Teles brasileiras lucram quase R$ 10 bi e oferecem serviço mais caro do mundo
Rachel Duarte
As operadoras de telecomunicações fixas e móveis que atuam no Brasil
lucraram R$ 9,77 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento
de 8% em relação a 2010. Os dados foram divulgados pela empresa de
consultoria Econométrica e demonstram que o ramo da teles está em quinto
lugar em lucratividade no país, se excluídos os resultados da Petrobras
e Vale do Rio Doce. Esta projeção ainda deverá aumentar no próximo
período, já que o governo federal anunciou no começo de abril um
programa de desoneração fiscal na ordem de R 3,8 bilhões para a
construção de redes no Brasil. Com o hegemônico monopólio das operadoras
de telecomunicações, a desoneração proposta pelo Ministério das
Comunicações poderá não ser sinônimo de garantia de acesso e qualidade
dos serviços.
A desoneração se aplica para os equipamentos comprados a cada ano. A
expectativa do governo é que a medida deve antecipar em aproximadamente
40% o investimento anual das teles, que gira em torno de R$ 18 bilhões
por ano.
Na avaliação do especialista em Gerência em Engenharia de Software e
ex-presidente da Telebras, Rogério Santanna, a política do governo Dilma
Rousseff em priorizar a relação com as teles ao invés de fortalecer a
Telebras é clara e lamentável. “Está barato construir rede no Brasil.
Com a desoneração do governo os custos do backbone de banda
larga diminuem, mas o desafio são os monopólios. Essa medida
dificilmente repercutirá no preço aos usuários e ficaremos sustentando
matrizes em crise, como é o caso da Telefônica”, defende.
Na demanda de infraestrutura de banda larga de qualidade as carências
ainda são muitas e há regiões do país muito mal atendidas, como a
região Norte. Mas, para uma infraestrutura adequada e a garantia de
serviços de qualidade, o Plano Nacional de Banda Larga é defendido por
Santanna como fundamental para estabelecer maior competitividade entre
as operadoras e aumentar a participação da Telebras. “As teles tem uma
combinação extremamente desfavorável ao usuário. É o serviço mais caro
do mundo. Pagamos o dobro da média mundial. E a prova de que os serviços
não são de qualidade é a liderança das operadoras nas reclamações dos
consumidores”, compara.
De acordo com levantamento pela TeleSíntese, os valores das multas
não pagas pelas operadoras à Anatel por processos aplicados em defesa
dos consumidores chegam a superar o próprio lucro das empresas. A
empresa OI, líder em reclamações no Procon, por exemplo, deve à Anatel
R$ 4,5 bilhões em multas.
Controle de qualidade é questionável
Não bastassem os problemas ocasionados pela desalinhada relação entre
lucro e serviço ofertado no mercado brasileiro de telecomunicações,
desde fevereiro deste ano, as operadoras foram obrigadas a oferecer um
aplicativo para medição da velocidade de acesso nas páginas que mantêm
na internet. A determinação se alinha à obrigatoriedade de as operadoras
de acesso à banda larga entregarem, em outubro deste ano, na média
mensal, 60% da velocidade contratada. Em outubro de 2013, essa média
deverá chegar a 70%, e a 80% um ano depois. Um avanço, para o devagar
quase parando atual, com uma das mensalidades mais caras do mundo. E, no
instante da medição, 20% do que foi adquirido (30% em 2013 e 40% em
2014).
A notícia seria uma medida considerada boa pelos consumidores, se não
houvesse incerteza quanto à capacidade de o software escolhido pela
Anatel, o SpeedTest, cumprir os requisitos propostos pela agência. “É
estranha a posição da Anatel em homologar este teste, que avalia apenas
dois parâmetros dos seis definidos por ela mesma. Mais estranho ainda é a
Anatel anunciar a Price como aferidora, paga pela empresas e contrária
aos padrões de qualidade da agência”, critica Rogério Santanna.
Fonte: SUL 21
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