No fim de semana, faleceu o ex-presidente italiano Oscar Luigi Scàlfaro (1918-2012), homem honrado e exemplo para as novas gerações.
Como chefe de Estado, Scàlfaro teve vários encontros com o papa João Paulo II. Nessa condição, jamais beijou o anel papal ou fez genuflexão. Embora católico praticante, ele não confundia as coisas. Como chefe de um Estado laico, não se curvava a outro chefe de Estado (Vaticano) e nem a um líder espiritual.
Como presidente da República, Scàlfaro enquadrou o premiê Berlusconi, apoiou os juízes da célebre Operação Mãos Limpas (que apurou a corrupção na política partidária italiana) e esteve no funeral do juiz Giovanni Falcone, dinamitado pela Máfia em 23 de maio de 1992: Scàlfaro foi eleito dois dias depois da morte de Falcone, no 16º escrutínio.
Certa vez, o ex-presidente italiano tornou público que não aceitaria para ministro da Justiça do governo de Berlusconi o deputado-advogado Cesare Previti, cofundador com Berlusconi e Dell’Utri (condenado por associação mafiosa pela Corte de Apelação), do partido Forza Itália.
Previti, anos depois da recusa, foi condenado definitivamente por corromper juízes e se envolver na elaboração de laudo pericial falso, em benefício da Fininvest, uma das empresas de Berlusconi. A condenação foi nos processos IMIR-SIR e Lodo Mondadori (laudo Mondadori).
A mídia italiana sempre apresentou Scàlfaro como inimigo de Berlusconi. Não era bem isso, ele só não compactuava com as tentativas de mudanças propostas por Berlusconi, pois eram ad personam. Por exemplo, a redução de prazos prescricionais ou a introdução do processo criminal breve, que terminaria arquivado caso não concluído em breve espaço de tempo.
Scàlfaro deixou para os anais um tocante pronunciamento. Foi em 1993, via rede televisiva. Com base numa mentira estribada em documento fraudulento, tentou-se colocá-lo numa “lista de fundos sem causa lícita” recebida pelo serviço de inteligência. No pronunciamento, ele soltou a frase que se tornou célebre: “Non ci sto”.
De fato, não tinha nada a ver com o caso, preparado com a velha tática do “vero-verossímile- falso”. Aliás, muito empregada por maus policiais brasileiros, que matam e, logo depois, colocam um revólver na mão da vítima como se tivesse havido resistência.
Pano rápido. Do presidente Scàlfaro, que carregou o caixão fúnebre de Falcone e empenhou-se em mudanças que resultaram num contraste eficiente ao fenômeno da criminalidade organizada, recebi, em 2 de junho de 1996 e pela luta antimáfia, o título honorífico de “Cavaliere della Repubblica Italiana”. Trata-se da honraria que mais me tocou o coração.
Como chefe de Estado, Scàlfaro teve vários encontros com o papa João Paulo II. Nessa condição, jamais beijou o anel papal ou fez genuflexão. Embora católico praticante, ele não confundia as coisas. Como chefe de um Estado laico, não se curvava a outro chefe de Estado (Vaticano) e nem a um líder espiritual.
Como presidente da República, Scàlfaro enquadrou o premiê Berlusconi, apoiou os juízes da célebre Operação Mãos Limpas (que apurou a corrupção na política partidária italiana) e esteve no funeral do juiz Giovanni Falcone, dinamitado pela Máfia em 23 de maio de 1992: Scàlfaro foi eleito dois dias depois da morte de Falcone, no 16º escrutínio.
Certa vez, o ex-presidente italiano tornou público que não aceitaria para ministro da Justiça do governo de Berlusconi o deputado-advogado Cesare Previti, cofundador com Berlusconi e Dell’Utri (condenado por associação mafiosa pela Corte de Apelação), do partido Forza Itália.
Previti, anos depois da recusa, foi condenado definitivamente por corromper juízes e se envolver na elaboração de laudo pericial falso, em benefício da Fininvest, uma das empresas de Berlusconi. A condenação foi nos processos IMIR-SIR e Lodo Mondadori (laudo Mondadori).
A mídia italiana sempre apresentou Scàlfaro como inimigo de Berlusconi. Não era bem isso, ele só não compactuava com as tentativas de mudanças propostas por Berlusconi, pois eram ad personam. Por exemplo, a redução de prazos prescricionais ou a introdução do processo criminal breve, que terminaria arquivado caso não concluído em breve espaço de tempo.
Scàlfaro deixou para os anais um tocante pronunciamento. Foi em 1993, via rede televisiva. Com base numa mentira estribada em documento fraudulento, tentou-se colocá-lo numa “lista de fundos sem causa lícita” recebida pelo serviço de inteligência. No pronunciamento, ele soltou a frase que se tornou célebre: “Non ci sto”.
De fato, não tinha nada a ver com o caso, preparado com a velha tática do “vero-verossímile- falso”. Aliás, muito empregada por maus policiais brasileiros, que matam e, logo depois, colocam um revólver na mão da vítima como se tivesse havido resistência.
Pano rápido. Do presidente Scàlfaro, que carregou o caixão fúnebre de Falcone e empenhou-se em mudanças que resultaram num contraste eficiente ao fenômeno da criminalidade organizada, recebi, em 2 de junho de 1996 e pela luta antimáfia, o título honorífico de “Cavaliere della Repubblica Italiana”. Trata-se da honraria que mais me tocou o coração.
Wálter Fanganiello Maierovitch, para Portal TERRA
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