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sábado, 14 de abril de 2012

Supremo Tribunal protegeu a civilização da barbárie religiosa


Título original: STF espalma para fora e salva a pátria


por Marcelo Carneiro da Cunha para Terra Maganize

A zaga central da República não fez a sua parte, não deu chutão na escuridão religiosa e mais uma vez o país se salvou do desastre graças ao nosso goleirão que atua de olhos vendados.


O sistema de defesa de uma sociedade é baseado no jogo definido pela Constituição, caros leitores. E a nossa Constituição, assim como a nossa república, é laica. Religião é um direito reconhecido. Qualquer um pode rezar pro Padinho Padi Ciço virado para Meca e dar todo o seu rico dinheirinho para o Edir Macedo viver como um deus; está na Constituição.

Mas, também, ninguém pode brandir um livro qualquer, escrito por quem quer que seja, e vir infernizar a nossa vida com ameaças e tentativas de reduzir a vida a o que eles entendem como certo. Somos constitucionalmente à prova desses abusos.

O Congresso, que deveria fazer a sua parte, se lança para um ataque insensato, toca a bola pra todo lado de maneira esfumaçada, por ser formado em grande parte por gente com a densidade moral e intelectual de neblinas. O Congresso, esse Congresso, na hora que a coisa pega, vira um Toninho Cerezzo em pleno Sarriá, jogando contra as cores pátrias, mesmo que por avoação nata.

Religiosos não odeiam apenas aos gays, que também somente tiveram o direito básico de formar uniões estáveis reconhecidos graças ao Supremo. Religiosos odeiam, historicamente, as mulheres. Elas são as culpadas por não estarmos até hoje lá no paraíso, chupando Chicabom ao som do padre Marcelo. Elas, com sua obsessão por maçãs, nos tornaram o que somos: pecadores. Elas precisam ser punidas, e o que pode se comparar, como punição, a ter que ter dentro de si, por meses, um bebê virtualmente morto?
Forçar a manutenção de uma gravidez dessas é algo digno da Inquisição, coisa que a igreja católica entende muito bem, e as evangélicas, pelo visto, invejam.

Eu sou o pai tinta fresca de um lbebê de cinco meses de idade. Graças à tecnologia existente, nada divina, posso assegurar, desde muito cedo pudemos acompanhar o desenvolvimento do feto que iria se tornar um lindo bebê (na minha opinião isenta). Com algumas semanas já sabíamos, com boa dose de certeza, que ele não tinha problemas de formação, e pudemos acompanhar o seu desenvolvimento continuamente, começado ali a relação intensa, riquíssima, que agora passou a ser aeróbica para todos.

Se esse processo de acompanhamento e suspiros foi intenso para o pai, não consigo imaginar sequer o que foi para a mãe, por simples falta de útero e terminações nervosas e de alma que o acompanham. Eu não sei o quanto, mas sei muito bem da natureza absolutamente absoluta da relação que se cria entre mãe e futuro bebê, ali, visível, com direito a coraçãozinho batendo e ruídos de filme de ficção cientifica.

E sei, sem ninguém precisar me dizer, do sofrimento insuportável que seria ver um feto sem cérebro, uma infeliz alteração genética que nos acomete por sermos basicamente um DNA que se duplica, com suas chances de erros embutidas no processo.

E sei, sem nenhum religioso anencéfalo a me dizer, que submeter uma mulher ao sofrimento insuportável de ter que manter dentro de si aquele feto sem chances, com tudo que isso traz de dor, espanto, e alguma forma de culpa, por que pais se culpam por tudo nesses casos, seria simplesmente a glória de qualquer religioso misógino. E também seria uma tortura inconcebível, em uma era na qual a ciência, e apenas ela, além do avanço da sociedade, nos protege de torturas.

O Supremo Tribunal Federal honrou a nobre estirpe dos goleiro, e protegeu a civilização da barbárie religiosa e masculina. Ele não decidiu ou resolveu o complicadíssimo tema do aborto, e isso não é missão para zagueiros, mas para um futuro melhor. As feministas aqui se mostram tão absolutistas quando os religiosos, e ambos estão errados. A questão central é complexa, por demais complexa, para ser deixada nas mãos de humanos, mesmo dos melhores, e talvez por isso mesmo não tenha solução, mesmo que tenha rimas eventuais e temporárias. 

O que se decidiu, foi que a barbárie tem que ser contida, e ela o foi, para nossa sorte e felicidade.
O mundo é incontrolável, caros leitores. E agora, mais uma vez fica demonstrado: sem zagueiros, ele fica por demais próximo do precipício que adoramos construir.
Dogmas de fé não podem influenciar decisões de Estado, afirma Mello.
abril de 2012 

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