Dois dias após
terem selado um acordo com a extrema direita antimuçulmana de Geert
Wilders, os democrata-cristãos holandeses ainda poderão recuar. Líderes
do partido mencionam "algumas reclamações" que podem impedir aliança.
Na madrugada desta
quinta-feira (30/09), os parlamentares do Partido Democrata-Cristão
decidiram aguardar a convenção que acontece neste sábado (02/10) para
que seja tomada uma decisão a respeito da coalizão de governo envolvendo
uma aliança com o populista de direita Geert Wilders. A convenção
deverá reunir cerca de dois mil delegados na cidade de Arnheim.
Risco de cisão
O aval para uma
coalizão entre democrata-cristãos e liberais, só viável com o apoio do
partido de Wilders, esbarrou na resistência de pelo menos dois deputados
entre os 21 democrata-cristãos no Parlamento em Haia.
Maxime Verhagen,
líder da bancada democrata-cristã, mencionou "algumas reclamações"
internas a respeito da aliança com Wilders. "Ao mesmo tempo, todos os 21
parlamentares estão de acordo que o voto na convenção terá muito peso",
declarou Verhagen. Muitos membros do partido temem, contudo, que a
colaboração com o partido de Wilders possa cindir a sociedade holandesa.
Depois de 111 dias de
negociações, liberais de direita e democrata-cristãos haviam chegado a
um acordo na última quarta-feira (29/09) a respeito da formação de um
governo de minoria, após decidirem-se pela aliança com a facção
antimuçulmana e populista de direita de Wilders.
"Acordo de tolerância"
O "acordo de
tolerância", a ser assinado por democrata-cristãos e liberais, prevê a
participação do Partido pela Liberdade de Wilders em determinadas
decisões políticas para as quais é necessária uma maioria absoluta no
Parlamento. Juntos, os três partidos, porém, só chegam a 76 dos 150
votos, ou seja, apenas um voto garantindo a maioria.
Wilders ganha,
segundo suas próprias palavras, "uma influência considerável sobre a
política governamental". O populista de direita pode, em tese, até mesmo
levar a um desmantelamento do governo e à convocação de novas eleições.
Polícia fortalecida
Segundo informações
divulgadas pela mídia, caso essa coalizão seja mesmo concretizada, o
novo governo tolerado pelo partido populista de direita pretende
fortalecer o aparato policial no país e reduzir os gastos públicos em 16
bilhões de euros.
Outras propostas são a
de fundir os ministérios da Justiça e da Segurança e reduzir a ajuda ao
desenvolvimento para 0,7% do PIB do país.
A formação de um
governo na Holanda vem fracassando desde junho último, quando, após as
eleições, não foi possível o estabelecimento de uma maioria parlamentar.
Wilders defende um
cessar completo da entrada de imigrantes provenientes de países
muçulmanos na Holanda, além da proibição do alcorão, livro sagrado do
islã, que Wilders comparou a Minha Luta, de Adolf Hitler.
Precursora de política islamofóbica
Na Alemanha, o diário berlinense taz, die tageszeitung escreveu na
edição desta quinta-feira que "entre todos os populistas de direita que
fazem campanha contra os muçulmanos, Geert Wilders é o mais extremo.
[...] Com ele servindo de força-motriz à direita, a Holanda poderá se
tornar, em toda a Europa, a precursora de uma política à qual o adjetivo
islamofóbico se adéqua. Mas talvez o fantasma no país passe rápido. A
frágil aliança dispõe apenas de um voto a mais no Parlamento. Resta
esperar que não demore muito".
"Até há pouco tempo,
isso seria impensável em uma Holanda que se manteve durante décadas como
um refúgio de posturas de vida liberais", lembra o semanário Der Spiegel. Segundo a revista, vários políticos alemães demonstraram séria desconfiança em relação ao pacto selado no país vizinho.
Alemães preocupados
Ruprecht Polenz,
líder da Comissão de Política Externa no Parlamento alemão, afirmou à
revista que "apesar das dificuldades de formação de governo na Holanda,
Wilders e seu partido continuam sendo contrários à política
democrata-cristã. Com sua islamofobia e seu populismo, em vez de unir,
ele provoca uma cisão na sociedade", completou o deputado.
O social-democrata
Rolf Mützenich assinalou que a tolerância a Wilders e sua política
"enfraquecem os valores comuns europeus", enquanto o Partido Liberal
apontou "uma situação difícil".
"Possivelmente o
receio alemão perante a ascensão de Wilders no cenário holandês se dá em
função da constatação de que, na própria Alemanha, parece existir um
terreno fértil para um partido à direita dos democrata-cristãos",
analisa o Der Spiegel, que escreve ainda que o exemplo holandês pode surtir efeitos em nível europeu.
SV/dpa/afp/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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