Arquivos secretos do passado
colonial da Grã-Bretanha, que muitos historiadores acreditavam terem
sido destruídos, foram divulgados pelo governo do país. A medida foi
tomada seguindo uma determinação feita pela Justiça britânica há um ano.
Alguns dos documentos contêm dados sobre
assuntos polêmicos, como o Levante de Mau Mau contra os britânicos, no
Quênia, e uma insurreição de comunistas na Malaia Britânica (atual
Malásia), ambos ocorridos nos anos 1950. Um dos documentos revela que um
insurgente foi queimado vivo pelas autoridades.
Entre outras coisas, os papéis divulgados agora revelam que:
- Os britânicos temiam que nazistas disfarçados de caçadores de borboletas estivessem planejando invadir o Leste da África em 1938;
- Eles confiscaram o rebanho de quenianos suspeitos de apoiar rebeldes Mau Mau nos anos 1950;
- Havia um plano para extraditar um líder grego-cipriota para as Ilhas Seychelles, apesar de o governo estar negociando com ele formas de por fim a uma rebelião violenta no Chipre em 1955;
- Havia preocupação de que muitos estudantes quenianos que foram estudar nos Estados Unidos em 1959 estavam começando a demonstrar sentimentos "anti-americanos e antibrancos"; este foi o ano em que o pai do presidente Barack Obama foi estudar em uma universidade no Havaí.
- O processo foi movido por quatro quenianos envolvidos no conflito de Mau Mau. O governo foi obrigado a admitir que havia mantido 8,8 mil arquivos secretos, desde o tempo em que o Império Britânico recebia correspondência confidencial de suas colônias.
'Cultura do sigilo'
Um acadêmico que serviu de consultor para os
quenianos elogiou a medida, mas disse que ela não acaba com a "cultura
preocupante de sigilo" do governo britânico em relação a seu passado
colonialista.
"O governo britânico mentiu sobre isso no
começo. Esta saga é tanto uma conspiração colonial, quanto uma
trapalhada burocrática", disse o professor David Anderson, de História
Africana da universidade de Oxford.
Os 1,2 mil arquivos divulgados agora são a
primeira parte de seis grandes grupos que serão abertos ao público até
novembro de 2013. Eles dizem respeito a eventos acontecidos entre 1930 e
1970.
Segundo os arquivos do ministério da Defesa do
Quênia de 1961, que fazem parte dos documentos divulgados, os
administradores da colônia criaram classificações especiais para impedir
que certas informações chegassem a governantes locais.
Alguns dos arquivos eram classificados com a
letra "w", a inicial da palavra "white" ("branco", em inglês). Estes
documentos só podiam ser vistos por "sujeitos britânicos de ascendência
europeia".
Um porta-voz da chancelaria britânica disse que o
ministro das Relações Exteriores, William Hague, manifestou estar
"feliz" com a divulgação dos documentos e se comprometeu a
disponibilizar todos os dados ao grande público "o mais rápido
possível".
Fonte: BBC
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