Desde a queda do ex-líder
iraquiano Saddam Hussein, um grupo de especialistas vem trabalhando para
restaurar uma região do Iraque que foi, no passado, o maior ecossistema
úmido da Eurásia.
Os Sapais da Mesopotâmia, plenos de água e vida
natural, são tidos por muitos cristãos como o berço da humanidade, o
verdadeiro Jardim do Éden.
Na década de 1990, para punir tribos árabes
nativas da região pantanosa - que haviam se revoltado contra seu governo
após a primeira Guerra do Golfo - e outros opositores que se refugiavam
no local, Saddam drenou os rios que abasteciam a área.
O ex-líder construiu uma rede de canais para desviar a água dos rios Eufrates e Tigre, direcionando-a para o mar.
Cercada de terras áridas, esta rara paisagem de
pântanos e lagos que cobria 15 mil quilômetros quadrados no sul do país
passou a ocupar 10% do seu território original, com consequências
devastadoras para a vida selvagem e os povos que ali viviam.
Reconstrução
Agora, o iraquiano Azzam Alwash lidera um grupo
de engenheiros e biólogos que trabalham para restaurar os pântanos e
trazer de volta as inúmeras espécies de animais e plantas que nativas da
região.
Alwash, que após fugir do governo de Saddam
Hussein viveu vários anos nos Estados Unidos, costumava acompanhar seu
pai - um engenheiro do departamento de água do governo - em viagens aos
sapais.
Após a ocupação do Iraque, em 2003, ele voltou
ao país para trabalhar no pântano e fundou a organização Nature Iraq,
dedicada a proteger e restaurar o patrimônio natural iraquiano.
Quem visita os Sapais da Mesopotâmia hoje
descobre um Iraque diferente daquele que existe na televisão. Oito anos
após o início do projeto, grandes porções dos pântanos foram
restauradas.
No entanto, o ritmo da restauração caiu bastante, por causa da escassez de água na região. No seu ápice, o projeto chegou a recuperar mais de 50% do pantanal, mas hoje a proporção caiu para 30%.
Os sapais voltaram a sofrer com a disputa pelo abastecimento de água.
Porque as represas locais reduziram o volume de
água que chega à região, as inundações que, com a chegada da primavera,
retiravam os depósitos de sal acumulados no pântano e reabasteciam os
leitos das lagoas com minerais pararam de acontecer.
Como resultado, os sapais estão ficando mais
salinos, o que afeta o ecossistema da região. Tudo isso, aliado a uma
prolongada seca regional, está provocando um segunda onda de
desertificação no local e ameaçando a vida selvagem.
As poucas tribos árabes que retornaram aos
sapais correm o risco de ter de partir de novo, já que os pântanos não
conseguem suprir suas necessidades de subsistência.
Alwash e a ONG Nature Iraq estão tomando medidas
para tentar reverter o quadro. Entre elas, a construção de uma grande
barreira no rio Eufrates para tentar elevar artificialmente o nível do
rio.
Se der certo, a obra pode reidratar uma grande porção central do pantanal.
No entanto, será uma medida temporária enquanto
outra obra, que deverá fechar um dos canais de drenagem construídos por
Saddam, está em andamento.
O projeto ainda prevê a redistribuição da água
que chega aos sapais, usando uma rede de reguladores para garantir um
suprimento contínuo para os pântanos centrais.
Vitórias
Entre as vitórias já conseguidas pela
restauração de Azzam Alwash está a volta aos Sapais da Mesopotâmia do
bando de uma rara espécie de pássaro, a Marmaronetta angustirostris, que foi avistado no local. Ornitólogos contaram pelo menos 40 mil pássaros no grupo.
A ave, também conhecida como ganso de Magalhães, vive apenas nessa região e do outro lado da fronteira, na Turquia.
Mas a desertificação dos pântanos reduziu tanto a sua população que hoje a espécie é considerada ameaçada de extinção.
Outros pássaros raros tem sido avistados na
área, que agora pode ser visitada por especialistas. As expedições para o
estudos de pássaros eram proibidas durante o governo de Saddam Hussein.
O desafio que permanece é manter a água fluindo para os pantanais, permitindo que o "Éden" floresça novamente.
Fonte: BBC
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