Guerrilha do Araguaia não foi um episódio qualquer da história, diz presidente da Comissão de Anistia
O presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, Paulo
Abrão, afirmou hoje (14) que a Guerrilha do Araguaia, que completou 40
anos no último dia 12, não foi um episódio qualquer da história do
Brasil, mas sim um momento no qual houve um massacre direcionado a um
conjunto de brasileiros resistentes em uma das maiores mobilizações
militares.
A data foi lembrada durante o Sábado Resistente, ciclo de eventos
realizado uma vez por mês no Memorial da Resistência de São Paulo. O
evento é organizado pelo Memorial e pelo Núcleo de Preservação da
Memória Política, para lembrar o período da ditadura militar no Brasil.
Hoje o encontro debateu o legado do movimento guerrilheiro, além da
responsabilidade pelos crimes cometidos pelo Estado na região. “Reunir
quase 3 mil soldados para dizimar a vida de 79 militantes é uma
brutalidade que precisa ser cada vez mais denunciada e transformada em
uma questão de debate público nacional para que as pessoas tenham
consciência de que a violência da ditadura tem reflexos até os dias de
hoje”, disse Abrão.
Segundo ele, é necessário um trabalho cotidiano para superar a
cultura da violência.”Esse é o legado que a juventude do Araguaia deixa
para nós”, acrescentou.
Atualmente, destacou Abrão, o país vive em uma democracia, porém
ainda existem ambientes autoritários e de opressão nesse regime. “Saber
se dar conta disso é perceber que a democracia não é um fim em si
mesma, é um processo, e nossa tarefa hoje não é mais a de simplesmente
reconquistar o direito de votar e viver com liberdade, e sim o de
democratizar nossas relações sociais e aquilo que nos iguala enquanto
cidadãos.”
Para o diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurice
Politi, é preciso regatar, a todo momento, os movimentos de resistência à
ditadura militar, porque durante muitos anos passou-se uma borracha em
cima do que aconteceu no país e, por isso, a juventude não conhece esse
período da história. “Partimos do princípio de que, só conhecendo o
passado, podemos entender o presente e construir um futuro melhor para
que períodos como aquele não se repitam mais”, disse ele.
Um dos homenageados do dia, José Moraes, conhecido como Zé da Onça,
era um camponês que vivia no Araguaia e apoiou os guerrilheiros que lá
se instalaram, ajudando-os com alimentação, abrigo e transporte de
mantimentos “Eu me sinto muito emocionado, forte, porque eles eram
pessoas humildes, que ajudavam os outros. Eles viam uma pessoa pela
primeira vez e parecia que já a conheciam há 200 anos. Eu amava aquele
povo. O que lembro dos guerrilheiros, eu vi e conto o que vi ao vivo. Eu
convivi com eles.”
O movimento guerrilheiro no Araguaia começou no fim dos anos 60 para
lutar contra a ditadura militar. Organizado por pessoas ligadas ao
PCdoB, o grupo acabou constituindo o primeiro movimento que enfrentou o
Exército durante o regime militar. No conflito, morreram mais de 60
pessoas e muitos corpos continuam desaparecidos.
Com informações da Agência Brasil
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