Após carregar corpo por mais de um dia, fêmea colocou os dedos contra o pescoço do bebê
Pela primeira vez, pesquisadores do
Instituto Max Planck de Psicolinguística, na Holanda, relatam em
detalhes como uma mãe chimpanzé reage à morte de seu bebê. O animal
apresenta comportamentos que não são normalmente vistos com os filhotes
vivos, como colocar os dedos contra o pescoço deles e deitar o corpo no
chão para vê-los a distância.
Hélvio Romero/AE
Resultados estão na American Journal of Primatology
As observações da pesquisadora Katherine Cronin e de
sua equipe fornecem uma visão única sobre como os chimpanzés, um dos
primatas mais próximos dos seres humanos, aprendem sobre a morte. Os
resultados do estudo estão na edição online desta semana da revista American Journal of Primatology.
Os cientistas conduziram o trabalho no abrigo para animais Chimfunshi
Wildlife Trust, na Zâmbia, África, onde chimpanzés selvagens resgatados
do comércio ilegal vivem no maior grupo social em ambiente fechado do
mundo. A dra. Katherine e Edwin Van Leeuwen, do Max Planck, colaboraram
com Innocent Mulenga, do Chimfunshi, e com o dr. Mark Bodamer, professor
de psicologia na Universidade de Gonzaga, no Estado de Washington
(EUA).
Estreita relação
Mães chimpanzés normalmente mantêm estreito contato por vários anos
com seus filhotes, carregando-os quase que continuamente por 2 anos e os
amamentando até os 4 ou 6 anos de idade. O forte vínculo entre mãe e
filho continua por vários anos após o desmame, e é um dos
relacionamentos mais importantes na vida desse primata.
Morte prematura
Katherine e os colegas avaliaram o comportamento que um chimpanzé
fêmea expressou em relação a seu bebê de 16 meses que havia morrido
recentemente. Após carregar o corpo do filhote por mais de um dia, a mãe
colocou-o no chão, em uma clareira, aproximou-se várias vezes dele e
estendeu os dedos contra o rosto e o pescoço dele por vários segundos.A
fêmea ficou perto do corpo por quase uma hora, em seguida levou-o a um
grupo de chimpanzés e os viu examinarem o animalzinho. No dia seguinte, a
mãe já não carregava mais o filho morto.
Quase nada se sabe sobre como os primatas reagem à morte de
indivíduos próximos, o que eles entendem sobre a morte ou se choram. Os
pesquisadores acreditam ter presenciado um período único de transição em
que a mãe aprende sobre a morte do filho, processo nunca antes relatado
em detalhes. Mas eles se abstêm de interpretação, enquanto fornecem
vídeos aos telespectadores para permitir que eles julguem por si mesmos o
que os chimpanzés entendem sobre a morte.
"Os vídeos são extremamente valiosos, porque nos forçam a parar e
pensar sobre o que pode estar acontecendo na mente de outros primatas",
diz a pesquisadora. "Se um espectador decide finalmente que o chimpanzé
está de luto, ou simplesmente curioso sobre o corpo, não é tão
importante quanto parar um momento para considerar essas
possibilidades", afirma.
Vínculo mãe-bebê
Estudos anteriores documentaram mães chimpanzés carregando seus
filhotes mortos durante dias ou semanas, demonstrando que o rompimento
do vínculo mãe-bebê é incrivelmente difícil para eles. A atual pesquisa
complementa essas observações e lança uma nova luz sobre como esses
animais podem aprender sobre a morte.
"Nossas informações contribuem para um pequeno, mas crescente banco
de dados sobre como primatas não humanos reagem à morte. Esperamos que
essas descobertas continuem se acumulando e, eventualmente, permitam que
os cientistas façam uma análise abrangente sobre a extensão do
entendimento de primatas não humanos sobre a morte, e como eles
respondem a isso", destaca Katherine.
Semelhanças com humanos
"O abrigo Chimfunshi fornece uma incrível oportunidade de observar o
comportamento de chimpanzés que vivem em grandes grupos sociais
multietários e em condições naturalistas, o olhar mais próximo possível
da vida selvagem", diz Bodamer. "Era apenas uma questão de tempo e de
condições adequadas que a resposta dos chimpanzés à morte fosse gravada e
submetida a uma análise para revelar notáveis semelhanças com os seres
humanos", completa.
Fonte: ESTADO DE SP
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