Os presidentes Nicolas Sarkozy e Zine el Abidine ben Ali em 2008
AFP/Dominique Faget
Ultrapassado pelos acontecimentos, tardio no apoio aos democratas, o Governo francês deu sinais de estar com o regime de Ben Ali até ao fim. Hoje, tem grande dificuldade em justificar a sua posição.
“Passar de um dia para o outro de um apoio total a uma
ditadura para o apoio ao movimento democrático que se lhe segue não é
fácil. É, pois, com confusão e embaraço que o Governo francês se
exprime, desde há dias, a propósito da 'Revolução do Jasmim'”, escreve o Libération.
Para Le Monde, a diplomacia francesa, “forçada a adaptar-se a um encadeamento de acontecimentos que a ultrapassou”,
ficou numa situação difícil. Foi necessário esperar pelas 14 horas de
15 de janeiro (ou seja, 24 horas após a precipitada fuga de Ben Ali),
para que o Eliseu alinhasse pela primeira vez com os que reclamam uma
democratização. E foi “com um dia de atraso sobre os Estados Unidos” que a França reclamou a organização de eleições livres, o mais depressa possível, no seu antigo protetorado. Há que dizer, recorda o diário, que “todos os antecessores de Sarkozy tinham dado provas, se não de complacência, pelo menos de uma extrema prudência em relação a este antigo protetorado francês”. “Para justificar a posição expectante durante os dias de uma repressão policial sangrenta na Tunísia”, prossegue Le Monde, os responsáveis franceses enunciaram, através de um comunicado do Eliseu, “um conceito de contornos pouco nítidos”, o da “não-ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano”.
“O Governo está um bocado embaraçado”, realça o Libération.
O principal alvo das críticas da imprensa e dos políticos é
a ministra dos Negócios Estrangeiros, Michèle Alliot-Marie, que foi
convocada a comparecer na Assembleia Nacional, no dia 18 de janeiro,
para explicar a incoerência da política diplomática francesa na Tunísia,
bem como na Costa do Marfim. No início da revolta tunisina, recorda o Libération, disponibilizou “as competências das nossas forças de segurança” para que “o direito de manifestação possa coexistir com a garantia de segurança”.
“Michèle Alliot-Marie vai ter mais dificuldade em recuperar, porque
ninguém, no Executivo, parece ansioso por apoiá-la”, sublinha o
Libération. Enquanto a oposição de esquerda denuncia "uma diplomacia do cinismo", o ministro da Defesa, Alain Juppé, reconhece que “subestimámos, indubitavelmente, o grau de exasperação da opinião pública face a um regime policial e ditatorial”.
“O Governo francês aplica-se, agora, em corrigir o rumo”, observa o diário La Croix. Este jornal católico considera, porém, que “cabe à Europa assumir a liderança, como fez a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, ao prometer apoiar a Tunísia em todos os esforços para construir ‘uma democracia estável’, para preparar e organizar as eleições. Antes de conferir à nova Tunísia, num dia que se espera próximo, o ‘estatuto avançado' que estreitará as relações entre as duas margens do Mediterrâneo, de igual para igual”.
Visto da UE
Silêncio sobre as "partes interessadas" do Norte de África
A UE expressou “solidariedade” em relação ao povo tunisino, mas não se pronuncia sobre o resto do Norte de África, frisa o EUobserver. Recusando
pronunciar-se sobre o destino de outros regimes da região, a porta-voz
dos Negócios Estrangeiros, Maja Kocijancic, declarou: "Não podemos especular sobre situações que não se manifestam". O sítio informativo, sediado em Bruxelas, explica que, só neste fim de semana, “ocorreram na Argélia quatro protestos-suicidas, semelhantes à morte de Muhammad Buazizi, o universitário de 26 anos da Tunísia, e mais dois na Mauritânia e no Egito. Os motins assolaram a Argélia nas últimas semanas, a propósito dos aumentos dos preços dos alimentos. Em resposta, o Governo baixou os preços do óleo e do açúcar. Pressionada, Maja Kocijancic declarou: 'Estamos a seguir a situação na Argélia com muita atenção. Apelámos à calma e à contenção… e convidámos as autoridades argelinas a prosseguir um diálogo frutuoso com as partes interessadas'.”
Fonte: PRESSEUROP
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Sabem por que, em certo momento, o dirigente francês passou a falar em "laicismo positivo" e a dar demonstrações de afeto à ICAR?
Por interesse nos votos dos católicos, como fazem, por aqui, os que custeiam, com dinheiro público, a restauração de templos católicos tombados, senão vejamos:
Sarkozy visita o papa para reconquistar eleitores católicos, afirmam jornais
O presidente Nicolas Sarkozy foi recebido pelo papa Bento 16 No Vaticano.
Os jornais franceses desta sexta-feira analisam a visita do
presidente Nicolas Sarkozy ao Vaticano. Oficialmente, a viagem visa
preparar a presidência francesa do G20, mas a imprensa diz que Sarkozy
tenta se reconciliar com a Igreja Católica. A preocupação dos europeus
com a alta do euro também é abordada pelos jornais desta sexta-feira.
Nicolas Sarkozy será recebido nesta sexta-feira pelo papa Bento
16 para tentar reconquistar o eleitorado católico na França, afirma o Le Parisien.
O encontro foi pedido pelo presidente francês e oficialmente visa
preparar com Bento 16, que também é chefe de Estado, a presidência
francesa do G20. Mas o tabloide acredita que a viagem foi organizada por
causa das críticas da Igreja Católica sobre as expulsões de ciganos da
França durante o verão e principalmente após o discurso do papa, em
francês, no dia 22 de agosto, convidando os países a "acolher a
diversidade humana".
O La Croix confirma que a visita foi organizada em caráter
de emergência pelo Palácio do Eliseu e que ela servirá para acabar com
os mal-entendidos e mostrar as boas relações que o presidente tem com os
católicos. Esta é a terceira vez que Nicolas Sarkozy e o papa se
encontram e o presidente francês, em queda nas pesquisas, vai tentar
tirar proveito político da visita, afirma o jornal católico.
Mas Libération destaca um novo escândalo que deve amplificar
as críticas contra política francesa sobre os ciganos: o arquivo
policial ilegal Mens, sigla para "minorias étnica não sendentárias". O
arquivo secreto, cuja existência foi revelada na quinta-feira,
estigmatiza os ciganos ao associar delinquência intinerante e as
minorias não sedentárias, acusa do jornal. Quatro associações entraram
com uma queixa na justiça para saber que autoridade, política ou
militar, autorizou a criação do arquivo e se ele ainda existe.
Le Figaro e Les Echos estão preocupados com a alta
do euro. O jornal conservador escreve que a valorização da moeda única
europeia, que chegou a valer um dólar e 40 centavos na quinta-feira,
enfraquece as empresas e as exportações francesas. E os Les Echos
denuncia a falta de reação do Banco Central Europeu, que manteve sua
taxa de juros inalterada, diante dessa alta que pode afetar o
crescimento do bloco.
Fonte: http://www.portugues.rfi.fr
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