Em
fevereiro de 2006, comentei a pretensão de países muçulmanos que
queriam criar uma cláusula contra a blasfêmia nos estatutos do novo
Conselho de Direitos Humanos da ONU. Os 57 países que integram a OIC
(Organização da Conferência Islâmica) pediram a inclusão de um parágrafo
para "prevenir casos de intolerância, discriminação, incitação ao ódio e
à violência, gerados por ações contra religiões e crenças".
A
blasfêmia, de pecado, infração que diz respeito a teólogos, passaria a
ser crime punido pela legislação. Os muçulmanos, cujo calendário começou
em 622 da era cristã, queriam nada mais nada menos que arrastar a
Europa de volta à Idade Média, onde discussões sobre o destino do
prepúcio de Cristo podiam levar um homem à fogueira.
Em fevereiro
de 2009, os muçulmanos conseguiram oficializar esta volta à Idade
Média. Naquele mês, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas
(ONU) aprovou uma resolução que condena a difamação religiosa e passa a
considerar o ato como uma violação aos direitos humanos. O documento
também pede que governos adotem leis protegendo as religiões de ataques.
Que
é ataque a uma religião? Será ataque afirmar que Jeová era um deus
genocida, que ordenava aos judeus exterminar as tribos que habitavam a
Cananéia? Será ataque afirmar que Maomé era um pastor analfabeto que
expandiu o Islã a ferro e fogo? Que era um pedófilo que assumiu como sua
mulher uma menina de nove anos? Escrever sobre história passou a ser
crime.
Na Finlândia já é. De uma boa amiga que mora em Vaasa,
recebo notícias de Jussi Halla Aho, membro do Helsinki City Council e um
dos pioneiros no país a falar contra a imigração 'humanitaria',
principalmente muçulmana. Em 2009, ele foi processado pelo Estado por
blasfêmia e por incitar contra uma etnia ou raça.
- Essas leis
violadas por ele são novas – diz minha correspondente - e foram feitas
pra aplacar os ânimos dos cabeças de toalha, claro. Não me lembro
exatamente que textos do blog se enquadraram nessas leis, mas lembro
que ele chamou o profeta Mohammed de pedófilo. Em outro texto, em
resposta a uma esquerdinha idiota que disse que bebedeiras e brigas são
características genéticas dos finlandeses, ele escreveu que então viver
de seguro social e assaltar pessoas nas ruas são características
genéticas do somalis. Após o julgamento, ele foi condenado por
blasfêmia, e multado em cerca de 300 euros. De incitação contra uma
etnia ou raça, ele foi absolvido. Só que agora o promotor, um dos
maiores puxa-sacos dos muçulmanos no país, vai apelar para o Supremo
Tribunal. Vamos ver no que dá.
A Finlândia rendeu-se
definitivamente ao lobby muçulmano, que teve o aval da ONU em 2009. Mas
console-se, caríssima. Na Irlanda, o jogo é mais duro. A partir do
início do ano passado, todo irlandês que pronuncie uma blasfêmia
arrisca-se a uma multa que pode chegar aos 25 mil euros. Desconheço
legislação que puna alguém tão rudemente por pronunciar algumas
palavras. É a Europa seguindo as recomendações da ONU.
Uma Lei
da Difamação entende a blasfêmia como "uma expressão tremendamente
abusiva ou insultuosa em relação a um assunto considerado sagrado por
qualquer religião, causando indignação perante um número substancial de
seguidores dessa religião".
Evidentemente, só haverá punições
quando as blasfêmias se referirem ao Islã. Já que o velho deus cristão
vem sendo insultado há séculos. Proibir insultos a Jeová seria proibir a
edição de monumentos como Nietzsche ou Voltaire.
Na Irlanda, o
discurso que a deputada Ayaan Hirsi Ali, do Parlamento holandês,
pronunciou em Berlim, lhe valeria não poucos dissabores jurídicos.
Eu penso que o profeta Maomé errou em subordinar as mulheres aos homens.
Eu penso que o profeta Maomé errou ao decretar que é preciso assassinar os homossexuais.
Eu penso que o profeta Maomé errou ao dizer que é preciso matar os apóstatas.
Ele errou ao dizer que os adúlteros devem ser chicoteados e lapidados, e que os ladrões devem ter as mãos cortadas.
Ele errou ao dizer que os que morrem por Alá irão ao paraíso.
Ele errou ao pretender que uma sociedade justa possa ser construída sobre essas idéias.
Disse
a deputada algo errado? Do ponto de vista do Ocidente, está coberta de
razão. Mas agora dizer verdades constitui crime. A Irlanda e a Finlândia
estão ignorando solenemente o acórdão Handyside, de 1976, reconhecido
pela Corte Européia de Direitos do Homem. Que declara:
“A
liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou idéias
acolhidas com favor, mas também para aquelas que ferem, chocam ou
inquietam o Estado ou uma fração qualquer da população. Assim o querem o
pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem o qual não
existe sociedade democrática”.
O que a ONU propôs – e que algum
países europeus começam a aceitar - é uma Idade Média total. Se na Idade
Média eram proibidos apenas os livros e autores que contestavam a
Igreja de Roma, a entidade agora quer a proibição de qualquer livro ou
autor que conteste toda e qualquer religião.
Lenta e inexoravelmente, a Europa vai se dobrando de joelhos ao obscurantismo do Crescente.
Fonte: Blog do JANER CRISTALDO
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