Lançado no fim do ano passado nos Estados Unidos, o livro "Apollo's
Angels" (anjos de Apolo) poderia ser apenas mais um entre tantos a
contar a história da dança através dos séculos.
Uma afirmação, no entanto, fez com que a obra ganhasse uma projeção
inimaginada por sua autora, a ex-bailarina e historiadora Jennifer
Homans --mulher do também historiador Tony Judt (1948-2010).
"O balé está morrendo", escreveu ela no epílogo do calhamaço de mais de 600 páginas.
Críticos de dança logo re
agiram, acusando-a de ignorar coreógrafos
contemporâneos. Em fóruns de discussão na internet, fãs do balé pediam
para que os leitores não acreditassem no que Homans havia publicado.
A repercussão ajudou a projetar o livro e culminou na escalação dele
como uma das dez melhores obras de não ficção de 2010, segundo o "New
York Times".
Divulgação | ||
A escritora e historiadora norte-americana Jennifer Homans |
À Folha a autora afirmou que sua intenção era apenas incitar um
debate até então inexistente, mas necessário: afinal, qual é a
relevância do balé nos dias de hoje?
Folha - Diante da ascensão de novos coreógrafos, como o russo Alexei
Ratmansky, o que a levou à conclusão de que o balé está morrendo?
Jennifer Homans - Não senti que o livro fosse o lugar para
discutir o trabalho desse ou daquele coreógrafo. O balé anda muito
conservador, desinteressante. Claro que há gente produzindo, como
Ratmansky, o [inglês] Christopher Wheeldon. Eles são talentosos, mas
ainda não criaram nada no nível de George Balanchine, Jerome Robbins e
Antony Tudor.
O bailarino perdeu espaço para o coreógrafo?
Os bailarinos de hoje são muito bons tecnicamente, mas não têm o tipo de
confiança que a geração de Baryshnikov tinha. Será que é porque houve
uma revolução na mídia visual e os bailarinos têm um modo distinto de
entender o movimento e sua dimensionalidade? O balé está mudo. Pode ser
espetacular, mas não há mais personalidade.
Hoje há uma obsessão pela remontagem fiel de balés do século 19. Por que isso ocorre?
Temos uma preocupação enorme com o que seria o "verdadeiro balé". O fato
de não termos mais grandes coreógrafos nutre a preocupação em manter o
passado. Estão todos obcecados com a autenticidade, em como o passo deve
ser feito. A questão é que, na tradição, o passo mudava o tempo
inteiro, havia mais fluidez. É preciso entender que a tradição requer um
certo desapego.
Atualmente há muitas exibições de balé ao vivo no cinema. O que isso implica?
Muda como as pessoas preservam a dança. No entanto, vale lembrar que
esses documentos não são perfeitos, são mais como uma forma unificadora
que não substitui o teatro ao vivo. É mais fácil criar novas formas de
se ver balé do que criar novos balés. Esse é o problema.
Fonte: FOLHA DE SP
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