Grupo representa 80% das irmãs americanas e é acusado de ‘sérios problemas doutrinários’
NOVA YORK — O Vaticano nomeou um bispo americano para conter o maior e mais
influente grupo de freiras católicas nos Estados Unidos. Motivo: "sérios
problemas doutrinários", dentre eles, a defesa de ideias “feministas radicais
incompatíveis com a fé católica”. A Conferência de Liderança de Mulheres
Religiosas, diz a Santa Sé, também desafiou a doutrina da Igreja acerca da
homossexualidade e do sacerdócio exclusivamente masculino.
O grupo é uma organização das comunidades religiosas femininas americanas
composta por 1.500 membros e representa 80% das freiras dos Estados Unidos. A
Conferência foi formada em 1956, a pedido do próprio Vaticano, segundo a irmã
Annmarie Sanders, diretora de comunicação.
As irmãs estão sendo repreendidas por fazerem declarações públicas que "vão
contra os bispos, autênticos mestres de fé e moral da Igreja ", segundo a
acusação. Durante o debate sobre a reforma da saúde encampada por Barack Obama
em 2010, bispos americanos discordaram do plano. Dezenas de irmãs, muitas delas
pertencentes à Conferência de Liderança, foram a favor, dando um apoio crucial
ao presidente americano em sua batalha pela alteração legislativa.
Grupo se diz espantado
A decisão do Vaticano surpreendeu completamente a organização, disse a irmã
Sanders. Nesta quarta-feira, as líderes do grupo estavam em Roma, no que
pensavam ser uma visita de rotina anual ao Vaticano. Entretanto, acabaram
informadas do resultado da investigação iniciada em 2008 sobre as práticas da
Conferência.
“A presidência da Conferência de Liderança de Mulheres Religiosas está
espantada comas conclusões da investigação doutrinária”, diz um comunicado,
adiantando que deve dar uma resposta mais completa no futuro.
— Estou surpresa — desabafou a irmã Simone Campbell, diretora executiva da
Network, outra organização citada no relatório da investigação feita pelo
Vaticano. O movimento fundado por freiras foi criticado por focar o seu trabalho
demasiadamente na pobreza e na injustiça econômica, mas mantém "silêncio" o
aborto e o casamento gay. — Imagino que foi nossa posição sobre a saúde que os
deixou chateados. Nós não violamos nenhum princípio. Apenas levantamos questões
e fazemos interpretações políticas — completa Simone.
O veredito sobre o grupo das freiras foi dado pela Congregação do Vaticano
para a Doutrina da Fé, que hoje é liderada por um americano, o cardeal William
Levada, ex arcebispo de São Francisco. Ele indicou o arcebispo J. Peter Sartain,
de Seattle, para chefiar o processo sobre a conferência das irmãs.
Um prazo de cinco anos foi dado a Sartain e outros dois bispos para revisar
os estatutos da Conferência de Liderança das Mulheres Religiosas, aprovar cada
orador dos programas públicos da organização e substituir o manual utilizado
pelas irmãs para facilitar o diálogo em assuntos que, para o Vaticano, são
doutrinas estabelecidas. Os religiosos também devem analisar as ligações da
Conferência com a Network e uma terceira organização, o Centro de Recursos para
a Vida Religiosa.
‘Ação era previsível’
Questões doutrinárias têm sido as mais importantes durante o papado de Bento
XVI, que foi responsável pelo escritório doutrinal do Vaticano antes de se
tornar Pontífice. As freiras americanas, especialmente, têm estado sob
investigação. No ano passado, bispos anunciaram que um livro de uma popular
teóloga da Universidade de Fordham, a irmã Elizabeth A. Johnson, deveria ser
removido de todas as escolas e universidades católicas.
Além disso, ao mesmo tempo em que analisava o caso da Conferência de
Liderança, o Vaticano conduziu uma investigação paralela de todas as ordens e
comunidades de mulheres religiosas dos Estados Unidos. Esse inquérito, conhecido
como "visitação", foi concluído em dezembro do ano passado, mas os resultados
não foram divulgados.
Acadêmicos que estudam a Igreja dizem que a ação do Vaticano era esperada, em
razão das visões conservadoras do Papa Bento XVI e dos esforços de Roma para
acabar com dissidências internas e reduzir a autonomia de seus subordinados.
— É mais uma expressão do sentimento da Igreja de estar encurralada por
tendências que não consegue controlar dentro da própria Igreja e muito menos na
sociedade como um todo — diz o historiador Scott Appleby, da Universidade de
Notre Dame.
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