O filme francês Adeus à Rainha, que abriu o Festival Internacional de Cinema de Berlim, mostrando os últimos dias da rainha Maria Antonieta, no Palácio de Versalhes, tem duas frases antológicas, ao tratar da Revolução francesa – o povo é uma matéria inflamável e o povo não quer só pão quer também o poder.
Benoit Jacquod, no encontro com a imprensa, reconheceu a coincidência do filme com a situação de fim de ditaduras em países africanos com a Primavera Árabe.
« Os fins de reinados se parecem, disse Benoît Jaquod. Ou seja, os detentores do poder, se agarram quase por necessidade pois seria quase impossível agir diferente. Sejam eles quem for, não importa a ideologia ou a classe da qual tenham saído. Portanto, todo fim de reinado e sobretudo o último dia, o de pânico, pois é disso que trata o filme, de um naufrágio muito rápido num clima de pânico. Desde o passado remoto até agora, tais situações têm traços comuns que podemos identificar como representadas como filme. Deve-se também dizer que para a França e para a Europa, aqueles dias de reviravolta foram decisivos ».
« Não se poderíamos dizer que esse filme trata de classe contra classe, mas o tema é evocado », diz Benoît Jacquod.
« Um aspecto interessante, acrescenta Jacquod, que eu queria destacar era esse de Sidonie e a própria rainha não terem consciência do momento que estão vivendo.e isso me parece acontecer nestes nossos dias, mesmo no pós 11 de setembro, cuja tomada de consciência tomou tempo para ocorrer. Esse o interesse de um filme de época, como Adeus à Rainha, por permitir analisar a atualidade através do passado
A rainha Maria Antonieta, cuja frivolidade e desconhecimento do povo levaram-na à guilhotina, é vivida pela atriz alemã Diane Kruger, no seu primeiro grande papel. O filme inspirado num livro de Chantal Thomas é todo filmado no Palácio de Versalhes com corredores, escadas e iluminação precária por velas portadas por pagens.
A rainha, rodeada por damas da corte e camareiras, é vista sob esse ângulo de mulher caprichosa e fútil e tem como uma de suas preferidas, a servidora que lhe faz a leitura, é a jovem Sidonie Labord, vivida por Léa Seydoux. Naquele ano de 1789, quando as notícias tardavam para chegar, Sidonie ouve falar da revolta popular, iniciada no 14 de julho, e na próxima chegada a Versalhes da revolução, mas ela não se identifica com os servidores que, pouco a pouco, fogem e abandonam o Palácio. Sidonie quer servir a rainha como súdita fiel.
Enfim, na confusão daqueles últimos dias, a rainha, que se prepara para fugir, intima Sidonie a deixar o Palácio e fugir para a Suíça. A fiel empregada tem, porém, uma decepção – essa fuga não visa protegê-la, mas uma dama da corte com a qual a rainha tem um caso amoroso. Sidonie partirá de carruagem, trajada com as luxuosas roupas da dama da corte e a amante da rainha fará a mesma viagem, vestida com suas roupas de empregada.
Seria lésbica a rainha Maria Antonieta ? Esse comportamento da rainha, pouco falado pelos historiadores, teria se propalado depois de sua prisão e morte, numa espécie de vingança póstuma. Em todo caso, verdade ou exagero, o filme não é um documentário e a própria Sidonie é uma personagem fictícia.
Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival
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