Título original:
por Rodrigo Cardoso, da Istoé
Os ateus brasileiros têm no universo virtual uma espécie de igreja online. É ali onde o conglomerado de pessoas que negam a existência de Deus se sente à vontade para professar o desapego às religiões, manifestar os porquês de não seguir nenhuma delas e trocar ideias com outras pessoas na mesma condição.
por Rodrigo Cardoso, da Istoé
Os ateus brasileiros têm no universo virtual uma espécie de igreja online. É ali onde o conglomerado de pessoas que negam a existência de Deus se sente à vontade para professar o desapego às religiões, manifestar os porquês de não seguir nenhuma delas e trocar ideias com outras pessoas na mesma condição.
Minoria em uma sociedade crente como a nossa – os ateus fazem parte do grupo demográfico definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como sem religião, do qual fazem parte também agnósticos e crentes sem religião, e representam 6,7% da população brasileira –, eles preferem esse canal de comunicação uma vez que, em público, ainda estão sujeitos a críticas. Duas ações, uma no Brasil e outra em Londres – onde um templo ateu deverá ser erguido até o ano que vem – pretendem pôr fim à solidão físico-intelectual desse grupo.
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.”
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.”
Soa paradoxal, porém, ateus militantes se reunirem para defender um ceticismo contra fé, religião e deuses. Agindo dessa forma, argumenta o professor Edin Abumansur, do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o ateísmo se torna uma opção de crença, a da negação, à disposição dos que procuram coisas para acreditar, no caso, que Deus não existe.
Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins, espécie de guru dos ateus, autor de “Deus, um Delírio”. Zoólogo, ele exorta seus pares, historicamente estigmatizados, a se assumir e encampar publicamente um debate intelectual.
No século XIX, porém, a fé na ciência e na razão já pautava as discussões nas igrejas positivistas, principalmente na França, terra natal de Auguste Comte (1798-1857). Um dos pais da sociologia, ele propunha uma nova religião baseada não em uma crença, mas na capacidade humana. “Crer no homem e na sua racionalidade justifica uma militância ateísta”, afirma o professor Pedro Paulo Funari, do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo.
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo.
O projeto do espaço, que terá 46 metros de altura, foi encomendado por Botton ao arquiteto Tom Greenall. Segundo o arquiteto, o templo representará a história da vida na Terra. “Cada centímetro equivale a um milhão de anos de vida”, diz Greenall.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom.
“Isso (a construção) poderia significar um templo ao amor, amizade, tranquilidade e perspectiva”, diz Botton. “O ateísmo de Richard Dawkins ficou conhecido como uma força destrutiva, mas há pessoas que não acreditam (em Deus) e não são agressivas contra outras religiões.”
Não é o que ocorre no Brasil. A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), por meio de uma pesquisa com seus cerca de 3,5 mil membros, descobriu que 90% deles consideram a religião um mal. Um claro efeito rebote da hostilidade crescente patrocinada por alguns religiosos.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior.
O engenheiro explica que, nos países nórdicos, com altas taxas de ateus, eles não se organizam, porque não precisam. “Por que pessoas que não acreditam em saci-pererê, por exemplo, teriam de se organizar?” Lutando pela causa juntos ou cada um por si, os brasileiros descrentes têm muito trabalho pela frente
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