Em e-mails, médicos do Souza Aguiar recomendam recusar pacientes
Profissionais também comentam entre si os erros ocorridos durante cirurgias e fazem reserva de leitos
RIO - Uma troca de e-mails entre médicos do Hospital municipal Souza
Aguiar revelou que, além das mazelas enfrentadas pelos profissionais,
como a falta de material e de pessoal, os médicos do Centro de
Tratamento Intensivo (CTI) também comentam entre si os erros ocorridos
durante cirurgias, fazem reserva de leitos e até recusam pacientes em
estado grave oriundos das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). É o que
revelou uma reportagem exibida na noite desta quarta-feira no "Jornal
das Dez", da Globonews. Os repórteres Rafael Coimbra e Antônia Martinho
chegaram aos e-mails quando faziam uma reportagem do caso do cineasta
húngaro Andreas Palluch, radicado no Brasil, que levou uma gravata
durante uma assalto, na Lapa, na sexta-feira de carnaval, 17 de
fevereiro, e morreu 47 dias depois no Souza Aguiar.
Andrea
Palluch, filha do cineasta, disse que o pai teria sido levado para o
hospital por um policial, mas não foi feito um boletim de ocorrência.
Ele teria chegado lúcido e andando normalmente.
Filha culpa sequência de erros pela morte do pai
Andrea,
que mora na Inglaterra, e veio para o Brasil acompanhar o estado de
saúde do pai, denunciou que, depois da internação, houve uma sequência
de erros, o que teria provocado a morte de Andreas Palluch. Ela disse
que chegou a recorrer à Defensoria Pública, pedindo um laudo detalhado
da situação de Palluch e agora vai denunciar o caso ao Ministério
Público e, provavelmente, entrar com uma ação contra o estado porque não
houve boletim de ocorrência do assalto. No atestado de óbito do
cineasta, a causa da morte não é definida. Há uma anotação de que são
necessárias informações hospitalares.
A pressão feita pela família
para que o hospital tomasse providências está registrada na troca de
e-mails dos médicos. O responsável pelo CTI diz que a família do
paciente tem se mostrado muito problemática. Na mensagem, postada em 16
de março, o médico ainda revela que a cirurgia de Palluch, agendada para
o dia anterior, precisou ser remarcada para cinco dias depois devido a
um erro do fornecedor na entrega do material que seria usado para a
sustentar a coluna do paciente.
O fórum de discussão pela internet
foi criado em fevereiro de 2010 para tratar assuntos do CTI. As
conversas, no entanto, deveriam ficar restrita ao grupo — que tinha 32
participantes —, mas por um erro estava disponível na internet até
segunda-feira. Anteontem, o material já tinha sido removido.
Em
outra troca de mensagens, o responsável pelo CTI pede aos médicos que
sejam criteriosos na escolha do paciente a ser internado. O médico, que
não quis gravar entrevista, diz no e-mail que a recomendação é para que
as vagas sejam preenchidas rapidamente para evitar transferências
externas, na maioria dos casos de pacientes em estado grave e moribundos
removidos das UPAs.
Casos de imperícia também são relatados. Num
deles, um médico fala da falta de enfermeiros e informa que tem uma
doença infecciosa, mas o isolamento não é feito da forma adequado, com
risco de disseminação. Em outro, o profissional chama a atenção para um
objeto metálico esquecido dentro do corpo de um paciente. Ele ressalta
que, felizmente, nas palavras dele, o descuido tinha sido descoberto
antes de o corpo seguir para o IML, evitando que o Souza Aguiar fosse
questionado.
Em enviada à Globonews, a secretaria municipal de
Saúde não comentou a troca de e-mails e informou que o prontuário médico
é o único documento oficial reconhecido pelo órgão. Quanto à conduta
dos médicos, a secretaria ressaltou que o assunto cabe às comissões de
ética.
Segundo a direção do Hospital Souza Aguiar, o paciente
Andreas Palluch deu entrada na unidade em estado muito grave e, na
ocasião, não havia condições clínicas de ser submetido a cirurgia. Após a
estabilização do quadro, o paciente pôde ser operado. Ainda segundo a
direção, os familiares receberam toda a assistência necessária e foram
orientados sobre o quadro clínico do paciente. Além disso, tiveram
acesso a uma cópia do prontuário com todas as informações.
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