Católicos reagem contra relator de ação sobre anencefalia no STF
FELIPE SELIGMAN
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
Um grupo de católicos acompanhado de representantes espíritas e
evangélicos recorreu à Presidência do Senado na manhã desta quarta-feira
contra o ministro Marco Aurélio Mello, relator da ação que pretende
liberar o aborto no caso de fetos anencéfalos.
O grupo acusa Marco Aurélio, favorável à autorização do aborto nesses
casos, de crime de responsabilidade por ter antecipado a opinião que
daria na presente ação em entrevistas à imprensa, em 2008.
Segundo Felipe Nery, representante do bispo de Juiz de Fora, o grupo
considera que houve quebra de decoro e quer a cassação de Marco Aurélio.
"Ele não poderia ter emitido juízo de valor. E a Constituição Federal
diz que compete ao Senado julgar um ministro do Supremo por crime de
responsabilidade", diz Paulo Fernando Melo, integrante do movimento
pró-vida e família.
Dom Luiz Bergonzini, bispo emérito de Guarulhos, viajou a Brasília para
acompanhar o julgamento e encabeçou o grupo, que conseguiu uma audiência
com o presidente do Senado, José Sarney. O encontro ocorreu enquanto
Marco Aurélio lia seu voto no STF (Supremo Tribunal Federal), do outro
lado da rua do Senado.
Para dom Luiz, a autorização do aborto no caso de anencéfalos seria "um
desastre e uma afronta à dignidade da pessoa humana, cujo primeiro
direito é a vida".
O deputado federal católico Eros Biondini (PTB-MG), que participou do
encontro, disse que um documento assinado por bispos foi entregue ao
presidente do Senado. "É um absurdo [a eventual liberação do aborto],
agride a Constituição, que prevê a defesa da vida como inviolável."
Segundo a Folha apurou, Sarney disse ser contra o aborto, mas
reafirmou a independência entre os Poderes. Apesar do pedido específico
levado ao Senado, o grupo tem consciência que o mais provável é
conseguir apenas destacar seu ponto de vista.
O ministro Marco Aurélio já havia se posicionado sobre a questão em
2004, quando concedeu uma liminar autorizando o aborto no caso de
anencéfalos.
VOTAÇÃO
O ministro Marco Aurélio Mello, relator do processo em julgamento no
STF, votou a favor da antecipação terapêutica do parto na manhã desta
quarta-feira.
"O ato de obrigar a mulher a manter a gestação [de feto anencéfalo],
colocando-a em espécie de cárcere privado em seu próprio corpo,
desprovida do mínimo essencial de autodeterminação, assemelha-se, sim, à
tortura e a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer pessoa ou
dela exigido", disse o ministro.
Somente ele votou até o momento. Em um voto que durou mais de duas
horas, Marco Aurélio se manifestou favorável à antecipação terapêutica
do parto no caso de fetos comprovadamente anencéfalos.
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