Recém-nascido foi internado com febre e diarreia em hospital de Paranaguá e voltou para casa sem um dos pés
Paranaguá - Sandra Terena, correspondente
“Ele entrou no hospital com diarreia e saiu sem uma parte do corpo. Não sei como vou explicar isso para ele no futuro.”
Solange Galdino Cordeiro, mãe do bebê
Complicações
Procedimento preservou a vida de MarlonApós constatada a gravidade do caso de Marlon, a criança foi encaminhada de Paranaguá para o Hospital Pequeno Príncipe (HPP), em Curitiba, com o quadro de insuficiência renal aguda e acidose metabólica, segundo informações da Sesa.
O médico José Evando de Aguila Gois, do Departamento de Ortopedia Infantil do HPP, conta que além do quadro de insuficiência renal, o paciente deu entrada no hospital com uma lesão grave na perna direita. “Fizemos de tudo para preservar a perna da criança. Mas, quando percebemos que o quadro poderia evoluir para uma infecção generalizada, decidimos amputar o membro inferior do menino para salvar a vida dele”, disse o médico.
O Ministério Público da Saúde em Paranaguá foi acionado pela família e está investigando o caso. De acordo com informações do órgão, deve ser instaurado um procedimento administrativo e criminal com o objetivo de apurar eventual responsabilidade dos envolvidos e a Promotoria promete tomar as providências cabíveis para que o caso seja devidamente apurado.
Reincidência
O deputado estadual e presidente da Comissão Permanente da Saúde da Assembleia Legislativa do Paraná, Leonaldo Paranhos relatou na CPI do SUS, no início de dezembro, um caso semelhante ocorrido também no Hospital Regional de Paranaguá. “É inadmissível um hospital deste porte cometer o mesmo erro. Há seis meses, o menino Túlio Guimarães sofreu uma fratura exposta e seu braço foi apenas engessado. Dois dias depois, com muita dor, ele voltou ao hospital e quando o gesso foi retirado, o braço já estava necrosado”, afirma Paranhos. A comissão entrou em contato com a família e está tomando as medidas legais.
A dona de casa Solange Galdino Cordeiro, de 28 anos, mãe dos gêmeos, conta que se arrependeu amargamente por ter feito o correto, ter levado o filho ao hospital. “Ele entrou no hospital com diarreia e saiu sem uma parte do corpo. Não sei como vou explicar isso para ele no futuro”, diz.
Depois de passar pelo posto de saúde do bairro Baduca e ser encaminhada ao hospital no dia 11 de setembro, a mãe voltou para casa com a informação de que a febre poderia ter sido causada por uma virose e que logo o filho ficaria bem.
Sem melhora aparente do bebê, a mãe voltou ao hospital na tarde do dia seguinte. “Levei em outro médico plantonista e ele percebeu que o Marlon não estava nada bem”, relata.
De acordo com informações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), o paciente deu entrada no hospital com quadro de desidratação grave, com risco de morte. A criança precisava receber medicação, mas como os enfermeiros não conseguiram encontrar um acesso venoso, foi realizada pulsão intraóssea na perna direita da criança. Esse procedimento consiste na aplicação de medicação diretamente no osso do paciente.
A médica intensivista Maria Cristina da Silveira, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que o acesso intraósseo não é rotineiro, mas é indicado em casos de urgência e emergência quando não se consegue localizar uma veia periférica no paciente, como na região dos braços ou das mãos, por exemplo. “Não é um acesso para longa duração. Geralmente é utilizado até se encontrar outros acessos venosos. Encontrados esses acessos o procedimento intraósseo deve ser retirado imediatamente”, explica.
Prontuário
De acordo com o diretor técnico do Hospital Regional de Paranaguá, André Luiz Balliana, quando o acesso venoso foi encontrado, o acesso intraósseo foi logo retirado. No entanto, essa informação difere da registrada no prontuário médico do hospital, que mostra que o acesso venoso foi encontrado na região da cabeça de Marlon às 18 horas do dia 12 de setembro, duas horas depois do procedimento intraósseo. De acordo com o documento, o acesso intraósseo foi retirado apenas no dia seguinte às 14h30, após a detecção de um edema e cianose (coloração azul arroxeada da pele) no pé direito, que começava a se estender para a perna.
Os médicos do hospital também afirmam que o acesso venoso realizado às 18 horas não teve sucesso, sendo retirado 15 minutos depois. Entretanto, no prontuário consta que no dia seguinte foi realizada uma flebotomia para se conseguir acesso venoso no braço esquerdo do bebê, para substituir o acesso da cabeça.
“Os médicos deixaram meu filho quase 24 horas com dois acessos, o na cabeça e o na perninha. Esqueceram de tirar o acesso intraósseo. Acredito que meu filho recebeu excesso de medicamento porque depois deste fato, o Marlon teve uma parada respiratória”, reclama a mãe. “Além da duplicidade de agulhas, após retirarem o acesso intraósseo da perna do meu filho, percebi que havia uma lesão no local”, completa.
Fonte: GAZETA DO POVO (Curitiba)
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