito, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), diz que
mesmo o energético puro é capaz de fazer estrago no sistema
cardiovascular. A bebida é contraindicada para pessoas que já têm
problemas cardiovasculares. “Para esse grupo, existe o risco de
arritmia, que leva a um risco de morte súbita”, diz. Um jovem saudável,
que tome energético esporadicamente, provavelmente não terá problemas.
“Mas pode ser que um homem de 45 ou 50 anos tenha um desempenho físico
acima de sua competência física e passe a entrar em risco.”
O executivo Paulo Vidal, de 53 anos, por exemplo, usa os energéticos
para dar conta da academia depois de uma jornada cansativa de trabalho.
“Malhar depois de um dia inteiro no trabalho não é fácil. Sinto que o
energético dá mais ânimo. É uma opção para dar uma revigorada, me manter
acordado e animado”, conta. “Faço esteira, bicicleta, alongamento e
musculação. E corro uma ou duas vezes por semana”, completa. Ele diz que
recorre ao produto quase todos os dias, há cinco anos, mas passou a
usar a versão em cápsulas em vez do líquido porque seu corpo reclamou.
“Comecei a ter queimação no estômago.”
A maioria dos médicos critica o abuso do produto, contraindicado para
vários grupos populacionais, sob o risco de ocorrências
cardiovasculares, gastrite, desidratação e dependência. Mas há
nutricionistas que defendem a bebida, especialmente para pessoas como
Vidal, que trabalham o dia todo e querem treinar na academia no fim do
dia. Esse é o caso de Tatyana Dall’ Agnol, especialista em nutrição e
metabolismo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Existe muita lenda a respeito do energético. Ele tem cafeína, que é o
mesmo composto que tem no cafezinho, e taurina, que é um aminoácido que
ajuda na desintoxicação do corpo”, garante.
Em um ponto, porém, todos os especialistas concordam: misturar
energético a bebidas alcoólicas é arriscado. O pesquisador Sionaldo
Eduardo Ferreira, professor de Educação Física da Unifesp, afirma que o
energético não é capaz de reduzir os efeitos tóxicos do álcool. E pior:
pode estimular o indivíduo a consumir uma quantidade maior de bebida
alcoólica. Em seu doutorado, estudou os efeitos do álcool com
energéticos em camundongos.
“Enquanto os camundongos que receberam só álcool ficavam prostrados,
os que receberam a combinação ficavam hiperexcitados. Isso nos leva a
crer que o sujeito pode ficar embriagado, mas achando que está bem. A
excitação leva a um erro de julgamento”, diz.
Combinar álcool com energéticos se mostrou uma prática comum entre os
jovens brasileiros em um levantamento feito pela Secretaria Nacional de
Políticas Sobre Drogas (Senad), em 2010. A pesquisa concluiu que 74,3%
dos quase 18 mil estudantes ouvidos já experimentaram a mistura.
“Com essa combinação o jovem fica mais ativo, apesar do álcool. Eles
sabem do risco, mas pensam: ‘Até pode ser ruim para os outros, mas eu
sou mais forte do que isso. Para mim, não vai ter problema’”, diz o
psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, presidente do Centro de Informações
sobre Saúde e Álcool (Cisa) e um dos organizadores da pesquisa da
Senad.
Andrade acredita que a mistura com o álcool é cada vez mais frequente
e tem apelo sobretudo entre os mais jovens. Enquanto 88,8% dos
universitários de até 18 anos pesquisados relataram já ter usado
energético com álcool, para os com 35 anos ou mais a taxa foi de 47,3%.
Fonte: ESTADO DE SP
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