Uma estação de serviço em Nova Deli.
AFP
O forte crescimento dos países em desenvolvimento
faz subir os preços das matérias-primas e dos combustíveis. Assim, são
eles que agora ditam o ritmo da economia mundial. E a Europa, entre
austeridade e desemprego, tem dificuldade em progredir.
Enquanto as economias ocidentais se arrastam, a China, a
Índia e o Brasil estugam o passo. Hoje, são os países em desenvolvimento
que ditam o ritmo da economia mundial e determinam os preços
internacionais. Resultado: uma tendência geral para o aumento dos
preços, no pior momento para as economias dos países ricos, que correm o
risco de ter de aguentar o duplo fardo de um desenvolvimento anémico e
uma inflação galopante.
Os preços das matérias-primas – do algodão ao açúcar ou à borracha –
não cessa de subir, desde há meses. E agora que também subiram em flecha
os valores do petróleo – o rei das matérias-primas, dado o seu impacto
mais direto na economia – disparam os sinais de alarme.
Escalada do barril de crude
Nos Estados Unidos, o crude atinge quase os 90 dólares por barril e,
na Europa, passa dos 95 (70 euros), ou seja, mais de 15% num ano.
Aproximamo-nos perigosamente dos 100 dólares, número considerado por
muitos um limiar psicológico para lá do qual se iniciará o círculo
vicioso da especulação financeira, hoje particularmente bem munido
graças à abundante liquidez disponibilizada pelos bancos centrais. Como
em 2008, quando o preço do barril escalou até aos 140 dólares.
A AIE
– Agência para a Energia da OCDE, a organização dos países ricos – está
consciente de que este novo aumento dos preços do petróleo tem já
pesadas consequências para as economias mais desenvolvidas. A fatura
petrolífera que os 34 países da OCDE pagam aos países exportadores
aumentou 200 mil milhões de dólares (mais de 150 mil milhões de euros)
em 2010, atingindo os 600 mil milhões de euros: para importar crude, os
países ricos gastaram, no ano passado, mais um terço do que em 2009.
Com efeito, de acordo com a AIE, entregaram aos príncipes do petróleo
mais meio ponto percentual do PIB, num momento em que este mal consegue
crescer. Se esta corrida continuar, vão ter de enfrentar o abismo da
recessão. "A fatura das importações petrolíferas torna-se uma ameaça
para a recuperação económica", avisa Fatih Birol,
economista da AIE. É a mensagem dirigida à OPEP, a organização dos
países exportadores de petróleo bruto que, nas últimas semanas, rejeitou
todos os apelos a um aumento da produção.
Aumento dos bens essenciais, carne ou pão, aos "jeans"
Se a incógnita do petróleo refinado lançou uma sombra inquietante
sobre a economia dos próximos anos, o aumento do produto em bruto é,
contudo e no imediato, apenas a maior nuvem no horizonte. Quase todas as
matérias-primas estão a subir de preço, a começar pelos géneros
alimentares básicos.
Não é de temer no imediato uma nova crise alimentar como a de 2007-2008, porque os stocks
são relativamente abundantes, mas os efeitos sobre os preços fazem-se
já sentir. O índice dos preços alimentares da FAO aumentou 4,2% em
apenas um mês, entre novembro e dezembro de 2010. Está já a um nível
mais elevado do que em 2008, devido ao aumento dos preços do trigo, do
açúcar e da carne. O preço do algodão também atingiu um nível recorde.
O que está a acontecer nos mercados mundiais prefigura, pois, um 2011
duro e difícil para os consumidores, sobretudo no Ocidente. Neste
período em que o desemprego é elevado e os rendimentos estão estagnados,
os aumentos vão generalizar-se: a gasolina ficará mais cara, tal como o
gás (cujo preço, na Europa, é indexado ao do petróleo). Os grandes
distribuidores anunciam já aos retalhistas que os preços dos produtos
correntes – carne, pão ou jeans – vão também subir bastante. A situação vai complicar não apenas os orçamentos das famílias, mas também os dos Estados.
Europeus arriscam-se a perder a camisa em 2011
Um aumento significativo dos preços tem necessariamente por corolário
uma subida da inflação. Em dezembro, na zona euro, os preços aumentaram
2,2% em relação ao ano precedente. Muito mais do que o esperado, e
sobretudo acima do limiar dos 2% que o Banco Central Europeu queria
manter. De facto, num contexto diferente, o BCE já teria subido as taxas
de juro, para conter os preços.
Se ainda não o fez, foi para não estrangular a recuperação económica
(muito fraca, exceto na Alemanha) e, provavelmente, porque um aumento
das taxas de juro tornaria ainda mais difícil e dispendioso o
financiamento da dívida pública dos países fracos da zona euro – Grécia,
Espanha, Bélgica ou Itália. Contudo, se a inflação não parar, os
alemães exigirão ao Banco Central um aumento das taxas de juro. Os
europeus correm o risco de perder a camisa em 2011 e a Europa está à
beira de uma nova crise financeira e política.
Comércio
Desorganização europeia
Mais uma vez, a Europa tem dificuldade em encontrar uma
posição comum para limitar as aquisições de empresas europeias por parte
dos investidores de países emergentes, em particular a China, observa Le Monde.
Apoiadas pela França, as iniciativas dos Comissários Europeus Michel
Barnier e Antonio Tajani, enfrentam a hostilidade alemã (a Alemanha é
fortemente dependente das exportações), britânica e escandinava
relativamente a qualquer tipo de medidas protecionistas. A nível
industrial, prossegue o diário francês, essa divergência traduz-se na
ausência de uma verdadeira política europeia quer se trate do imposto
sobre as emissões de carbono, dos padrões tecnológicos para veículos
elétricos ou do apoio à indústria automóvel. No entanto, os Vinte e Sete
concordam que seria desejável uma maior reciprocidade nas relações
comerciais – em particular nos mercados públicos – com os “BRIC"
(Brasil, Rússia, Índia e China), cujas empresas "beneficiam de ajudas
governamentais para conseguirem conquistar mercados na Europa e resgatar
as suas tecnologias".
Fonte: LA REPPUBLICA/PRESSEUROP
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