As mulheres da
Tunísia representaram um papel central na revolução popular que levou à
derrubada do ditador Zine el Abidine Ben Ali. Ao contrário da população
feminina de grande parte do mundo árabe, as tunisianas praticamente
gozam de igualdade em relação aos homens. Porém algumas temem que
partidos radicais islâmicos, até então banidos, retornem, provocando um
retrocesso.
"Mais civilizadas"
Vozes femininas soaram
fortes durante os protestos de massa no país. Na capital Túnis, senhoras
idosas, adolescentes e mulheres trajando a túnica negra dos juízes
desfilaram pelas ruas, exigindo o fim do regime autoritário. Quase
nenhuma portava o lenço de cabeça muçulmano, e hoje elas parecem estar
por toda parte, participando de tudo ao lado dos homens.
A advogada Irgui Najet,
de 36 anos, está envolvida numa discussão de rua, defendendo o governo
provisório da Tunísia. Impressionados com seus conhecimentos e com sua
argumentação, os homens à sua volta dizem que ela deveria se candidatar à
presidência. Ninguém parece ver sua condição feminina como um
obstáculo.
Najet define a
diferença entre as tunisianas e suas irmãs do mundo árabe: "Nós nos
sentimos mais livres e mais civilizadas do que outras árabes.
Especialmente após nossa revolução, temos pena das mulheres nos países
vizinhos. Olhe a Líbia, onde elas têm que cobrir a cabeça e não podem
sequer conversar com os homens: é uma catástrofe!".
Antecedentes feministas
A população feminina da
Tunísia é bastante presente: consta mesmo que um terço dos juízes do
país são mulheres. Diante da lei, elas possuem o mesmo direito ao
divórcio que os homens, e a poligamia é ilegal. Desde 1962, têm acesso
ao controle de natalidade e o aborto já foi legalizado em 1965: ou seja,
oito anos antes dos Estados Unidos.
As tunisianas devem
suas numerosas liberdades e a igualdade ao Código de Direito Civil de
1956, assim como a um excelente sistema educacional, aberto a todos.
Elas também são gratas ao presidente Habib Bourguiba, o pai fundador que
liderou a luta de independência em relação à França, e que desejava que
as mulheres fossem parte integrante da sociedade.
Ninguém atribui o menor
crédito ao deposto Ben Ali: segundo Khadija Cherif, ativista do
feminismo há anos, o ex-ditador só fingia apoiar os direitos femininos
para agradar ao Ocidente.
Um eventual retorno dos
partidos radicais islâmicos, banidos sob Ben Ali, poderá representar
uma ameaça, mas as mulheres permanecerão vigilantes, promete. "A força
do movimento feminista tunisiano foi nunca ter se distanciado da luta
pela democracia e pela sociedade laica. Continuaremos a combater, para
assegurar que a religião continue totalmente separada da política."
De lenço ou de minissaia
A advogada de 31 anos
Asma Belkassem tampouco demonstra medo de uma volta dos extremistas
religiosos: "O que está certo é que nós, mulheres, temos direitos na
Tunísia. Ninguém vai tomá-los: nem os radicais, nem ninguém!".
O advogado Bilel Larbi
confirma essa avaliação. Ele considera as manifestações de janeiro a
melhor maneira de julgar as relações entre os sexos na Tunísia: "Veja
como as tunisianas estiveram lado a lado com os homens. Elas foram às
ruas protestar, de lenço na cabeça, de minissaia. Não importa: elas
estavam lá!"
Larbi assegura: depois
de ter se erguido juntos para derrubar o ditador, os homens da Tunísia
não pretendem deixar ninguém retirar as liberdades das mulheres do país.
Autoria: Eleanor Beardsley (av)
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: BBC
Fonte: BBC
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