Nos
meios políticos há o temor de que a investigação do Congresso sobre a
Operação Montecarlo, desfechada pela Polícia Federal, sobre as relações
do homem de múltiplos negócios de Goiás, conhecido como Carlos
Cachoeira, com parlamentares, membros do poder executivo de Goiás e do
Distrito Federal, venha a ampliar-se. Há informações de que pode surgir o
envolvimento de outras personalidades e de outros partidos políticos,
em outras unidades da federação. A rede de influência do empresário de
Goiás parece ser mais ampla do que a de Al Capone.
O comportamento da presidente da
República inquieta alguns observadores. Uma investigação desse porte
costuma assustar os chefes de governo, mais ainda em ano eleitoral.
Tancredo Neves comparava esses inquéritos do parlamento à retirada de
caranguejos dos jequis de pesca: eles sempre saem agarrados uns aos
outros. Sendo assim, mesmo que não temam a apuração das denúncias, os
chefes de governo, em todas as esferas do Estado, buscam impedir essas
comissões de inquérito, pela turbulência que sempre causam. Pois bem,
até agora, a presidente da República não tomou qualquer iniciativa para
dificultar as investigações, nem para incitá-las.
Uma visão mais republicana de sua atitude favorece-a: o poder executivo
não deve imiscuir-se nos assuntos interna corporis do Parlamento. Uma
visão mais particular, sabendo-se de seus atos anteriores, pode
identificar o desejo de depurar o governo e o Estado, pelo menos durante
o seu mandato, dos corruptos e corruptores. Ao esquivar-se de qualquer
iniciativa no caso, ela preserva sua autoridade, principalmente em ano
de eleições municipais.
É, mais do que possível, provável, que os temores se venham a
justificar: nas teias do ativo empreendedor de Goiás, pelo que se sabe
até o momento, há gente de toda espécie – de policiais a espiões
particulares; de empresários de alta estirpe a meros assessores, além de
jornalistas.
Será difícil emperrar a CPI, com adiamentos ou com manobras, como tem
ocorrido a outras, em tempos recentes. Há algum tempo lembrávamos, neste
mesmo espaço, o reaparecimento de uma instituição que parecia afastada
da História, nestes anos de neoliberalismo: a cidadania. Ainda que os
ensaios de mobilização não tenham levado às conseqüências radicais, os
cidadãos começam a mover-se, a ocupar as ruas do mundo, a clamar por
justiça. E é o que pode vir a ocorrer entre nós. É hora de identificar
os homens públicos realmente honrados e os que posam de honrados, como
os fariseus do Evangelho.
Se há órgãos de imprensa mancomunados com o corruptor goiano, que sejam
conhecidos. Nesse caso, mais do que o rigor da lei, se a lei lhes puder
ser aplicada, pesará o juízo da opinião pública. À imprensa cabe, nas
democracias, a desagradável tarefa de fiscalizar as instituições
políticas, a serviço da cidadania. Será muito grave se se descobrir que
esse ou aquele jornalista tenha agido como o Senador Demóstenes Torres
parece ter atuado: em público, ao posar Catão usticense; nas sombras,
recebendo ordens, como obediente assalariado do contraventor goiano.
Tratemos de outra consternação diante da atualidade. O Sr. Murillo
Portugal – um desses tecnocratas que trabalhavam para o Estado e depois
atravessaram a rua para servir ao outro lado – foi emissário das queixas
dos banqueiros ao governo. Os bancos se recusam a baixar a diferença
entre as taxas de captação e as dos empréstimos que cobram dos seus
devedores – das mais altas do mundo - sem que recebam compensações. Os
cinqüenta bilhões de lucros obtidos – com inadimplência ou sem ela –
lhes parecem pouco. Assim, ainda pedem isenções de tributos – e cobram
300 milhões de reais da Receita pelo recolhimento de impostos em suas
caixas eletrônicas. Se continuarem assim, é provável que a estatização
dos bancos se faça de maneira suave: seus clientes acabarão preferindo o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
Fonte: Blog do MAURO SANTAYANA
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