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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nos Estados Unidos, 100 mil pessoas foram violentadas por padres

por John L. Allen Jr., do National Catholic Reporter

Dois especialistas norte-americanos disseram em uma reunião de cúpula no Vaticano na quarta-feira (8) que os custos totais da crise dos abusos sexuais – incluindo pagamentos financeiros, sofrimento emocional, afastamentos entre clérigos e leigos, e danos à autoridade moral da Igreja – é essencialmente incalculável.


Concentrando-se nos Estados Unidos, eles forneceram estimativas que sugerem que a Igreja norte-americana gastou pelo menos US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 3,75 bilhões) pagando litígios relacionados com a crise e que pode ter havido um total de cerca de 100 mil vítimas de abuso sexual clerical.

Antes do levantamento dos danos, Michael Bemi e Pat Neal rejeitaram o que descreveram como quatro "mitos" sobre a crise, que seriam:


- A crise é um problema norte-americano;


- A crise foi exagerada por uma mídia sem Deus que é antagônica a pessoas ou instituições de fé;


- A crise foi instigada por advogados avarentos, cujo único objetivo é enriquecer financeiramente;


- A orientação homossexual faz com que os homens sejam criminosos sexuais ("Nem a orientação homossexual nem a heterossexual são um fator de risco", disseram, "mas, sim, a orientação sexual desordenada ou confusa").


Embora cada uma dessas alegações possa ter "elementos de verdade", disseram os dois conferencistas, "nenhuma delas, por si só, nem todas elas juntas podem ao menos começar a explicar ou descrever completamente a crise de má conduta".


Bemi e Neal fazem parte da equipe de liderança do Programa "Protegendo as crianças de Deus", usado atualmente em 115 dioceses norte-americanas, destinado a criar um ambiente seguro para crianças e adultos vulneráveis.


Na dimensão financeira da crise, Bemi e Neal observaram que, apenas nos Estados Unidos, um estudo do instituto John Jay de 2004 estima que US$ 472 milhões foram pagos naquele momento pelas denúncias de abuso sexual, e cerca de US$ 1,8 bilhão foi pago no período desde então.


Essas estimativas são baixas, provavelmente, disseram, por inúmeras razões, incluindo o fato de que algumas dioceses e ordens religiosas fizeram negociações confidenciais cuja quantia em dólares pode nunca ser conhecida.


Globalmente, a Igreja Católica possivelmente pagou uma quantia análoga, sugeriram os dois especialistas.


"Provavelmente, é razoável estimar que o custo real da crise pago pela Igreja internacional é muito mais do que dois bilhões de dólares."


Além dos pagamentos em dinheiro, segundo Bemi e Neal, também é preciso levar em consideração os custos ocasionais – instituições fechadas ou que nunca abriram, ministérios podados ou que nunca lançados, e assim por diante, por causa da crise.


"O triste é que poderíamos estar fazendo um grande bem agora e nos próximos anos que nunca faremos por causa do dinheiro, do tempo e do esforço já gastos, e continuam sendo gastos, para enfrentar a crise da má conduta sexual", disseram.


"O estudo do John Jay identificou 10.667 denúncias de vítimas ocorridas no período de 1950 a 2002, cujo número aumentou para 15.235, utilizando os dados até 2009", disseram.


"Por haver um fenômeno bem conhecido e aceito de que muitas vítimas de violência sexual nunca denunciaram a sua vitimização, alguns observadores estimam que pode haver um total de cerca de 100 mil vítimas apenas nos Estados Unidos".


Bemi e Neal catalogaram uma série de doenças físicas e psicológicas sofridas pelas vítimas de abuso, que vão desde distúrbios alimentares e disfunção sexual a distúrbios de estresse pós-traumático.


"As vítimas de abuso sexual não conseguem simplesmente superar isso", afirmaram.


Bemi e Neal também sugeriram que as famílias de vítimas de abusos foram prejudicadas, juntamente com padres inocentes que viram suas reputações danificadas e fileiras de leigos que se sentem afastados, confusos e traídos.


Segundo Bemi e Neal, amplos esforços para criar um ambiente seguro na Igreja norte-americana pós-2002 ofereceram uma importante válvula de segurança.


"Para os católicos que estão passando por isso nos Estados Unidos, uma solução para ajudar a resolver o problema é se engajar fortemente no amplo ambiente seguro da Igreja e nos esforços de assistência às vítimas", disseram.


Com tradução é de Moisés Sbardelotto para IHU Online.

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