Ex-presidente militar argentino diz ter ordenado até 8 mil mortes
O ex-presidente militar
argentino Jorge Rafael Videla (1976-1981) admitiu, pela primeira vez,
que foi o responsável direto pelas "mortes e desaparecimentos de entre 7
mil e 8 mil pessoas" durante seu governo.
A declaração foi dada ao jornalista argentino Ceferino Reato que lança no próximo fim de semana na Argentina o livro Disposición Final (Disposição Final, em tradução livre), sobre os anos em que Videla comandou o regime argentino.
O general afirmou que a repressão violenta a opositores foi necessária para que não ocorressem protestos dentro e fora do país.
"Não havia outra solução. Na cúpula militar
estávamos de acordo que era o preço a se pagar para ganhar a guerra
contra a subversão e precisávamos [de um método] que não fosse evidente,
para que a sociedade não o percebesse”, disse Videla ao jornalista.
Em entrevista à BBC Brasil, Reato disse que "não foi difícil conseguir a entrevista".
"Videla não é procurado pelos jornalistas e estava disposto a falar", disse.
Ordens
O ex-homem forte da Argentina afirmou ter dado
as ordens sobre cada prisão e assassinato de seus opositores. Disse
porém ser incapaz de apontar a localização dos corpos pois os
assassinatos e eliminação dos cadáveres teriam sido praticados pelas
diversas unidades militares sob seu comando.
Videla tem hoje 86 anos e cumpre pena de prisão perpetua na cadeia militar Campo de Mayo, na Província de Buenos Aires.
"Tenho peso na alma, mas não estou arrependido
de nada. Gostaria de fazer esta contribuição para que a sociedade saiba o
que aconteceu e para aliviar a situação de muitos oficiais que
atenderam às minhas ordens", afirmou Videla ao jornalista.
As cerca de 20 horas de entrevistas foram
gravadas pelo jornalista entre outubro de 2011 e abril de 2012. "Ele
está bem fisicamente, apesar de curvado por problemas na coluna
vertebral".
"Videla disse que [os militares] chegaram ao poder depois do golpe decididos a 'aniquilar' as ações dos subversivos", contou.
Desaparecimentos
Videla contou que antes da decisão pelas mortes e
desaparecimentos, outras formulas para "eliminar" a guerrilha foram
tentadas, como tiroteios disfarçados nas ruas.
"Eu sabia tudo o que estava acontecendo e autorizei tudo", disse Videla.
O livro foi chamado de Disposición Final
porque era como os militares definiam a última etapa a ser cumprida –
primeiro prisão, depois morte e no fim o desaparecimento do corpo.
"Disposição final são palavras bem militares. Significam tirar algo de circulação quando já é irreversível", disse.
Videla foi sentenciado à prisão perpétua em
1985, mas cinco anos depois recebeu o perdão do presidente Carlos Menem.
Em 1998 foi condenado à prisão domiciliar, sob acusação de sequestro de
bebês durante seu governo. Em 2003, o perdão de 1990 foi revogado e em
2008 ele foi enviado a uma prisão militar.
Fonte: BBC
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